Ao ler sobre Mark Felt – O Homem Que Derrubou A Casa Branca (esse subtítulo é inacreditável) antes de assisti-lo, vi que um texto o associava a outro filme, Todos Os Homens do Presidente (1976). Claro, a relação é justificada pois Felt é o homem por trás do pseudônimo Garganta Profunda, fonte imprescindível dos jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward para a revelação do escândalo Watergate, que derrubou o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, em 1974, assunto principal do filme de Alan J. Pakula.

Não há pecado nenhum em um filme auto associar-se a outro, evidentemente. Afinal, os estúdios gastam uma grana com marketing, e diversas estratégias mais “criativas” e agressivas que essa são utilizadas pelos estúdios para vender seus trabalhos a qualquer custo.

Mas o que esse texto não dizia é que Mark Felt, na verdade, pouco mostra a relação de Felt com os jornalistas, afinal se concentra muito mais no que vem antes disso, nas descobertas que o líder do FBI foi fazendo até se dar conta não só de que Nixon estava por trás do escândalo de espionagem, mas que também usava o seu poder para que as instituições investigativas norte-americanas não tivessem condições de investigar o caso a fundo.

E mais importante: o texto, logicamente, não falou que a diferença de qualidade entre os dois filmes é abissal. Enquanto o clássico de 76 é uma instigante investigação jornalística, intrincada, que apresenta a complexa trajetória dos dois repórteres até a descoberta das gigantescas proporções que o caso teria, o de 2017 é uma produção que facilita os conflitos, transforma os personagens apenas em vilões e mocinhos, e deixa tudo bem explicadinho para que o espectador nunca fique com nenhuma dúvida.

O elenco de rostos reconhecíveis, liderado pelo prolífico Liam Neeson como personagem título, até consegue trazer alguma legitimidade ao filme. Todos tentam trazer sobriedade aos personagens, entendendo que se trata de um momento importante da história norte-americana, e que aquelas pessoas estão na história do país, etc.

Mas o diretor e roteirista, Peter Landesman, equivoca-se na condução da trama. Talvez tenha se deixado levar exatamente por essa importância, e assim fez um filme absolutamente convencional, quadrado, que passa distante de qualquer ideia mais arrojada. Ele cria cenas que sugerem tensão através da câmera inquieta, planos fechados, sombras em ambientes mal iluminados, mas que no fundo não possuem verdade alguma. Por trás desses elementos técnicos artificiais, está uma direção que não tensiona nada, incapaz de mostrar a complexidade que vende.

A sensação que se tem é de estar assistindo a uma novela na tela grande. Falas expositivas acumulam-se, mesmo quando já está claro do que as situações se tratam. Landesman também não perde chances de aqui e ali incluir falas que ressaltam a relevância do que está acontecendo. Só que, claro, isso acaba dando um efeito reverso, pois o artifício usado para isso é o mais pobre possível, expondo ainda mais as fragilidades do roteiro. Afinal, é mais fácil se autoproclamar relevante do que de fato ser.

O filme se coloca numa posição chapa branca em relação ao FBI. Da maneira como a história é contada, a instituição parece ser a única capaz de moralizar o país, e que luta com unhas e dentes para levar a verdade ao povo. Uma verdadeira chatice. Um defeito evitável, que escancara a zona de conforto na qual este projeto de coloca, e não sai de lá em momento nenhum.

E quando tenta apresentar a vida pessoal do protagonista, sua relação com a esposa e a filha desaparecida, mostra-se desajeitado, e consegue ser ainda mais desinteressante do que na outra trama, a principal. Pouco importa o que acontece com a esposa e a filha, na verdade. São personagens tão rasas, suas motivações, objetivos, características são tão clichês, que o que deveria ser um respiro, um outro prisma do personagem principal, acaba piorando o que já era ruim.

Mas para os que curtem produções que facilitem o entendimento, que não causam confusão, nem polêmicas, é um prato cheio.