Há quem ignore um pouco a importância de uma personagem como Bridget Jones. “Inaugurada” em uma coluna no jornal The Independent há exatos 21 anos, ‘Bridge’ foi, de certa forma, um arquétipo da mulher moderna que não vive entre os sapatos Manolo Blahnik de “Sex and the City” (não que isso seja um problema): acima do peso e “fora dos padrões”, a britânica divertiu leitores mundo afora e logo ganhou as telas de cinema.

O primeiro filme, de 2001, é uma graça e fez tanto sucesso que levou Renée Zellweger a uma surpreendente (porém merecida) indicação ao Oscar de Melhor Atriz. A sequência, lançada três anos depois, foi recebida com frieza. Porém, ainda que “No Limite da Razão” tenha seus problemas – sobre os quais falarei neste texto -, é injusto relegá-lo à prateleira dos “filmes ruins”. Mesmo que não tenha o brilho de seu antecessor, o título se fortalece graças à atuação de Zellweger, que torna críveis as impensáveis situações propostas pelo roteiro.

Baseada no segundo livro da “franquia” Bridget Jones (há ainda um terceiro, lançado recentemente, mas que não será a base para o próximo filme), a história retoma onde o primeiro filme parou: após conquistar Mark Darcy e abandonar a pecha de ‘solteirona’, Bridge agora tem que lidar com os problemas da vida conjugal e com a autoestima, que teima em descer a ladeira principalmente quando ela está junto aos colegas de trabalho do marido.

Muitos defendem que o filme perde em retratar a vida ‘feliz’ da britânica. No entanto, acredito que o maior problema da história está na direção de Beeban Kidron. Com filmes como o ótimo “Para Wong Foo, Obrigado por Tudo” no currículo, a diretora parece não ter tanta intimidade com Bridget quando a antecessora Sharon Maguire tinha. Há sequências bem-humoradas, como a deliciosa abertura que evoca “A Noviça Rebelde” ao som do “ninguém faz melhor que você” de “Nobody Does It Better”, de Carly Simon. Ainda assim, esses momentos são pequenos perto do distanciamento com que Kidron trata a história de Bridget. Nos pontos mais absurdos do longa – a viagem para o Taiti e a prisão da protagonista -, faltou um pouco mais de humor autodepreciativo, coisa que no livro há de sobra.

Mas é nesses momentos que a estrela de Zellweger brilha. A texana é uma estrela com talento subestimado para a comédia, vide o ótimo “A Enfermeira Betty” e o pouco lembrado “Abaixo o Amor!”, além de, é claro, “O Diário de Bridget Jones”. Zellweger consegue, no entanto, equilibrar o ‘pastelão’ com uma humanidade ímpar, o que torna os conflitos de Bridget palpáveis ao espectador. Enquanto Colin Firth e Hugh Grant fazem mais do mesmo, ela realmente vende o papel com graça. Para citar apenas um exemplo, cito a cena em que a protagonista participa de um quiz sobre cultura pop durante uma festa do trabalho de Darcy – eu, pelo menos, sempre cruzo os dedos para que Bridget vença a peleja.

Não dá para ignorar que muitos dos problemas do filme residem na forma com que trata a competição entre mulheres, mas a solução que o roteiro dá ao conflito entre Bridget e Rebecca (Jacinda Barrett) é bem-humorada e surpreendente, além de ser mais densa que a crise semelhante enfrentada no primeiro filme. O tom caricatural com que o filme retrata as mulheres asiáticas é de fazer cerrar os olhos, mas, novamente, há uma solução com fundo feminista que dá para fazer arrancar um sorrisinho.

É, Bridget Jones, ninguém faz melhor do que você. Não nos desaponte no fim do ano e traga mais um guilty pleasure para a nossa estante.