Para os amantes da sétima arte da cidade foi um presente a abertura do Cine Casarão de Ideias. Ter um cinema de arte no centro da cidade é um privilégio, ainda mais ao lembrar que na maioria das capitais brasileiras essa não é uma opção, já que este tipo de entretenimento tem sido vítima da desertificação que assola esta localização nos grandes centros urbanos.

Apesar disso, é interessante recordar como eram as salas de cinema antes dos shoppings centers. Seguindo essa premissa, o publicitário e escritor Durango Duarte faz um mergulho pela história de Manaus, mas dessa vez abordando a importância do cinema para a construção sócio-cultural da capital. Intitulado “A Sétima Arte em Manaus”, a obra “faz um resgate histórico de como surgiram às primeiras salas de cinema, ainda de maneira bem rudimentar, com os ancestrais do cinematógrafo falante, os Cineclubes, os Festivais e as Mostras que aconteceram em Manaus, de 1907 a 2017”, contou o publicitário ao Cine SET.


Por que falar sobre isso?

A ideia de escrever sobre cinema surgiu após a necessidade de ampliar e atualizar o livro “Manaus Entre o Passado e o Presente” (2009). Durango conta que havia certa cobrança dos próprios leitores, para a extensão do livro que revisita a memória da cidade, “porém durante as pesquisas, percebeu-se que o capítulo XII de Cinemas merecia um destaque maior, visto a grandiosidade de “novas descobertas” do projeto”, disse o publicitário. A partir de então, o tema foi retirado do projeto inicial e decidiu-se “criar uma obra destacando os principais fatos históricos relacionados ao cinema em Manaus”, revelou.

O livro “A Sétima Arte em Manaus” é composto como um túnel do tempo. Por meio de recortes dos jornais, Durango Duarte remonta e eterniza uma época em que o cinema era um dos principais acontecimentos de entretenimento da cidade. É possível conhecer lugares que tiveram sua importância para a divulgação da arte cinematográfica da cidade e que não se tem conhecimento hoje.

O publicitário cria um mapa do centro da cidade e de bairros circunvizinhos através da arte cinematográfica. É um verdadeiro passeio para se conhecer as raízes de alguns bairros em Manaus, como por exemplo o bairro de Educandos, em que já houve a presença de três cinemas em lugares distintos que ao passar a frente hoje, você não imagina que tenha tido esse recorte histórico um dia.


Desafios pelo Caminho

Durante a concepção do projeto, “a pesquisa mostrou-se ser a parte mais delicada, demorada e detalhada. especialmente pelo tratamento com as fontes”, contou. Realizada no decorrer de um ano, a principal fonte do livro são os jornais da cidade, “as fontes escritas, principalmente as do início século XX, sobre cinema em Manaus são bastante escassas. Os jornais foram a principal fonte para a composição bibliográfica do livro”, contou o autor ao observar a demanda de tempo e paciência que a busca por materiais em jornais antigos suscita. “Garimpar informações em jornais é um trabalho que requer bastante tempo e amor pela história, trazer à tona informações encobertas pela poeira do tempo é algo que só se faz se você tiver muita dedicação e objetividade”, afirmou.

A ausência de material publicado em jornais durante determinados períodos históricos foi um dos principais desafios encontrados no decorrer da produção de “A Sétima Arte em Manaus”, somado a preservação do material jornalístico. “Existem algumas lacunas de periodicidade das fontes, ora por que deixaram de circular, ora por que encontram-se em estado ilegível ocasionado pelo péssimo estado de conservação que alguns órgãos públicos acondicionam o material, ora por que “sumiram” de alguns acervos públicos da cidade”, contou o escritor. O acervo pesquisado encontra-se no Estado do Amazonas e no Instituto Durango Duarte.


A sétima arte viva em Manaus

Para o escritor, o cinema de rua possui uma aura romântica, um glamour envolvente além de “serem espaços importantes para a cultura cinematográfica de qualquer cidade, são neles exibidos filmes cult, artísticos e de nichos menos abrangentes”, revelou.

Dessa forma, se torna perceptível o quanto “a sétima arte está viva e se faz viva na memória do cidadão manauara”, afirma o publicitário. É ao pensar nesses espaços que outrora funcionavam como espaço de entretenimento e hoje possuem outra função social, mas que marcam na vida dos cidadãos antigos dessa localidade. Este é um dos motivos que ao ouvir Durango Duarte afirmar que Manaus é um palco de memórias culturais, seja difícil discordar dele. “Na condição de pesquisador, quero deixar minha modesta contribuição para as gerações futuras, desta vez abordando sobre A Sétima Arte em Manaus”, continuou.

 “A Sétima Arte em Manaus” nos conecta a uma Manaus Antiga que efervescia pela arte cinematográfica. E como o famoso clichê “relembrar é viver”, nada mais saudável que imergir na história do cinema de rua da cidade e revisitar esses pontos turísticos para os cinéfilos, trazendo o livro como guia.

O livro está disponível gratuitamente em formato digital no site do Instituto Durango Duarte (clique aqui).