Extorsão, manipulação midiática e uma série de táticas de difamação foram utilizadas pelo magnata das telecomunicações dos EUA, William Randolph Hearst, para desmoralizar Orson Welles e o clássico “Cidadão Kane” na época de lançamento do filme, ocorrido em 1941. As informações são trazidas pelo escritor Harlan Lebo no livro “Citizen Kane – A Filmmaker’s Journey”.

Em “Cidadão Kane”, Orson Welles traz a história de Charles Foster Kane, garoto pobre no interior dos Estados Unidos que se torna magnata de um império do jornalismo e da publicidade mundial. Eleito por críticos de cinema como o maior filme já feito, a obra é inspirada na trajetória de Hearst.

O livro “Citizen Kane – A Filmmaker’s Journey” traz declarações do advogado de Welles, Arnold Weissberger, alertando o cliente sobre os perigos das ameaças do empresário da comunicação. “Isso não é uma tempestade em copo d’água. Não vão acalmar e as forças contra a gente irão trabalhar a todo momento. Hearst pode decidir usar toda a máquina legal dele para detonar a RKO“, declarou.

Ainda conforme a publicação, Welles acreditava que Hearst não estava por trás dos ataques contra ele e o filme, sendo essas ações orquestradas pelos comparsas do magnata querendo mostrar força para o chefe. Porém, durante uma viagem de divulgação do filme, um policial alertou o diretor de “Cidadão Kane” sobre uma cilada. “Não volte para o seu hotel. Eles colocaram uma garota de 14 anos no armário e dois fotógrafos estão o esperando”, avisou.

Para o escritor Harlan Lebo, não há dúvidas sobre a autoria das tentativas de difamação em relação a Orson Welles e ao filme. O autor do livro afirma que o foco do magnata era colocar em descrédito à credibilidade pessoal do cineasta a ponto de macular “Cidadão Kane”. Um dos ataques está relacionado a um boato de que o diretor era comunista em plena época da Segunda Guerra Mundial.

O livro traz uma carta entre o diretor de uma das revistas do empresário, Richard Berlin, com William Randolph Hearst em que se debate uma investigação no Congresso dos EUA sobre a ligação de Orson Welles com o Partido Comunista. “Temos a garantia completa de nossos amigos em Washington que o resultado da investigação feita por eles … da indústria cinematográfica está disponível para nós … Isso deve ser extremamente valioso”, aponta Berlin.

Segundo Lebo, a perseguição do magnata ao cineasta aconteceu após avisos feitos pelas colunistas de Hollywood, Hedda Hopper e Louella Parsons. “Hopper, após ver o filme, alertou as organizações Hearst do perigo de “Cidadão Kane” e Parsons foi quem escreveu a carta para Hearst também o alertando”, informa o escritor. Como retaliação, as publicações do empresário evitaram divulgações do filme e ainda houve ameaça da abertura de um processo judicial.

“Citizen Kane – A Filmmaker’s Journey” foi lançado no Reino Unido no último dia 26 de abril.