Nem só de bilheteria vive um filme. Cada burburinho de bastidor é usado como propaganda para que o título seja aguardado com ansiedade e para dar aquele empurrãozinho na temporada de prêmios. Se você acha que as seguidas notícias de Jared Leto e sua loucura em “Esquadrão Suicida” ou que a escolha da protagonista da versão de David Fincher para a série “Millenium” foram apenas notícias aleatórias, sinto lhe informar: elas fazem parte de uma grande estratégia de marketing de estúdios para movimentar o boca-a-boca sobre os filmes. E por que estou falando isso em um texto sobre o segundo episódio de “Feud”? Bem, porque essa prática, já antiga, foi usada à exaustão por Jack Warner durante as filmagens de “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, com o apoio das colunistas Luella Parsons e Hedda Hopper, esta última já apresentada no primeiro episódio da série. E essa guerra que usou Joan Crawford e Bette Davis como massa de manobra é o foco de “The Other Woman”.

Os contrastes entre as personagens femininas e os homens da história ganharam ainda mais cores neste segundo episódio. Ganha espaço a relação entre o diretor Robert Aldrich (o sempre competente Alfred Molina) e a esposa Harriet (vivida com firmeza por Molly Price). Molly não quer saber do jogo sujo de Hollywood, enquanto o marido, um diretor decadente, se sente pressionado a participar do disse-me-disse plantado por Jack Warner para dar ainda mais burburinho a “Baby Jane”. Ao que ele compara Joan e Bette com astros que nunca o desafiariam, da boca de Harriet vem a verdade mais dura da série (até agora): “ Eles não precisam. Eles são homens”, diz.

Os encontros e desencontros de Aldrich com as duas estrelas são explorados em “The Other Woman”. Revoltada por ouvir de uma atriz coadjuvante de “Baby Jane” que é a atriz favorita de sua avó (um dos maiores pavores de Joan), a intérprete de Blanche consegue, com a ajuda de Bette, retirar a jovem da película. Essa é a única trégua nos 40 minutos de episódio. Dali em diante, as duas disputam as atenções do diretor, sem saber que ele, junto a Warner, estão mexendo pauzinhos nos bastidores para fazer a rivalidade delas ganhar as páginas de jornais.

Mais uma vez, a montagem de “Feud” consegue levar ao público os paralelos das duas estrelas. Prova disso é a simetria das reações das duas atrizes ao verem seus nomes nas colunas de Hopper e Luella. A entrada de Bette Davis no estúdio após ler que Joan havia dito que ela parecia sua mãe, em especial, é digna de memes. Assim como no primeiro episódio, a montagem também é eficiente com os flashbacks, onde a boa vontade e a suspensão da descrença nos levam às origens da rivalidade entre Bette e Joan.

E se no primeiro episódio Jessica Lange foi agraciada com as cenas mais interessantes, aqui ela continua bem, mas Susan Sarandon começa a mostrar as garras e os “Bette Davis eyes”. A briga de Bette com a filha adolescente tem um ótimo desempenho de Kiernan Shipka, atriz que cresceu aos olhos do público na série “Mad Man”. No entanto, é Sarandon que brilha ao mostrar a dor de uma mulher solitária e em busca de realização profissional ao mesmo tempo que tenta ser uma boa mãe e toda a culpa que isso provoca. Ah, falando em filhos, houve uma pequena menção aos de Crawford – será que teremos deja-vu de “Mamãezinha Querida?”

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“Feud” segue como um grande manifesto do que é ser mulher, mãe e profissional ao mesmo tempo e de como as cobranças às mulheres não mudam. A série pontua isso com uma comparação posterior a duas atrizes dos anos 1970, mas há de se colocar estrelas dos anos 1980, 1990, 2000 e dos dias de hoje. Ainda por cima, há de se manter interessante para continuar atraindo os tablóides e, assim, conseguir trabalho. É uma longa estrada.