Na quinta-feira, 25, estreia, em todo o Brasil, o décimo primeiro filme da franquia ‘Halloween’. O longa, dirigido por David Gordon Green (‘Segurando as Pontas’), colocará frente a frente, novamente, a dupla Michael Myers e Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) – 40 anos após os eventos do filme de John Carpenter, que deu origem à celebrada série de terror.

Teoricamente, trata-se de uma sequência direta do clássico de 1978, ignorando todos os outros longas da franquia. Decisão semelhante já havia sido tomada com ‘Halloween H20: Vinte anos depois’ (1998), que levava em conta somente as duas primeiras – e melhores – partes da extensa série.

No entanto, mesmo com narrativas completamente diferentes, pode-se afirmar que ‘H20’ e o novo ‘Halloween’ tiveram um ponto de partida semelhante, quiçá o mesmo: o de reunir dois dos maiores ícones do terror slasher. Diferentemente de outras franquias de sucesso do gênero – como ‘Sexta-Feira 13’ e ‘A Hora do Pesadelo’, para citar algumas – ‘Halloween’ possui um trunfo que vai além de seu assassino mascarado: a ora babá, ora diretora de colégio interno e, atualmente, versão suburbana de Sarah Connor Laurie Strode.

Chegou a um ponto em que a presença da personagem se tornou tão indispensável quanto a de seu antagonista. Não à toa, o embate entre a dupla rendeu aos fãs os três melhores longas da franquia (‘Halloween’, ‘Halloween 2: O pesadelo continua’ e ‘H20’) – e a ausência da personagem, os piores.


A ‘mãe’ das final girls

Jamie Lee Curtis possui inúmeros papeis marcantes ao longo da carreira, porém, é seguro afirmar que nenhum chega aos pés de Laurie Strode. Felizmente (ou infelizmente, dependendo do ponto de vista), ela será para sempre lembrada como a outra metade de Michael Myers – em uma espécie de yin-yang do universo slasher.

Quarenta anos após o seu surgimento, a personagem segue como fonte de inspiração para versões mais tronchas de heroínas do terror. Desta extensa lista, uma ressalva para a Sidney Prescott de Neve Campbell, em ‘Pânico’.

Além de reunir todas as características que se espera de uma final girl, Prescott carrega consigo uma carga dramática e pessoal que se estende aos quatro filmes da franquia de Wes Craven. Ela não foi escolhida casualmente por (olha o spoiler!) Billy, Debbie, Roman ou Jill. É a história familiar da heroína que puxa a narrativa da série – mesmo com a variação de assassinos.

O mesmo se aplica a Strode. Apesar de não estar em todos os longas, a trágica história de sua família e de Michael se faz, de alguma forma, presente em toda a franquia. No fim das contas, esse elo pessoal que une os personagens acaba sendo mais importante para a trama que, propriamente, a carnificina destas produções.

Outra semelhança entre a dupla de final girls é a capacidade de reinvenção (créditos, aqui, aos roteiristas). Em cada capítulo, o público se depara com uma nova faceta de Prescott e Strode – preservando, sempre, a essência das heroínas. É interessante acompanhar como toda narrativa tem um impacto na maneira como as protagonistas se mostram na continuação seguinte.

Peguemos a mocinha de ‘Pânico’, por exemplo. Ela vai de típica heroína do subgênero slasher a uma mulher frágil e reclusa, que se isola da sociedade com medo de que sua existência resulte em mais assassinatos. Após os acontecimentos de ‘Pânico 3’, entretanto, ela se desvencilha da imagem de vítima e se torna uma escritora de autoajuda de sucesso.

Com Strode não é diferente: depois de sobreviver a dois ataques de Michael Myers, ela forja a própria morte, deixa Haddonfield e passa administrar um colégio interno para meninos e meninas, em ‘H20’. Na sequência seguinte, AKA a bomba ‘Halloween: Ressurreição’ (2002), encontramos a personagem internada em um hospital psiquiátrico, devido a um erro que cometeu – e que acabou tirando a vida de um homem inocente.

Final girls 2.0

Mesmo criadas em décadas distintas, Laurie Strode e Sidney Prescott se veem amarradas a um estereótipo de mocinhas de filme de terror – e não escrevo isso como forma de crítica. Mas, antigamente, era difícil os estúdios abrirem mão do que se esperava de uma protagonista para as produções do gênero.

Hoje em dia, no entanto, tornou-se comum vermos heroínas que fogem à receita dessas referências. Para encabeçar um longa de terror, atualmente, não é necessário vestir a carapuça da jovem virgem, ingênua e politicamente correta. Não existem mais regras e fórmulas.

Com este novo cenário, abriu-se um leque variado de final girls que, mesmo com um pezinho nas matriarcas (Strode e Prescott), deram nova cara – e gás – ao tradicional título de heroína do gênero.

Confira:


3. Erin, de ‘Você é o próximo’ (2011)

No slasher dirigido por Adam Wingard (‘Death Note’), uma família aproveita uns dias de descanso em um local deserto quando homens mascarados invadem a casa com a intenção de matá-los. Porém, para o azar dos assassinos, uma das vítimas em potencial, Erin (Sharni Vinson), não é a típica donzela indefesa.

Ao longo da história, descobrimos que ela, que namora com um dos herdeiros do clã, foi criada em uma família de preppers, uma espécie de movimento norte-americano onde seus membros são treinados para um possível apocalipse. Desta forma, usando somente a sua criatividade, a heroína não apenas se salva como, também, elimina os invasores, um a um.


2. Tree, de ‘A morte te dá parabéns’ (2017)

Não seria exagero depositar parte do sucesso de ‘A morte te dá parabéns’ na sua protagonista, a jovem Tree (Jessica Rothe). Logo no início do filme, comandado por Christopher B. Landon (do subestimado ‘Como sobreviver a um ataque zumbi’), percebemos que a mocinha não é lá o melhor exemplo de ser-humano: mimada e egoísta, Tree mantém uma vida regada a festas e álcool – além de manter um relacionamento com um professor casado.

Entretanto, a partir do momento em que passa a reviver, diariamente, o dia da sua morte, a personagem se vê ‘obrigada’ a mudar – caso queira descobrir a identidade do assassino que, dia após dia, arranja um jeito de matá-la. Este arco de redenção resulta nos melhores momentos do longa e parte disso se deve à irreverência de sua final girl.

1. Mia, de ‘A morte do demônio’ (2013)

Neste remake do clássico homônimo de Sam Raimi, Mia (a ótima Jane Levy), uma jovem viciada em drogas, convoca o irmão e amigos para passar um fim de semana no rústico chalé da família. Já no local, ela celebra uma espécie de ‘ritual de limpeza’, onde se livra do seu estoque de entorpecentes e promete uma vida nova a partir de então. No entanto, quando um dos membros da turma descobre o Livro dos Mortos e, acidentalmente, invoca espíritos demoníacos, Mia é possuída – passando, quase todo o filme, trancafiada no porão.

Até os últimos instantes do longa, a morte da personagem é dada como certa. Afinal, os únicos meios de se livrar da entidade e salvar a alma da jovem resultam na morte de Mia. Então, em um inesperado plot twist, a mocinha, com a ajuda do irmão – até o momento, o herói da trama –, não apenas consegue se livrar da força sobrenatural como, também, torna-se a única sobrevivente do grupo.

Em uma sequência para nenhum fã do gênero botar defeito, Mia se desprende de toda a sua fragilidade, apresentada no início do filme, e se transforma numa verdadeira ‘máquina de matar’. Se ser possuída, morrer, ressuscitar e voltar como uma heroína disposta a arrancar o próprio braço para sobreviver não for digno de uma final girl 2.0, então eu não sei o que é.