Na adaptação para o cinema do romance inacabado “O Último Magnata”, de F. Scott Fitzgerald, que conta sobre os bastidores de Hollywood, há um momento memorável em que o bem sucedido produtor Monroe Starr (Robert De Niro) explica, em menos de dois minutos, a um roteirista do estúdio como contar uma história, de forma objetiva e ágil, sem perder a atenção do espectador. Em seu derradeiro filme, o diretor Elia Kazan acabou nos dando uma preciosa dica, não só sobre como definir o enredo, a trama, de forma clara e simples, mas também como cativar possíveis produtores ou patrocinadores de que a sua história é realmente interessante e que merece ser filmada.

Uma boa Storyline pode contribuir para um ótimo roteiro final

Dentro do processo da criação do roteiro temos um procedimento corriqueiro e tradicional do cinema americano: saber resumir a história com precisão, procurando escrever umas poucas linhas (geralmente de 1 a 5 linhas) resultando numa brevíssima narrativa. Esse elegante resumo que está prestes a se transformar em argumento ou roteiro e que envolve apenas uma síntese da apresentação, do desenvolvimento e da conclusão do conflito central da história chama-se storyline.

Nessa etapa não é necessário se preocupar muito com os nomes dos personagens e com o ambiente exato onde se passa os principais acontecimentos da história. O ideal é escrever poupando adjetivos e colocando os verbos no presente para enfatizar a ação. Dessa forma, facilita a visualização e o desenvolvimento da ação por parte de quem está lendo.

Classic Movies: 40 anos de Chinatown, de Roman Polanski“Chinatown”: obra-prima de Roman Polanski

A storyline do filme “Chinatown” (1974), de Roman Polanski, poderia ser assim: “Um detetive é contratado por uma mulher para espionar o próprio marido. A verdadeira esposa aparece e procura impedir a investigação. O detetive insiste no caso e acaba dentro de uma rede de mentiras envolvendo assassinato, incesto, corrupção e o abastecimento de água de uma cidade”. Nesse caso, a storyline não é exatamente conclusiva, mas estabelece algumas possibilidades dramáticas no enredo que facilitariam chegar a qualquer resolução do conflito e a solução do mistério.

É importante reconhecer que a storyline é como se fosse um modesto pedestal esperando sua obra de arte que ainda está sendo esculpida, e que existe a possibilidade considerável da sua própria história mudar de rumo no decorrer da construção do roteiro podendo modificar inclusive o final.

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Acredito que a prática da storyline pode ser aproveitada para além da criação do roteiro em si. Escrever storylines pode ser um ótimo exercício para ajudar a escolher melhor as palavras aprimorando a retórica e evitando ser prolixo e desinteressante num possível diálogo com um empresário ou um gerente de marketing de uma empresa para que ele pense na possibilidade de patrocinar o seu filme.

É um fato comum nos depararmos em alguns processos seletivos para prêmios ou editais para o desenvolvimento de roteiro com a fase do pitch (ou pitching), que é uma apresentação do proponente, que pode ser o próprio roteirista, explanando da forma mais direta e dinâmica possível todas as informações fundamentais contidas no seu argumento ou roteiro original com objetivo de despertar a atenção dos avaliadores. Essa apresentação costuma ter uma duração entre três e cinco minutos, dependendo do regulamento, ainda que a variável seja de trinta segundos a dez minutos.

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Robert De Niro em “O Último Magnata”

Uma storyline bem resolvida pode não só resultar num ótimo roteiro final como pode também ser a salvação numa concorrência sendo uma espécie de transposição para a retórica. Com tenacidade e criatividade, pode até ser tranquilo encarar a caminhada e alcançar o objetivo final.