Filmes de assalto sempre renderam produtos charmosos no cinema. De Butch Cassidy (1969), passando por Bonnie & Clyde –Uma Rajada de Balas (1967) do mestre Arthur Penn até chegar ao recente remake de Onze Homens e um Segredo (2001), todas são obras elegantes com direito a assaltantes inteligentes e grandes golpes. Nas comédias este subgênero se utiliza do inverso desta proposta com ladrões atrapalhados e golpes bagunçados. São exemplares cada vez mais raros de se encontrar no cinema americano e por isso quando aparece um trabalho como Gênios do Crime, ele acaba por atiçar nossa curiosidade em conferir, ainda mais por conta do elenco de grandes comediantes.

O resultado final do filme supera a sensação caricata que o trailer pastelão indicava – quem vai muito ao cinema lembra de tê-lo visto no começo do ano, mas a produtora por motivos nunca informado adiou o seu lançamento até finalmente soltá-lo no final do mês passado – e mesmo que não apresente nenhuma novidade, passa longe de ser um desastre completo.

O roteiro, baseado numa história real, conta a história de Dave Ghantt (Zach Galifianakis) que trabalha em uma empresa de segurança que transporta milhões de dólares em carros-fortes. Mesmo noivo e de casamento marcado com Jandice (Kate McKinnon), ele se apaixona pela colega de trabalho Kelly (Kristen Wiig). Depois de ser despedida, Kelly se envolve com o Steve Chambers (Owen Wilson), um trapaceiro e vigarista de marca maior que a convence a jogar seu charme para cima de Dave para que ele ajude a roubar os 17 milhões de dólares do seu trabalho. Devido ao amor que sente por Kelly, Dave aceita a proposta e resolve ser o peão do crime de assalto.

Gênios do Crime diverte muito mais pelo elenco afinado e o seu peculiar e excêntrico humor – raro de se encontrar atualmente – do que pelo fato de ser uma comédia que busca tirar uma gargalhada honesta ou espontânea do espectador. Grande parte desta estranheza, provém da direção de Jared Hess que em 2004 lançou o cult superestimado Napoleão Dynamite e dois anos depois o divertido Nancho Libre, duas obras excêntricas que se destacavam por suas tramas insólitas e repletas de peculiaridades.

Em seu novo filme, Hess investe no estilo novelesco – Gênios é filmado na forma de uma novela popular caricata – com vários elementos que vão do vulgar ao peculiar. Neste sentido quando o filme flerta com o humor grosseiro e cafona, consegue produzir o riso com facilidade até por sentir-se à vontade dentro de um terreno cômico a qual domina com facilidade. Boas gargalhadas são dadas nas sequências de fuga de David Ghantt travestido para o México e nas cenas que fazem uma bela combinação com a reconstituição da época na qual o filme ocorre (o final da década de 90) que se destaca pela fotografia de cores sempre fortes pontuadas pelo divertido figurino de Sarah Edwards, hábil em captar toda cafonice daquela época.

O problema é quando Hess precisa dominar aquilo que não possui o mínimo tato para lidar e todo o enredo da comédia de assalto e ação evidencia as suas limitações. Por mais que se aproprie de um evento real – um dos grandes roubos da década de 90 nos EUA – o diretor o transforma em farsesco com o intuito de rir, mas em nenhum momento obtém um resultado eficiente neste quesito. Mesmo fazendo referências e homenagens aos filmes de gênero como são as citações a Butch Cassidy (trilha sonora) e a Bonnie & Clyde –Uma Rajada de Balas (o romance de David e Kelly), Hess jamais consegue realizar uma transição adequada entre as mais variadas tramas que aparecem aqui: a comédia, o filme policial, o romance e a ação. É uma mistura estranha que até diverte, porém jamais decola no entretenimento.

O roteiro escrito a três mãos por Spivey, Bowman e Palmer também desperdiça subtextos interessantes como a crítica ao sonho americano, elemento que até o criticado Michael Bay, soube até trabalhar de forma espirituosa e dramática em melhor escala no subestimado Sem Dor, Sem Ganho (2013) cuja sinopse e argumentos guardam boas semelhanças com Gênios do Crime. Outra situação que o roteiro não aproveita é o romance de David e Kelly que graças aos seus intérpretes poderia oferecer mais dinamismo a narrativa, contudo o roteiro da metade para o final desperdiça a personagem de Wiig.

Falando no elenco, ele é responsável pela forte identificação que nos faz conecta-se ao filme. Zach Galifianakis mesmo preso ao padrão de personagem estereotipado que Hollywood adora apresentá-lo – o sujeito burro e ingênuo – o ator continua carismático no seu timing cômico de se expressar e explorar o seu visual estranho. A forma como representa David aceitando participar de um grande roubo apenas pelo amor que sente por uma mulher o deixa sensacional até porque sua química em cena com Wiig – quando o roteiro permite – funciona muito bem.

 O restante do elenco que conta com Owen Wilson e Jason Sudeikes funcionam bem dentro dos personagens estereotipados. Só que o destaque fica para a coadjuvante Kate McKinnon, como a noiva de David que rouba todas as cenas em que aparece – situação semelhante da atriz no recente reboot de Caça-Fantasmas. Falando nele, faltou apenas Melissa McCarthy para integrar o elenco feminino de amigas, já que além de Wiig e McKinnon, o filme conta com a participação de Leslie Jones.

Gênios do Crime está longe de apresentar grandes piadas ou um humor interessante, ousado. Porém, apresenta um tipo de comédia peculiar do cinema americano de retratar seu interiorano como um idiota que faz grandes idiotices pelo amor. Seduz pelo seu estilo excêntrico e o humor nonsense que encontra um elenco em sintonia para reproduzi-lo. Talvez, o fato de acompanharmos tanto absurdos e situações insólitas permitem o filme ser um entretenimento escapista, ainda que esquecível.