Sim, o Cine Set tem coração.

E resolvemos abri-los aqui, neste post, caros leitores.

Os nossos integrantes falam sobre aqueles filmes que foram capazes de arrancar lágrimas desses críticos.

Prepare seus lenços: o chororô vai começar!

Caio Pimenta – Central do Brasil

Era uma segunda-feira à noite. Tela Quente. Passava “Central do Brasil”. Já tinha visto o filme com meu pai na sala 2 do antigo cinema do Severiano Ribeiro do Amazonas Shopping. Achei um belíssimo trabalho de Walter Salles. Era impossível não se envolver com a delicada história de Dora e Josué. E foi assim que assisti novamente o filme: sem dar atenção e, aos poucos, me via dominado pela trama. A bela carta lida com maestria por Fernanda Montenegro, o talento precoce de Vinícius de Oliveira e a trilha sonora de Antônio Pinto e Jacques Morelenbaum conseguiram me fazer chorar. Minhas únicas e tímidas lágrimas derramadas por um filme.

Toy Story 3

Camila Henriques – Toy Story 3

É difícil eu chorar em filme (e em música), então foi difícil pensar em títulos que me fizeram lacrimejar, mas acabei esbarrando em uma resposta clichê, mas que, desculpaí, foi de emocionar: “Toy Story 3”. O até então capítulo final da história de Woody e Buzz Lightyear foi carregado de nostalgia para quem cresceu com aquela linda lição de amizade e apego. Mas nem foi tanto o fato de ver “meus” personagens em um novo filme que me fez chorar, e sim aquele momento ao fim da história, que achamos que vamos perder nossos brinquedos para sempre. Passado o susto, veio o alívio e as lágrimas de tanto rir com os alienígenas que salvaram o dia 🙂

Danilo Areosa – Um Mundo Perfeito

A primeira vez que você chora dentro do cinema é inesquecível. E essa proeza de conseguir me emocionar coube exatamente a um sujeito que é considerado um dos homens mais viris e cabra-macho do cinema: Clint Eastwood. Em 1993, o diretor/ator foi responsável por “Um Mundo Perfeito”, trabalho que até pode não configurar na lista dos seus melhores filmes, mas é uma obra de uma humanidade impressionante. A relação entre o marginal Butch, interpretado pelo astro Kevin Costner, e um garoto de 8 anos é construída de forma comovente, repleta de sensibilidade e profundidade, toda encenada com a elegância habitual de Eastwood. Não apenas comprei a ideia dessa relação improvável – toda calcada em conflitos provocados pela ausência da figura paterna – como não resisti e caí no choro no ato final, quando o garoto, vestido de Gasparzinho, retorna para abraçar emocionado seu sequestrador antes de partir, de mãos dadas com ele. No mundo real, relações como essas não aconteceriam, mas no cinema “preto no branco” de Eastwood, o mundo, as relações e os rótulos não são perfeitos, e passamos a compreender as pessoas em toda sua complexidade, quando deixamos de julgá-las superficialmente. Posso ter chorado muito, mas aprendi uma bela lição com este adorável filme.


Gabriel Oliveira – Dançando no Escuro

É tanto drama nesse filme de Lars Von Trier que é difícil escolher um momento apenas: desde o começo, a cada música, as lágrimas vão rolando mais forte, graças à direção do dinamarquês e a atuação melancólica de Björk, em sua jornada cheia de tragédias para tentar impedir que o filho se torne cego. O soco no estômago mais forte, porém, é definitivamente a cena final, desde a caminhada da protagonista até seu destino, duro e doloroso, mas, ao mesmo tempo, ainda esperançoso de certa forma. Ficou aquela sensação de que eu não ia mais ser feliz por pelo menos uma semana.


Ivanildo Pereira – História Real

Existem várias cenas de filmes que me emocionam muito, a ponto de surgirem os proverbiais “ciscos nos meus olhos”. Como os finais de Viver (1952), de Rocky (1976), de Um Estranho no Ninho (1975), de Toy Story 3 (2010)… Ou como a cena na qual os personagens de Clint Eastwood e Meryl Streep se veem pela última vez na chuva em As Pontes de Madison (1995) – poxa, quando a mão dela pega na maçaneta da porta do carro, também começa a chuviscar por aqui. Quase escolhi essa cena, mas vou ficar mesmo com o desfecho de História Real, a bela e tocante obra do mestre David Lynch, baseada em fatos reais, sobre um velhinho maluco que viajou pelo Estado do Wyoming num pequeno cortador de grama para rever o irmão depois de décadas brigados. Quando o irmão finalmente aparece – vivido pela lenda Harry Dean Stanton – e pergunta ao personagem de Richard Farnsworth “Você veio nisso aí para me ver?”, tudo fica claro na história e, sinceramente, tenho dificuldade em me lembrar de um encerramento mais singelo e emotivo no cinema – e ainda entra a trilha do Angelo Badalamenti para arrematar tudo. Só de lembrar, já me deu vontade de buscar um lenço.

Forrest Gump

Renildo Rodrigues – Forrest Gump – O Contador de Histórias

Antes de ser crítico, é preciso ser um apaixonado por filmes. Antes de ser um apaixonado por filmes, é preciso ser arrebatado pela emoção única que o cinema consegue provocar. Dito isso, já me emocionei com muitos filmes, mas, curiosamente, não chorei em quase nenhum.

Já senti nós na garganta, apertos no peito, suores frios, fiquei triste ou feliz de verdade com o desfecho de vários filmes, mas, no quesito lágrimas, continuo impermeável. Posso inclusive afirmar que, de todos os meus filmes favoritos, top 5 ou top 10, nenhum me fez chorar.

O que só me deixa mais confuso em tentar explicar o que tem na cena do reencontro em Forrest Gump que é infalível em me deixar com os olhos mareados. Talvez toda a dura jornada do protagonista até ali, talvez a empatia imensa na atuação de Tom Hanks, ou ainda, quem sabe, o sentimentalismo desbragado e monumental da coisa toda. Tudo o que eu posso dizer é que as lágrimas saem, em torrentes, e que o longo abraço de Forrest e Jenny é uma das minhas cenas favoritas do cinema, ever.

Susy Freitas – Os Incompreendidos

Na cena final de “Os Incompreendidos”, o menino Antoine Doinel corre, em fuga, na direção do mar. A câmera acompanha a fuga enquanto ouvimos a tocante música de Jean Constantin, o frame congela e o recorte se fixa nos olhos da criança, que encara o espectador. A cena evoca um total sentimento de desamparo, de perda da inocência a partir da negligência que a criança sofre ao longo do filme, tornando ainda mais impactante o fato de que se trata de um filme autobiográfico. Impossível os olhos não marejarem enquanto o então pequenino Jean-Pierre Léaud nos olha, como que pedindo socorro, e foi exatamente isso que aconteceu comigo todas as vezes que vi esse filme e, como bônus, quando visitei a exposição de Truffaut no MIS-SP um tempo atrás, já que havia uma sala na qual ecoava a música de Constantin e os frames dessa cena rodeavam todo o espaço.