Uma das grandes estrelas da chamada Era de Ouro do cinema americano, Lauren Bacall faleceu hoje, aos 89 anos. Ela teve uma longa e variada carreira, mas provavelmente será eternamente lembrada pelos filmes que fez ao lado de Humphrey Bogart, que passou de companheiro de cena a marido da jovem estrela. Ambos fizeram juntos pelo menos uma obra-prima do cinema noir.

Seu nome verdadeiro era Betty Joan Perske (!). Aos 15 anos ela já modelava e estudava dança e atuação. Em 1943, uma foto que ela fez para a revista Harper’s Bazaar chamou a atenção do cineasta Howard Hawks, que a pôs sob contrato e resolveu lança-la como nova estrela. De cara, Hawks a colocou para contracenar com Bogart em Uma Aventura na Martinica (1944). No set, uma coisa muito curiosa aconteceu: a química entre o astro e a jovem estrela era inegável, e também quente. Tornaram-se famosos alguns dos diálogos e momentos entre os dois, especialmente aquele no qual ela diz a Bogart “para assobiar: pressione os lábios e assopre”…

Bogart, cujo casamento estava mal das pernas, deixou a então esposa e logo começou seu romance com Bacall. Não demorou muito e eles estavam casados: ele tinha 44 anos, ela tinha 19… Um ano depois, Hawks, Bogart e Bacall se reuniram no clássico absoluto À Beira do Abismo (1945), no qual o ator viveu o detetive Philip Marlowe numa trama de suspense. É um dos melhores filmes noir de todos os tempos, e a maior obra-prima que estes três nomes das telas fizeram juntos.

Ela ainda faria mais dois filmes com Bogart, mas com outros diretores: Prisioneiro do Passado (1947) e Paixões em Fúria (1948). Logo Bacall tentou diversificar e sair da sombra de Bogart, mas os resultados foram variados. Nessa época, seu filme mais memorável foi a comédia Como Agarrar um Milionário (1953), ao lado de Marilyn Monroe. Em 1957, Bogart faleceu vítima do câncer – acabava assim um dos maiores casos românticos da história de Hollywood.

Lauren Bacall continuou trabalhando. Porém, alguns fracassos de bilheteria a fizeram alternar entre Hollywood e a Broadway, onde os trabalhos eram mais recompensadores. Em 1961 a atriz se casou de novo, com o também ator Jason Robards – eles ficaram juntos até 1969. Nos anos 1970, ela participou de um dos seus maiores sucessos, Assassinato no Expresso do Oriente (1974), ao fazer parte do grande elenco reunido pelo diretor Sidney Lumet. E no começo da década de 1980, ela ganhou um raro papel de protagonista no suspense O Fã: Obsessão Cega (1981).

Em anos mais recentes, Lauren se tornou uma coadjuvante de luxo, aparecendo em filmes de destaque como o suspense Louca Obsessão (1990), Prét-à-Porter (1994) de Robert Altman, O Espelho Tem Duas Faces (1996), pelo qual foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante, e em papeis pequenos em dois filmes de Lars von Trier, Dogville (2003) e Manderlay (2005). Em 2009, a Academia lhe concedeu um Oscar honorário.

É possível ver a carreira de Lauren Bacall e afirmar que a atriz não teve tantas oportunidades quanto poderia. Mas dizer isso é perder de vista a qualidade do mito, e mais do que uma atriz, Bacall foi um mito das telas. A forma como ela seduziu Humphrey Bogart é a mesma pela qual ela ainda continua seduzindo o publico naqueles seus primeiros filmes. Aqueles olhos felinos, sorriso insinuante e voz ligeiramente rouca continuam, e continuarão, a exercer seu encanto. O mito sobreviverá, mas paradoxalmente, havia um sentimento muito verdadeiro entre ela e Bogart, e alguns filmes gravaram um pouco desse sentimento na tela. Por essa razão, são inesquecíveis, assim como ela.