Se os três primeiros episódios de “Feud” já jogaram na roda o machismo e o preconceito contra atrizes mais velhas, o quarto capítulo da série foi definitivo ao retratar o lançamento de “O Que Teria Acontecido a Baby Jane” e todo o desenrolar da carreira de Joan Crawford e Bette Davis após a estreia do filme. Novamente, o trabalho do elenco esteve afiado ao passo que mais uma coadjuvante ganhou espaço para brilhar.

A coadjuvante em questão é Allison Wright, que vive a assistente do diretor Robert Aldrich, Pauline. Braço direito de Aldrich e para-raios de todas as crises entre Davis e Crawford durante as filmagens de “Baby Jane”. Vale ressaltar que Pauline é um personagem fictício, o único em “Feud”. Ou seja, sua participação na trama foi um exercício de consciência por parte de Ryan Murphy e sua trupe. A inserção de uma personagem que não apenas almeja dirigir um filme, como escreve o próprio roteiro e toma todas as decisões para que isso aconteça, é um manifesto importante sobre o atual estado da indústria.

O time de Murphy fez a lição de casa direitinho. O episódio 4 de “Feud” é uma aula de cinema for dummies, com diálogos que explicam a “evolução” da mulher na sétima arte, das diretoras do cinema mudo às especialistas em trabalhos “manuais” que foram aparecendo depois. Por isso, a aparição de Pauline faz um grande contraponto, já que é ela a única a estender a mão a uma Joan Crawford rejeitada pelos estúdios, a despeito do sucesso de público de “Baby Jane”. Atriz que iniciou a carreira ainda no cinema mudo, Crawford é a primeira a desacreditar Pauline. Ao explicar à aspirante a diretora que as suas antecessoras nos anos 1910 e 1920 eram contratadas por questões financeiras e dizer que, em pleno 1962, ninguém contrataria uma mulher, Crawford faz de “Feud” uma série bastante atual. Em um tempo que vemos diretores medíocres contratados após apenas um ou dois filmes e uma mulher precisar se provar a cada título lançado, as palavras da personagem de Lange parecem saídas da boca de um figurão qualquer dos estúdios nos dias de hoje.

Mentor de Pauline, Robert Aldrich é mais um exemplo do machismo da indústria cinematográfica. Após o sucesso de “Baby Jane”, ele se recusa a dirigir filmes parecido e pede a chance de comandar um western carregado de testosterona. Aí vem mais um dos grandes momentos da série: a diferença com que Aldrich lidava com os conflitos entre Crawford e Davis e a forma com que ele cedia aos ataques de estrelismo de Frank Sinatra, que era infinitamente (e literalmente) mais agressivo que as duas atrizes. Nada novo sob o sol.

Alguns dos momentos mais cruéis dos 40 e poucos minutos de episódio são protagonizados por Aldrich, inclusive. Vemos o diretor hipócrita que não quer mais dirigir filmes “com atrizes” prometer um grande papel a uma desacreditada Bette Davis. Minutos depois, voltamos ao drama de Pauline e sofremos com ela ao perceber que o seu mentor, seu professor, nada mais é que apenas mais um machista na indústria.

O próximo episódio de “Feud” abordará a infame cerimônia do Oscar onde a esnobada Crawford dá um jeito de roubar a cena de Davis. A cena da “esnobada” à primeira, nos segundos finais do episódio, foi um aperitivo para nos deixar ainda mais ansiosos para o capítulo seguinte dessa saga.