Assim que “Goosebumps: Monstros e Arrepios”, baseada na longeva série de livros infantis de R. L. Stine, começa, acompanhamos um carro que presumimos (certamente) conter nosso protagonista percorrer uma vasta área verde. Com um tema composto por Danny Elfman ao fundo, este poderia ser o início de qualquer episódio da série de TV que também adaptou os livros no meio dos anos 90, contrastando um cenário aparentemente tranquilo com uma música que nos indica que o foco da frase é o “aparentemente”.

Se há um trunfo nesta adaptação de Scott Alexander e Larry Karaszewski são as referências ao material-base que a dupla traz ao filme, a começar pela trama que, ao invés de simplesmente adaptar um dos trocentos livros da série, opta por uma abordagem mais meta. A aventura longa, em resumo, é a de Zach (Dylan Minnette), Hannah (Odeya Rush), Champ (Ryan Lee) e o próprio R. L. Stine (Jack Black) na busca de capturar os monstros criados pelo escritor, mantidos magicamente presos nos manuscritos de seus respectivos volumes e postos à solta por acidente.

Para quem tem familiaridade com a obra de Stine ou com a série de TV, o filme provê inúmeras chances de relembrar personagens e situações, quase como uma versão infantil de “O Segredo da Cabana” (2012). Como nele, no entanto, no processo de homenagear, “Goosebumps” se distanciar da intenção primordial de seu material-base, assustar. “Segredo” se salva pela estética quase quadrinesca e pelo fato de não derivar apenas de uma fonte, dificultando a percepção de que ele não respeitou o legado de série X, Y ou Z de terror; “Goosebumps” não tem a mesma sorte.

Temos, então, um dilema: como aventura e homenagem ao universo “Goosebumps”, o longa de Rob Letterman (em sua terceira colaboração com Jack Black) até funciona, ao custo da atmosfera realmente assustadora da série de livros e de TV. Além disso, a decisão de fazer os personagens principais adolescentes, potencialmente motivada pela necessidade mercadológica de tentar atrair esse público e da necessidade dos blockbusters americanos de ter um casal de protagonistas bonitos para pôr em capas de revista, sai pela culatra.

Por mais bonita que seja a mensagem geral da empreitada, a de que todos nós podemos transcender através da ficção, o roteiro murcho e formulaico não vinga e sua resoluta pressa impede nosso envolvimento total na história. Por exemplo, como raios um menino que mal consegue se relacionar com a mãe depois da morte do pai se apaixona perdidamente por uma garota depois de um encontro e topa invadir uma casa por causa dela logo em seguida? Poderia suscitar mais perguntas desse tipo, mas não conseguiria evitar os spoilers.

De maneira geral, “Goosebumps” se apresenta com um filme apenas OK, em que o CGI não atrapalha e o elenco não estraga tudo, mas que representa uma oportunidade perdida em trazer o real espírito da obra de R. L. Stine para as telonas. Para conferi-lo, a pedida é ir atrás mesmo dos livros e do seriado.