O Cine Set continua com a missão de descobrir qual o “filme da vida das pessoas”. No episódio de hoje, um clássico trash da sessão da tarde, dois filmes de 2004 que ainda fazem muito sucesso, uma obra-prima do cinema japonês e outra do cinema nacional, e um título que ensinou muita gente o que é “carpe diem”.

Engraçado ver a diferença de gostos e o que cada filme significa na vida das pessoas entrevistadas. Algumas trabalham na crítica cinematográfica, outras são integrantes de um grupo de cinéfilos que ensinou muito sobre a Sétima Arte esta que vos escreve, e outras são apenas apreciadoras das imagens projetadas na telona. No fim das contas, cada um tem uma trajetória e a relação que cada um cultiva com o cinema é, de certa forma, a síntese dessa história.

Ah, quer participar dessa seção nova do site? Manda uma inbox pro nosso Facebook!


Gabriel Machado – Elvira, a Rainha das Trevas, de James Signorelli

O jornalista Gabriel Machado tem no corpo a paixão por vários filmes – a maioria deles, terror e trash. Uma das tatuagens é a lembrança do filme que mais marcou a sua vida: “Elvira, a Rainha das Trevas”, de 1988. “Eu lembro que devia ter entre seis e oito anos quando vi pela primeira vez. Estava na casa da minha avó, aguardando a hora de ir para a aula de inglês, quando começou. Assisti a primeira parte e não desgrudei os olhos da tevê. Na hora, inventei um mal estar para faltar o inglês e terminar de assisti-lo. E assim o fiz por muitos anos, ainda: faltava qualquer compromisso quando o filme passava. Para se ter uma noção, até hoje assisto a ‘Elvira – A Rainha das Trevas’ com a dublagem da Globo. Foi o primeiro filme que vi cuja protagonista fugia dos padrões que estava acostumado, na década de 1990. Elvira também passou uma mensagem que levo comigo até hoje: que é ok ser diferente”, justifica.


Bianca de França Zasso – Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa

Falando em Elvira, a crítica de cinema e jornalista Bianca Zasso (que é uma Elvira) cita  “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa,  como parte de sua formação pessoal e profissional. “O primeiro filme japonês a gente nunca esquece. No meu caso, meu primeiro exemplar cinematográfico nipônico também foi meu primeiro objeto de pesquisa.Eu era uma aspirante a jornalista naquele ano de 2008 quando me aventurei a estudar o filme que havia mudado meu olhar para sempre.Os samurais que ajudam a defender uma aldeia de agricultores dos saques de um grupo de ladrões fizeram com que eu encontrasse poesia nas cenas de ação. Jamais vou esquecer a batalha na chuva, as peripécias de Toshiro Mifune e o jeito sábio de Takashi Shimura, que tornou-se um dos meus atores preferidos.Como cinéfila que sou, sempre é complicado ater-se a um único filme como preferido. Mas entra ano e sai ano e Os Sete Samurais, assim como todos os trabalhos realizados pelo diretor Akira Kurosawa, não saem da minha lista”, sintetiza.


Lilian Corado – Doutor Jivago, de David Lean

O drama que tem a Revolução Russa como pano de fundo tem um lugar especial no coração cinéfilo da servidora pública Lilian Corado. “Não tenho um filme da minha vida, mas com certeza o filme Doutor Jivago marcou a formação do meu gosto pelo cinema, lembro de ter ficado encantada com história de amor de Lara Antipova e Yuri Jivago, de achar o Omar Sharif lindo. A complexidade das relações entre os personagens chamou a atenção na história, a paixão nascida entre o médico e a enfermeira em meio à revolução, o frio de congelar os ossos da Rússia. Na primeira vez que o assisti era muito nova, então tive que assistir novamente tempos depois poder entendê-lo melhor”, resume.


Flávia Ferreira – Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michel Gondry

A acadêmica de Psicologia, Flávia Ferreira, é uma apaixonada pelas ideias mirabolantes do roteirista Charlie Kauffman e, dos títulos que possuem a assinatura dele, “Brilho Eterno…” é o favorito. “Aquela coisa onírica de poder entrar na cabeça do personagem e apagar uma memória (no caso todas as memórias relacionadas à uma pessoa específica), quem nunca quis? Que ideia genial! Fora o tipo de narrativa construída por Gondry que marca uma geração de filmes pop-cult feita por diretores que estavam acostumados a trabalhar com videoclipes, como Spike Jonze Sofia Coppola e o próprio Michel Gondry.  Visualmente é um convite, muito bem costurado com bons efeitos especiais e cores vibrantes que prendem o público. As atuações perfeitas de Jim Carrey e Kate Winslet, assim como a dos coadjuvantes Mark Ruffalo, Elijah Wood e Kirsten Dunst deixam tudo mais interessante ainda”, diz.


Macário Carvalho – Central do Brasil, de Walter Salles

O professor Macário Carvalho é fã do trabalho dos irmãos Walter e João Moreira Salles. Mas, entre ‘Santiago’, ‘Terra Estrangeira’, ‘Abril Despedaçado’ e os outros títulos das duas filmografias, o que se destaca ainda é “Central do Brasil”, de 1998. “O filme da minha vida é ‘Central do Brasil. Superficialmente, parece apenas a história da amizade  de uma senhora com uma criança, mas na verdade é muito mais que isso. Ele é uma metáfora dupla: ao mesmo tempo da busca do Brasil pelas suas raízes identitárias mais profundas e da busca do ser humano tornado cínico e dessensibilizado pelo mundo moderno da sua própria capacidade de sentir, de sonhar e se solidarizar com o próximo. É um filme muito otimista que acredita na bondade e na beleza do ser humano”, explica.


Luciano Abreu – A Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir

Perguntar um filme preferido ao jornalista Luciano Abreu parece uma tarefa difícil, mas, entre clássicos recentes e sucessos de bilheteria, ele escolheu as lições de vida do singelo trabalho de Peter Weir que ajudou a consagrar o falecido Robin Williams no fim dos anos 1980.

”Poderia citar o realismo sem cor e ao mesmo tempo perturbador de a Lista de Schindler (1993) ou talvez apegar-me a jornada de vingança fantasticamente construída de Ben-Hur (1959) e Gladiador (2000). Quem sabe fosse mais fácil escolher a insanidade de O Silêncio dos Inocentes (1991) ou a ficção de O Oitavo Passageiro (1979). Aí me vem à cabeça que deixar escapar a história de Andy Dufresne em Um Sonho de Liberdade (1994) seria um pecado. E como não lembrar da composição do mestre John Williams em Tubarão (1975)? O medo marca a memória. Foi assim com O Iluminado (1980), Carrie, a Estranha (1976) e Poltergeist (1982). Lágrimas brotaram em Shine (1996), As Pontes de Madison (1995), entre tantos outros. É, a lista é demasiadamente grande. A malícia me obrigou a citar tantos, por ser incapaz de escolher um. Mas pra não fugir a responsabilidade tenho que admitir meu encanto pelo professor John Keating de A Sociedade dos Poetas Mortos (1989). Tantas lições, descobrimentos. Carpe diem ensinava o professor do filme, o talentoso e já falecido Robin Williams. Aproveite o dia. Valorize cada momento. Assim tentei viver. Ainda tento. E de tudo que vi no filme de Peter Weir carrego comigo a essência de uma mensagem pra vida toda. As palavras são do poeta americano Henry David Thoreau. ‘Fui à floresta, porque queria viver profundamente, e sugar a essência da vida. Eliminar tudo que não era vida e não ao morrer, descobrir que não vivi’”.


Victor Nery – Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, de Alfonso Cuarón

No caso do professor de inglês Victor Nery, o cinema foi responsável por lhe dar o primeiro empurrão em direção à carreira que hoje segue. O filme? “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, de 2004. “Escolher o filme da minha vida é quase impossível pra mim, mas eu diria que é o terceiro filme da franquia Harry Potter. Foi através dele que eu me apaixonei pela saga e comecei a ler os livros (sim, primeiro vi até o terceiro filme pra começar a ler os livros). Esse filme divide opiniões entre os fãs, mas acredito que o Alfonso Cuarón fez um excelente trabalho e ele é, sem dúvida, meu favorito junto com o último. HP também foi o primeiro livro que li em inglês e J.K. Rowling foi a responsável por eu ter me apaixonado pela língua. Se eu tenho o meu namorado e emprego hoje é por causa do terceiro filme de Harry Potter que abriu um novo mundo pra mim”, finaliza.