Ligue a câmera e comece a falar. Pode ser política, dicas de namoro, games, cultura nerd, esportes, filosofia ou qualquer bobagem em geral. Não precisa ter o melhor enquadramento, nem a melhor luz, o maior conhecimento no assunto ou ser o galã ou a bonitona da vez. A oportunidade de crescer a partir do nada e sem depender de intermediários (emissoras de televisão ou de rádio, espaços publicitários, etc) veio com o YouTube. Felipe Neto, Kéfera, Christian Figueiredo, Whindersson aproveitaram isso e se tornaram nomes tão conhecidos por um determinado público quanto uma Sabrina Sato, William Bonner, Paola Oliveira, Caetano Veloso ou Wagner Moura da vida.

Hoje, os youtubers movimentam uma quantidade de fãs tão grandes que as outras mídias começam a olhar para eles como uma oportunidade de garantir um público para suas marcas. O cinema embarca nesta onda desde o ano passado com “É Fada”, estrelado por Kéfera e o filme da turma do “Porta dos Fundos”,  enquanto, em 2017, já tivemos a cinebiografia de Christian Figueiredo e, agora, a reunião de uma série desses novos astros em “Internet – O Filme”.

Em comum, além da presença de figuras conhecidas da Internet brasileira, é que todos são verdadeiras bombas da produção nacional recente.

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“Internet – O Filme” parte até de uma ideia interessante: pequenas esquetes passadas em um encontro de youtubers dentro de um hotel em São Paulo. Apostar em histórias curtas para quem vem de um meio em que o poder de concisão é fundamental para passar a mensagem e garantir o público, teoricamente, se mostrava um acerto do trio de roteiristas Rafinha Bastos, Dani Garutti e Mirna Nogueira. Infelizmente, porém, a produção não sabe bem o que fazer com tanta gente em cena nem criar absolutamente para cada um deles.

As histórias transitam entre um romance sem graça (Felipe Castanhari e Pathy dos Reis), um louco fã (Paulinho Serra) correndo atrás do ídolo (Rafinha Bastos), um casal perto do divórcio tentando animar a cachorrinha youtuber, um riquinho (Mr. Polladoful) sequestrando um campeão dos games (Rafael Cellbit) para subir no ranking, uma aposta entre amigos (Julio Cocielo, Teddy) para ver quem fica com uma menina obesa (Polly Marinho)…

Já deu para perceber que a criatividade não é a força da parada, né? Para resolver isso, há sempre a tática das piadas com vômitos, privadas, banheiro, peidos para arrancar a fórceps algum tipo de risada do público, além de inserir piadas internas (Felipe Neto é o alvo preferido) e participações especiais que são surreais de tão fracas (Raul Gil, Palmeirinha e os irmãos do hit ‘Para Nossa Alegria’). O ritmo frenético da montagem até respeita os vídeos produzidos no YouTube, porém, quando transferido para a sala de cinema sem a possibilidade de pausa ou baixar o volume, transforma a experiência em uma quase experiência de sadismo. Ninguém riu? Apela para os tradicionais os erros de gravação durante os créditos.

O que mata mesmo, entretanto, “Internet – O Filme” é a falta de espontaneidade dos seus protagonistas. Aqui, com a ajuda de um roteiro nada criativo e sem espaços para improvisações, Castanhari&cia ficam simplesmente presos, tolidos em uma estrutura rígida ao contrário do que faz o sucesso deles no YouTube. Para piorar, o festival de bobagens por milésimos visto em tela sem qualquer traço de inteligência escancara o ar publicitário de promover suas estrelas durante 90 minutos e apostar na fidelidade dos fãs para garantir bons trocados. Tudo isso sem oferecer absolutamente nada em troca.

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Minimizar a importância dos youtubers e tratá-los como um bando de tolos é uma visão pobre, desatualizada e incapaz de perceber as barreiras quebradas por garotos e garotas dentro de seus quartos e com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça*. “Internet – O Filme” , porém, torna quase indefensável qualquer argumentação a favor dessas novas celebridades.

*sério que coloquei uma referência a Glauber Rocha em uma crítica de um filme roteirizado pelo Rafinha Bastos?