A Berlinale aplaudiu nesta sexta-feira (6) a estreia de “Taxi”, de Jafar Panahi, um filme sobre Teerã do cineasta dissidente, que teve a cadeira vazia em Berlim porque não pode sair do país.

O diretor de 54 anos é celebrado pelos cinéfilos em todo o mundo, mas está proibido de realizar sua atividade no Irã, onde o regime considera subversiva sua visão crítica da sociedade.

Panahi foi detido por causa de um documentário que estava filmando sobre os distúrbios a respeito da polêmica eleição presidencial de 2009 e foi proibido de fazer novos filmes por 20 anos “por atentado contra a segurança do Estado e ato de propaganda contra o regime”.

“Taxi” é o terceiro filme que Panahi dirige após a condenação. Apesar de não ter permissão de viajar ao exterior, o iraniano foi muito aplaudido em Berlim e recebeu estímulo para seguir desafiando a proibição.

“Sou um cineasta. Não posso fazer outra coisa a não ser filmes. O cinema é meu modo de expressão e a razão da minha vida”, disse. “Por isso, preciso continuar fazendo filmes sob qualquer circunstância.”

Em “Taxi”, Panahi oferece suas impressões da Teerã contemporânea através das janelas de um carro. Cada passageiro que ele transporta apresenta uma história.

Na primeira viagem, duas pessoas que não se conhecem e seguem para o mesmo local debatem sobre a sharia (lei islâmica) e a pena capital.

O homem afirma que os ladrões de autopeças deveriam ser enforcados, enquanto a professora sentada atrás responde que a aplicação da pena de morte não é eficaz para impor a ordem social.

“Depois da China somos os que temos o maior número de execuções”, protesta, em um momento mais intenso da discussão. Com as histórias e pontos de vista, os passageiros do táxi falam muito da realidade do país.

Cinema dentro do cinema
O filme ganha força com a diversidade de personagens e situações. Alguns passageiros reconhecem o cineasta, outros suspeitam que ele não é taxista de verdade.

Em um momento, o diretor transporta um homem que diz reconhecer Panahi e então começa um filme dentro do filme no qual o homem, que vende DVDs piratas, faz piada com o cineasta sobre a qualidade dos passageiros anteriores enquanto atores.

O filme, que está entre os 19 na disputa pelo Urso de Ouro, é o terceiro dirigido por Panahi em desafio às autoridades, depois de ‘Isto não é um filme’ e ‘Cortinas Fechadas’.

Condenado a seis anos de prisão e 20 anos de proibição de fazer cinema ou viajar, o cineasta conseguiu recuperar uma liberdade precária que lhe permite filmar clandestinamente, mas não sair do país.

O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, afirmou na semana passada que o festival “continuará convidando o cineasta até que possa viajar”.

Panahi ganhou fama como um observador comprometido da sociedade. Representante da “nova onda” do cinema iraniano, ao lado de Abbas Kiarostmi, de quem foi assistente, Panahi recebeu vários prêmios em festivais internacionais por filmes como “O balão branco” e “O círculo”.

da Agência France Press