A produção da sexta temporada da premiada série “House of Cards” foi suspensa por tempo indeterminado na sequência das acusações de má conduta sexual contra seu protagonista e produtor executivo, Kevin Spacey, anunciou a Netflix nesta terça-feira (31).

A produtora do programa, Media Rights Capital, e a Netflix disseram em um comunicado que a suspensão estaria vigente “até novo aviso”, em meio a uma série de revelações de agressão sexual em Hollywood, que começou com o poderoso produtor Harvey Weinstein.

O objetivo da suspensão é “nos dar tempo de revisar a situação atual e resolver quaisquer preocupações de nosso elenco e equipe”, acrescenta o texto.

Spacey, que interpreta o imoral presidente dos Estados Unidos Francis Underwood no programa, foi acusado pelo ator Anthony Rapp de tê-lo assediado sexualmente quando ele tinha 14 anos, há 31 anos. Em uma mensagem no Twitter, Spacey pediu desculpas pelo seu comportamento e revelou ser homossexual.

Na segunda-feira, a Netflix tinha dito que a sexta temporada seria a última do programa, mas uma fonte próxima à produção afirmou à AFP que esta decisão não estava relacionada com o escândalo, e que tinha sido tomada antes das acusações.

Além de protagonizar “House of Cards” com Robin Wright, Spacey, de 58 anos e duas vezes vencedor do Oscar, também é produtor executivo da série, que recebeu 46 indicações aos Emmy e ao Globo de Ouro.

A Netflix não divulga dados de audiência, mas a série – uma adaptação de um drama da BBC – já conquistou seu lugar na história da televisão, ao ser o primeiro programa original da plataforma de streaming, que hoje acumula produções de sucesso, como “Stranger Things” e “Orange is the New Black”.

A sexta temporada, cuja estreia estava prevista para 2018, estava sendo filmada em Maryland, aonde executivos da Netflix e da Media Rights Capital viajaram para se reunir com o elenco e os produtores na segunda-feira, após as acusações.

“Honestamente, não me lembro”

Em uma entrevista publicada no domingo, Rapp, hoje com 46 anos, disse que em 1986 Kevin Spacey o convidou para uma festa em seu apartamento em Nova York. Na época, os dois atuavam em peças na Broadway.

Segundo Rapp, ele estava no quarto de Spacey, então com 26 anos, vendo televisão, quando o ator apareceu na porta, no fim da noite, “como que cambaleando” e aparentemente bêbado.

Kevin Spacey então o empurrou para sua cama e se esticou em cima do adolescente, então com 14 anos, ainda segundo o relato de Anthony Rapp.

“Ele estava tentando me seduzir”, disse Rapp ao Buzzfeed News. “Não sei se eu teria usado essa linguagem, mas eu estava consciente de que ele queria ir para o lado sexual”, completou.

Rapp acrescentou que fugiu rapidamente e se escondeu no banheiro. Logo depois, deixou o apartamento e foi para casa.

“Honestamente, não me lembro deste incidente, que teria acontecido há mais de 30 anos”, respondeu Spacey na segunda-feira em sua conta de Twitter. Mas, “se me comportei como (Anthony Rapp) descreve, eu lhe devo minhas mais sinceras desculpas pelo que teria sido uma atitude em estado de embriaguez das mais inapropriadas”.

Rapp, conhecido principalmente pelo seu papel em “Star Trek: Discovery”, relatou o incidente em 2001, mas sem revelar a identidade do agressor. No domingo, explicou que o escândalo em torno ao produtor americano Harvey Weinstein o incentivou a ir além.

Weinstein foi acusado por cerca de 60 mulheres de cometer estupros, agressões e assédios sexuais. Na segunda-feira, o jornal The New York Times publicou novas revelações de agressões sexuais durante a década de 1970.

Spacey, que vive entre Londres, Nova York e Los Angeles, concluiu suas desculpas com uma revelação: “Eu gostei e tive encontros sentimentais com homens ao longo de toda minha vida e decidi hoje viver como gay”.

Muitos criticaram a declaração do ator, afirmando que, ao revelar sua homossexualidade, ele tentou desviar a atenção do escândalo sexual.

da Agência France Press