A febre dos reboots tem gerado todo tipo de conteúdo em Hollywood, desde interessantes releituras (“Mad Max: Estrada da Fúria”) aos projetos mais desinteressantes (“O Espetacular Homem-Aranha”). Quem pode, em breve, pertencer a um desses grupos é o braço cinematográfico da franquia de jogos Mortal Kombat, cujo novo título em desenvolvimento promete ser uma nova história de origem para a saga nos cinemas.

Com séries de maior sucesso sendo recomeçadas, não é de se espantar que executivos queiram uma nova chance com uma que só teve dois filmes e com uma base de fãs pronta para ir aos cinemas conferir seus personagens favoritos na telona. Foram esses fãs que deram o gás para tornar o primeiro filme da franquia, “Mortal Kombat”, uma realidade.

Enquanto o jogo se vendia como o ápice do delírio nerd da violência fantástica e justificada, o filme, restrito às necessidades narrativas de um projeto que buscava um grande público, aposta em arcos de superação para construir sua trama. Faz sentido em termos práticos: o game de lutas tinha uma parca história e grande parte da sua mitologia, criada em lançamentos posteriores, ainda não existia na época de desenvolvimento do longa.

O que existia, no entanto, eram os personagens, e o maior trunfo de “Mortal Kombat” está em acertar o visual deles no ponto: para quem curtia o jogo, poder ver Liu Kang e Sonya Blade em ação já valia o ingresso. Em especial, os efeitos que trouxeram os icônicos Scorpion e Sub-Zero à vida funcionam – e, de quebra, mantêm hoje certo charme nostálgico.

A questão da funcionalidade é importante no filme, uma vez que tudo parece feito para isso, desde as tomadas de localização até os flashbacks. Se parece que todo clichê de filme de ação foi usado aqui, é porque foi mesmo: temos heróis querendo vingar entes queridos, gente acordando sobressaltada de pesadelo, um vilão com uma musculatura facial invejável para caras e bocas e diálogos improváveis (para fins de exemplo, antes de uma luta, um de nossos heróis fala, com toda a pose de macho: “Vamos dançar”).

O longa poderia dar certo apesar de tudo isso, mas o fato é que dá certo justamente por causa desses ditos exageros. Afinal, com os produtores não podendo trazer a grande marca da série Mortal Kombat para o cinema (sangue e tripas), o humor é o que dá força ao fraco roteiro e mantém o espectador ligado. Na melhor tradição do “tão ruim que é bom”, o filme aperta o botão do f….. logo de cara e espera que você compre as frases de efeito e Christopher Lambert quase fazendo um Highlander às avessas no papel da divindade do trovão, Raiden.

Você só tem a ganhar se comprar: apesar de desviar muito da essência de seu material-base, “Mortal Kombat” é um filme de ação divertido, com ritmo frenético e com trilha e efeitos que vão direto no coração da nostalgia noventista. Sua maior falha é não abraçar a violência pra lá de cartunesca dos jogos (afinal, Tarantino já provou que podemos rir banhados de sangue).

Isso pode ter mais a ver com o espírito dos tempos do que outra coisa: se até hoje a questão da classificação indicativa ainda é discutida massivamente quando o assunto é o sucesso de um filme, o que dizer da década de 90? Isso foi antes do boom dos filmes de herói e das adaptações bem-sucedidas de videogame. Com o sucesso de “Deadpool” abrindo margem para blockbusters mais adultos, o novo “Mortal Kombat”, se sair do papel, poderá pegar um mercado muito mais aberto para o seu tipo de ação. Os fãs da sanguinolência só têm a ganhar.