A voga recente dos filmes de fantasia, que tentam adaptar enredos clássicos para o gosto da geração dos 140 caracteres, aquela que acende velas para Michael Bay (Transformers) e se deixa seduzir por vampiros que brilham ao sol, atrai mais um diretor talentoso: desta vez é Bryan Singer, o responsável pelos excelentes X-Men da década passada, e que, desde os fiascos de Superman – O Retorno (2006, merecido) e Operação Valquíria (2008, não), viu sua carreira dar perigosos volteios no vácuo. Infelizmente, não é dessa vez que a coisa vai melhorar: com todo o evidente pedigree do diretor na condução da narrativa, a trama tolinha de Jack – Caçador de Gigantes põe o filme a perder.

Essa é, aliás, a principal característica de outras obras com a mesma proposta: do precursor Alice no País das Maravilhas (2010) aos recentes Branca de Neve e o Caçador, Espelho, Espelho Meu, João e Maria – Caçadores de Bruxas e Oz – Mágico e Poderoso, todos se esmeram em fazer evaporar das fábulas originais o mistério e o encanto, restando apenas a ação desenfreada, o exagero de efeitos especiais e, sobretudo, a aridez das caracterizações.

A situação deste Jack até que não é das piores: baseado na fábula João e o Pé-de-Feijão, o filme aproveita bem o seu mote. Jack (Nicholas Hoult, que recentemente estrelou a bomba Meu Namorado é Um Zumbi) é um jovem camponês sonhador que cresceu escutando como o rei Erik, num passado distante, expulsou da Terra um exército de gigantes, confinando-os no céu. Paralelamente, conhecemos a história de Isabelle (a novata Eleanor Tomlinson), a princesa do reino, que é fascinada pela mesma história, e cujo maior sonho é ser dona do próprio nariz, abandonando o protocolo real. Um belo dia, Jack tenta vender seu cavalo para ajudar o tio, e acaba se vendo de posse de uns tais feijões mágicos. Para você completar o quadro, ele é apaixonado por Isabelle, e seu ato imponderado acaba refazendo não só a ponte que permite aos gigantes voltar à Terra, como também entrega a princesa – herdeira do rei Erik lá em cima! – de lambuja para seus inimigos.

A razão pela qual Jack – O Caçador de Gigantes se sai melhor do que os outros “remixes” de fábulas clássicas é o fato, justamente, de seu mote de gigantes malignos e reinos celestes ser o mais propício à exigência, obrigatória por esses dias, de grandes batalhas épicas e correria por cenários digitais. Nesse quesito, porém – curiosamente –, o filme não se esbalda como deveria. Os gigantes são toscos, mal-construídos, e as batalhas não oferecem um diferencial marcante em relação aos outros filmes. Ainda assim, elas se integram de forma mais natural à história, não soando tão alienígenas em relação à matriz como nos outros filmes. Pelo menos, também, os cenários computadorizados são impecáveis.

A marca de Singer como narrador é mais aparente nas cenas intermediárias, como quando pontua a ação repressora do rei, pai de Isabelle (Ian McShane), ou os diferentes episódios vivenciados pelos heróis na sua busca. O elenco de apoio, por sinal, é formado por atores experientes, alguns deles me fazendo perguntar se estariam no filme por amizade, dinheiro ou falta de algo melhor: Ewan McGregor (O Escritor Fantasma), Bill Nighy (O Vingador do Futuro, que aqui aparece como a cabeça maior do líder dos gigantes, Fallon) e especialmente Stanley Tucci (Um Olhar do Paraíso), como Lord Roderick, além do citado McShane (Os Pilares da Terra). O casal principal, Hoult e Tomlinson, não é dos mais memoráveis, mas também não compromete. O roteiro previsível, de qualquer forma, não daria aos atores a chance de brilhar. É fato: o romance do casal principal, a jornada em busca da princesa, as piadinhas, o duelo com os gigantes, a lição de moral, até mesmo a “surpresa” da revelação do verdadeiro vilão estacionam esse trabalho apenas um pouco acima dos seus antecessores, que são ainda mais rasos e pior conduzidos. Se, apesar dessas minhas ressalvas, você quiser dar uma chance ao filme, vá lá, dá pra ir: dentro dos seus parâmetros (bem) pouco criativos, a experiência consumada de Singer como narrador permite que o filme flua bem, não acumulando barrigas significativas, nem deixando de emprestar a pulsação nas horas certas.

Mas o saldo final é mesmo esse: mais um filme de aventura, como tantos outros, que não acrescenta nada à história original, nem faz a “ponte” pretendida com a geração atual: afinal, com tantos similares, quem se deixaria arrebatar pela história de um rapaz e seu estranho pé-de-feijão?

jack - o caçador de gigantes