Não é preciso ser nenhum especialista em cinema para perceber que nenhum filme brasileiro chega perto de alcançar as marcas astronômicas de bilheteria dos filmes gringos. É assim aqui e em todos os outros países que não se chamam Estados Unidos. E não é de hoje também que o cinema nacional busca o seu lugar ao sol, ainda que à sombra dos blockbusters que agregam multidões graças à publicidade. A Globo Filmes e suas comédias vêm tentando fazer isso com certo sucesso, mesmo com qualidade questionável.

Mesmo que tenham orçamento suficiente, bons profissionais envolvidos na produção e muita criatividade, muitos filmes nacionais enfrentam seu maior desafio: os problemas de distribuição. Esse é considerado por muitos cineastas do Brasil o maior gargalo de nossa produção, pois quando não se tem a máquina de uma Globo Filmes trabalhando ao seu favor, publicidade e garantia de exibição estão longe de serem certezas. Numa tentativa de contornar esse problema através de uma proposta alternativa para ordenar gastos, ganhos e a distribuição, sete das maiores produtoras nacionais se uniram e formaram a NOSSA Distribuidora em 2011.

Apesar dos desafios, continuam surgindo grandes talentos no cinema brasileiro. Enquanto algumas pessoas continuam insistindo no estigma de que filme brasileiro só tem sexo e/ou palavrão (experimente ver um filme americano sem a dublagem para ver o que é filme com palavrão!), é possível perceber que as produções atuais seguem os mais variados estilos. Jorge Furtado, por exemplo, vem brindando o público com comédias fora do padrão “Zorra Total”, mas com uma levada bastante popular, como se pode conferir em “O Homem que Copiava” (2003), “Meu Tio Matou um Cara” (2004) e “Saneamento Básico, o Filme” (2007).

Dentre os dramas, impossível não relembrar “Central do Brasil” (1998). O sucesso de público e crítica foi dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Montenegro, que concorreu ao Oscar de Melhor Atriz. Anos mais tarde, “Cidade de Deus” (2002) conseguiu outro feito: concorreu ao Oscar de Melhor Diretor (Fernando Meirelles), Melhor Roteiro Adaptado (Bráulio Mantovani), Melhor Edição (Daniel Rezende) e Melhor Fotografia (Cesár Charlone), além de ter um público estimado em mais de 3 milhões de espectadores e ser, de fato, muito divertido. Até hoje o filme figura em listas gringas de melhores filmes de todos os tempos, como a da revista Times.

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Nesse seleto Top 3, há ainda lugar para “Tropa de Elite” (2007), de José Padilha. Ironicamente, ele se popularizou de maneira um tanto exótica, através da pirataria, mas trouxe uma marca de qualidade e apuro técnico. O filme venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim e sua continuação, “Tropa de Elite 2” (2010) se tornou o filme mais assistido da história do cinema nacional, contabilizando mais de 11 milhões de espectadores.

Fiz questão de citar filmes bastante populares nesse post, na tentativa de mostrar que é possível encontrar um meio termo entre sucesso de público e crítica. Porém, não se pode deixar de mencionar que o Brasil há muito produz seus próprios “filmes cult”, produções mais ousadas ou experimentais e que só chegam às telas de cinema em algumas grandes capitais. Nesse hall, pode-se citar os longas de Claudio Assis. Ele é o diretor de “Amarelo Manga” (2002), “Baixio das Bestas” (2006), e “Febre do Rato” (2011), todos bastante elogiados pela crítica e vencedores de prêmios aqui e no exterior. Ana Carolina é outra realizadora menos conhecida do grande público que traz uma identidade bem definida aos seus filmes, o que pode ser conferido em “Amélia” (2000) e “Gregório de Mattos” (2003).

Outras produções mais recentes figuram fácil numa lista de filmes nacionais dignos de culto. “Xingu” (2012), filme de Cao Hamburger, teve sua estreia durante o Amazonas Film Festival ainda em 2011. Com um enredo menos popular, o filme conta um pouco da trajetória dos irmãos Villas-Boas na luta contra a devastação e chacina de populações indígenas.

“Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios” (2011) também chamou a atenção pela qualidade nesses últimos anos. Aliás, a filmografia de Beto Brant, com ou sem a parceria de Renato Ciasca na direção, é interessantíssima, como bem provam seus filmes de temática policial “O Invasor” (2001), “Crime Delicado” (2005) e “Cão Sem Dono” (2007).

Desde o ano passado, o documentário “Elena” (2012), de Petra Costa, vem causando burburinho entre o público fã de filmes brasileiros mais alternativos. Ele é apontado como um tocante registro da diretora ao abordar a vida de sua irmã, a Elena do título, que partiu para Nova Iorque em busca de realizar o sonho de ser atriz. Aliás, o público manauara finalmente terá a chance de conferir o filme no dia 10 de agosto, durante o encerramento do Seda (Semana do Audiovisual), que acontecerá no Espaço Cultural Café Teatro, localizado na Avenida Sete de Setembro – 377 – Centro.

Um pequeno post como esse não dá conta de abarcar toda a diversidade dos filmes recentemente produzidos no Brasil. Porém, é possível perceber que há um potencial enorme para atingir os mais variados públicos, dos que buscam uma comédia bacana para ver com a família até os que preferem um filme “cabeça”. Com um pouco mais de esforço para a distribuição e publicidade desses filmes, aliados à políticas mais incisivas de inserção deles nas salas de cinemas, não há razão para que “filme brasileiro” passe de estigma à elogio.