Ao pensar na concepção de um filme, várias coisas vem a mente: direção, produção, elenco, fotografia, cenários, montagem, direção de arte, trilha sonora. Mas tudo isso só nos é possível imaginar depois de ler as páginas de um roteiro. Desde quando me apaixonei por cinema, o que mais me atraiu e, talvez seja o que mais atraia os cinéfilos como um todo, é a forma como uma história é conduzida.

Há sempre aquelas obras em que você consegue acompanhar e antecipar os passos das personagens. Em outros casos, as ações são tão absurdas, que você se indaga como alguém foi capaz de embarcar nessa ideia e produzi-la, mesmo sendo tão inverossímil e ridículo. Há cenas que incomodam e arrancam lágrimas ou gritos de raiva. Nada se compara a vivenciar um filme durante sua projeção, imergir na história e se surpreender com a escolha das personagens, sua própria reação ao universo ficcional. Em todos esses casos, o roteiro foi o ponto decisivo para essas sensações.

Um consenso geral entre editores/montadores é o quanto a presença de um roteiro é fundamental na pós-produção de qualquer projeto audiovisual. O filme pode até perder-se ou achar-se na montagem, mas a forma como o seu roteiro foi pensado e apresentado é que vai determinar o que um filme será. É por isso que quando alguns produtos audiovisuais se perdem em suas propostas, tem furos muito notáveis, tudo isso está ligado ao seu guia.

Foi pensando nisso que Syd Field escreveu o Manual do Roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. Conhecido como o guru do Roteiro cinematográfico. Field administrou disciplinas de produção de roteiro no curso de mestrado na área da Universidade da Califórnia e na extinta Sherwood Oaks, onde ele se motivou a escrever este livro, diante das inserções em suas aulas. Sendo sua primeira experiência como professor, a maior indagação feita pelo roteirista, também permeia a mente de muitos cinéfilos: O que é um bom roteiro?

O Manual do Roteirista é o fruto das aulas de Field. Ele recolheu mais de 40 roteiros na turma e conseguiu ver pontos em comum entre eles, mesmo entre aqueles que não se destacam. Foi daí que definiu uma estrutura para o roteiro, o Paradigma, no qual se organiza a quantidade de páginas do roteiro de acordo com a extensão do filme, fazendo a proporção de um minuto por página. Dentro desta formatação, o filme é formado por três atos: a apresentação, confrontação e resolução.

Na apresentação, conhecemos os personagens e a história que se delineia. Tendo em média a duração de 20 a 30 minutos, abrange aproximadamente 1/4 do tempo do filme, terminando com um Ponto de Virada, vulgo reviravolta, que encaminha o começo do segundo ato ou confrontação. Sendo a responsável pelo Ponto Central da trama. Essa sequência ocorre mais ou menos em 60 páginas e abre espaço para o novo ponto de virada que introduzirá o desfecho da história ou resolução. Em todos os bons roteiros encontraremos esses ideais.

Field descreve os filmes como um meio visual que dramatiza um enredo básico ao lidar com fotografias, imagens, fragmentos e pedaços de filme. Colocando o roteiro como a história responsável por esse meio audiovisual contada por meio de imagens, diálogos e descrições, localizadas dentro da estrutura dramática.

Field apresenta em cada capítulo da obra uma maneira de aprendermos passo a passo como construir um roteiro, vindo desde seus detalhes como os pormenores da caracterização de personagens até ideias mais concretas como os componentes conceituais básicos comuns que conferem a forma a ele, sem esquecer a análise de roteiros. Field ainda oferece exercícios de fixação ao final de cada capítulo para exercitar-se o aprendizado e rememorar o que já foi visto em capítulos anteriores.

E tudo isso nos remete a pergunta inicial do roteirista: o que é um bom roteiro? Essa resposta fica evidente quando você se depara com o roteiro. Ele já diz a que veio em sua primeira página. O estilo, a forma com que as palavras são escritas na página, o jeito que a história é estabelecida, o controle da situação dramática, a apresentação do personagem principal, a premissa básica ou problema do roteiro, tudo se estabelece nas primeiras páginas do roteiro.

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Nada como um manual para ensinar desde os primeiros passos como entender o texto audiovisual. Primordial para todos os amantes da sétima arte e aqueles que vêm a história como o aspecto mais forte de um bom filme.