A partir dessa semana, o Rankings sai dos diretores cultuados para apresentar listas com temas mais diversos, abordando outros aspectos da Sétima Arte.
Para começar, vamos analisar as obras da chamada “Retomada” do cinema brasileiro, o período que começa com Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995), de Carla Camurati, filme que marcou o retorno da produção nacional após o sufocamento promovido pelo governo Fernando Collor (1990-1992), e vai até os dias atuais.
Nesses quase 20 anos, muita coisa mudou, sem dúvida.
O país fortaleceu sua cadeia de produção, criou vários sucessos indiscutíveis, e conseguiu, enfim, afastar a má reputação adquirida nas décadas de 1970 e 80.
Mas nem tudo, é claro, são flores. O melhor e o pior dessa turma você conhece agora.
Veja:
5. 2 Filhos de Francisco (2005)
2 Filhos de Francisco é a prova cabal de que um roteiro bem-feito, uma direção sensível e um elenco afinado (perdão pelo trocadilho) conseguem verter ouro de qualquer material.
Claro, ajuda muito se esse material for a história de uma das duplas sertanejas mais queridas do país: Zezé Di Camargo & Luciano.
Os números falam por si: 5,4 milhões de espectadores, com arrecadação total de R$ 36 milhões.
A cinebiografia tem o mérito de consolidar um cinema verdadeiramente popular e de qualidade no Brasil.
Vários filmes, desde então, vêm tentando reprisar o sucesso de 2 Filhos…, mas faltam a trama envolvente os personagens carismáticos da obra de Breno Silveira.
4. O que é Isso, Companheiro? (1997)
Provavelmente o primeiro grande filme da Retomada, O que é Isso, Companheiro? foi também o primeiro candidato “sério” do Brasil ao Oscar desde O Beijo da Mulher-Aranha (1985).
Mérito do excelente trabalho de Bruno Barreto na direção, criando um thriller instigante sobre um período delicado da história brasileira: a ditadura militar.
Com um elenco fantástico (Pedro Cardoso, Fernanda Torres e Alan Arkin, entre muitos outros), o filme mostrou o talento acumulado nos anos de “limbo” do cinema nacional.
Walter Salles (Central do Brasil) e Fernando Meirelles (Cidade de Deus) também fariam bonito lá fora, mas Barreto fez primeiro.
Dos vários gêneros praticados no cinema brasileiro, o documentário foi o que nos deu os melhores resultados, graças a feras como João Moreira Salles (Santiago) e Eduardo Coutinho, diretor de Jogo de Cena.
A premissa é a mais simples possível: mulheres comuns contam histórias inusitadas de suas vidas, que depois são encenadas por algumas das atrizes mais gabaritadas do país (Fernanda Torres e Marília Pêra, por exemplo).
Pois esse material rendeu um dos filmes mais ousados e emocionantes do cinema brasileiro dos últimos anos, par a par com as obras de maior voltagem do cinema americano e europeu. Jogo de Cena marca a sofisticação dos documentários produzidos hoje no país.
Esta é provavelmente a maior realização do cinema brasileiro da Retomada.
Uma tarefa dificílima: adaptar um romance sombrio, de narrativa caudalosa, com muita psicologia e pouca ação.
Felizmente, os envolvidos eram os únicos que podiam dar conta da tarefa: Luiz Fernando Carvalho, experiente diretor de televisão, responsável por novelas e séries antológicas; e Selton Mello, o rosto mais célebre do cinema brasileiro atual, um ator capaz de enfrentar qualquer registro com brilho.
O resultado é impressionante: Lavoura Arcaica, apesar de longo, é um filme enxuto, que concentra e potencializa o impacto do romance original, numa das experiências mais radicais do cinema recente.
O cinema brasileiro voltou em 1995, mas, para o grande público, esse retorno só aconteceu mesmo em 2002. Graças a este filme.
Fernando Meirelles era um cineasta iniciante, mas já tinha larga experiência em televisão e publicidade. Junto com a também diretora Kátia Lund, ele idealizou a adaptação do romance de Paulo Lins, que retrata a formação de uma das comunidades mais violentas do Rio de Janeiro.
O resultado é eletrizante.
Cidade de Deus foi o primeiro grande sucesso da Retomada, e sua qualidade colocou o Brasil novamente no circuito internacional. Faltam adjetivos para descrever esta obra-prima: envolvente, engraçado, comovente, assustador… mas, acima de tudo, brilhante.
Personagens marcantes (Zé Pequeno, Bené, Mané Galinha), diálogos ferinos (“Dadinho é o @$¨!&*%”) e uma abordagem honesta e brutal da realidade brasileira fazem deste o melhor filme da Retomada, gerador de inúmeros discípulos, alguns brilhantes (Tropa de Elite) e outros nem tanto (Cidade dos Homens, Antônia). Essencial.
Fuja!:
Não, este NÃO é o pior filme da Retomada.
De Carlota Joaquina pra cá, por sinal, as bombas existem aos montes: qualquer filme da Xuxa ou do Didi, por exemplo; as comédias puxadas por estrelas globais (nem todas, sejamos justos); muita chatice pretensiosa dos remanescentes da Embrafilme; e por aí vai.
Mas a infâmia coube a Billi Pig, por ele ser meio um resumo disso tudo: um elenco “estrelado” (Grazi Massafera e Preta Gil, ao lado dos arroz-de-festa Selton Mello e Milton Gonçalves), uma produção medíocre (em todos os aspectos), e a doença que volta e meia acomete o cinema nacional: o retorno à chanchada, a comédia sem noção da qual fomos os primers nos anos 70 e 80, em busca do grande público.
Tudo isso vindo de um diretor talentoso, José Eduardo Belmonte, que vinha prometendo bastante com seus últimos filmes, Meu Mundo em Perigo (2007) e Se Nada Mais Der Certo (2008), o que só aumenta a decepção.
Será que o cinema nacional não vai sair nunca dessa vala?
Para cada produção bem-cuidada, que respeita a inteligência e a sensibilidade do espectador, que eleva o nível dos realizadores e do público, vamos ter de encarar outros dez como esse (ou como Agamenon, ou como Reis e Ratos)?
O público brasileiro realmente não consegue apreciar nada melhor?
Billi Pig não é o pior filme da Retomada. Nem é um desastre total, na verdade. Mas acaba sendo a triste confirmação de que, passado tanto tempo, nosso cinema mais popular ainda é obrigado a descambar para esse viés tosco, se quiser trazer gente para o cinema.
Já está mais do que na hora de andar pra frente.
Acho interessante é que ‘Dois Filhos de Francisco’ é um filme desprezado por muitos pseudo-cults. Por não gostarem de Zezé e Luciano, muitos acham que o filme é uma merda. O famoso ‘não vi e não gostei’. Se tivéssemos uma sociedade menos preconceituosa e ranzinza, certamente este filme teria tido um número ainda mais expressivo de espectadores. Senti falta aí de ‘O Bicho de Sete Cabeças’, mas selecionar cinco filmes marcantes deste período é tarefa complicada.
Senti falta do Walter Salles.
Também acho que em se tratando do movimento de retomada do cinema nacional devem ser incluídos TERRA ESTRANGEIRA ou CENTRAL DO BRASIL do Walter Salles.
O filme Dois Filhos de Francisco, por se tratar de uma história real e sem apelaçao, conseguiu nao só atingir número record de público no cinema, como também adentrar nos lares, através da tv, e do próprio DVD do filme. História que contagia, emociona, envolve e ainda por cima fortalece a fé e a esperança de nós brasileiros, mostrando que tudo é possível quando se tem força e determinaçao.
Penso que a graça nas listas são as ausências, concordâncias e discordâncias. Assim, são coerentes as críticas à falta de Walter Salles, assim como também o são as escolhas do Renildo.
😀