Tudo bem que Harrison Ford atravessa um “inferno astral” terrível no que consiste a sua carreira cinematográfica. Com exceção de Despertar da Força (ótimo) e Os Mercenários 3 (uma diversão razoável), o astro tem realizado escolhas equivocadas nas últimas décadas que ajudaram a deixar sua filmografia um tanto quanto irregular. Apesar disso, Mr. Ford ainda é visto como um ícone da cultura pop e seu nome sempre ligado às franquias milionárias de Hollywood.

Considerado um dos mais carismáticos heróis que o cinema americano de aventura produziu, o ator praticamente é, para a geração dos anos 80, a personalidade que melhor definiu o herói na sua essência cinéfila. Por isso, o Cine Set presta sua homenagem ao ídolo pelos seus 74 anos completados nesta quarta-feira (13), listando os 10 melhores personagens da sua carreira.

10. Presidente James Marshall – Força Área 1

A lista começa com um guilty pleasure: Força Área 1 (1997), clássico ordinário do cinema de ação que tive o prazer de ver na tela grande. Nele, o astro é nada menos que o próprio presidente dos EUA, que combate os terroristas que invadiram o seu avião presidencial. Em tempos de Trump, eu preferiria ter Marshall ao meu lado para enfrentar o terrorismo soviético. Ford constrói o líder de uma nação com tranquilidade e dignidade e jamais foge da porrada quando exigido. Além dos ótimos momentos de ação, o elenco conta ainda com Glenn Close como a vice-presidente dos EUA e Gary Oldman no papel de terrorista. Serve para mostrar que a Hollywood de hoje realmente perdeu a capacidade de fazer blockbusters divertidos.

9. Rusty Sabich – Acima de Qualquer Suspeita

Drama de tribunal com toques de suspense dirigido pelo mestre Alan J.Pakula. Acima de Qualquer Suspeita (1990) serve para observar o ator em um dos papéis mais contidos da sua carreira, o promotor Rusty, acusado do assassinato da amante. Ford se despe do seu carisma natural para mostrar um homem inseguro e perdido dentro de uma conspiração nos bastidores políticos. Um dos raros papéis do ator mais voltado aos aspectos da fragilidade humana.

8. Norman Spencer – Revelação

Habituado em interpretar mocinhos, o ator surpreendeu no suspense Revelação (2000), dirigido por Robert Zemeckis, ao interpretar Norman Spencer, um marido que esconde segredos obscuros do seu passado. Mesmo que Michelle Pfeiffer brilhe em cena, Ford acerta na composição ambígua e contraditória do seu personagem – elementos que crescem ainda mais pelo fato de termos, incutida na nossa mente, a imagem de herói do ator. Uma pena nunca ter aprofundado este tipo de personalidade na sua carreira.

7. Jack Trainer – Uma Secretária de Futuro

Bela comédia romântica dos anos 80 dirigida pelo finado Mike Nichols, o rei das relações interpessoais. Ford, mesmo coadjuvante, é responsável pelas melhores cenas de humor do filme. Ainda tem tempo de destilar charme, sedução e carisma ao lado da impecável Sigourney Weaver.

6. John Book – A Testemunha

Se alguns alegam que Harrison Ford não é um grande ator e sim um ator carismático, A Testemunha (1985), de Peter Weir, serve para comprovar que a teoria é infundada. Como o policial John Book, que precisa proteger uma criança amish que testemunhou um crime, o ator apresenta uma interpretação minimalista, introspectiva e cheia de sensibilidade. É um filme com a cara da década de 80, cuja interação do Ford com a musa da época, Kelly McGillis, é pontuada por ótimos olhares. Ganhou o Oscar de melhor roteiro original e montagem e foi a única indicação do ator ao Oscar.

5. Rick Deckard – Blade Runner – O Caçador de Andróides

É notório que o astro não morre de amores pelo filme e teve suas divergências com o diretor Ridley Scott nas filmagens, mas seu caçador de androides Rick Deckard ajudou a consagrá-lo fora do cinema comercial americano e mostrar que tinha condições de estrelar produções experimentais e artísticas. Deckard foge do estilo cínico dos personagens que o consagraram na década de 80: é sisudo, introspectivo e pouco carismático aos olhos do público. Pode até ser eclipsado no quesito atuação pelo magistral Rutger Hauer, mas é inegável que até hoje associamos o filme a figura de Ford.

4. Jack Ryan – Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato

Estabelecido como astro do cinema, Ford assumiu o agente da CIA Jack Ryan, faturando milhões nas bilheterias através de Jogos Patrióticos (1992) e Perigo Real e Imediato (1994). O agente, em suas mãos, ganha um toque de refinamento, seriedade e inteligência, dotado de valores familiares para enfrentar o terrorismo mundial. Ford mostra seu talento para transformar Jack Ryan numa escolha interessante, em um período que o cinema de espionagem apresentava a ressaca devido ao limbo Bondiano que 007 enfrentava na década de 90, como também uma espécie de genitor para a futura cria da ação, Jason Bourne.

3. Richard Kimble – O Fugitivo

O Fugitivo foi um arrasa-quarteirão em 1993 que poucos esperavam. Deixou claro que Ford poderia estrelar sucessos mesmo longe das franquias e personagens queridos que ele imortalizou. O ator faz Richard Kimble, um médico acusado injustamente da morte da esposa. Dentro de um suspense crescente e ótimos momentos de ação – a sequência do trem até hoje é espetacular –, Kimble, na pele do ator, ganha uma textura dramática que respira humanidade e carisma, transmitindo ao público a injustiça sofrida pelo personagem. A atuação de Ford funciona muito em razão do ótimo antagonista, vivido com obsessão por Tommy Lee Jones. O Fugitivo é daqueles raros exemplos que narra um suspense-ação imperdível com um astro em sua melhor forma.

2. Han Solo – Série Star Wars

Falar sobre Han Solo no mundo de Star Wars é chover no molhado: personagem queridíssimo pelos fãs e responsável pelas tiradas mais inspiradas na trilogia clássica. Sem dúvida, o papel que o transformou em celebridade e que é desempenhado com puro carisma. Não é à toa que parte da energia de Star Wars cresce quando o astro esta em tela e parte dela esvaziou-se quando presenciamos os acontecimentos dolorosos em O Despertar da Força.

1. Indiana Jones – Trilogia Homônima

Se Star Wars abriu as portas de Hollywood, Indiana Jones solidificou o seu caminho como astro e colocou o personagem no imaginário cinéfilo. Ford utiliza-se de uma ótima composição de elementos para criar sua persona: firmeza, determinação, charme, inteligência e carisma. Transformou o arqueólogo em um dos símbolos da década e moldou o cinema de aventura à sua feição real: carismático, insinuante e descompromissado. Mal podemos esperar para ver o ator nos seus 78 anos voltando a dar vida ao célebre Dr. Jones. A frase “estou velho demais pra isso” não combina para o nosso ícone Ford, mesmo no auge dos seus 74 anos.