Uma característica dos filmes exibidos no Amazonas Film Festival e, claro, em festivais de cinema por todo mundo, é a escolha por filmes de cunho artístico, que não priorizam o lado comercial, e por conta disso tais trabalhos possuem um ritmo diferente do cinemão pipoca, com planos mais elaborados, densos, pouca trilha sonora, evitando artifícios didáticos ou de fácil apelo.

Por conta disso, admito que fiquei com uma sensação estranha quando comecei a assistir O Futuro, de Alicia Scherson. O filme começa com narração em off, montagem ágil, e uma trilha de suspense que chama muito a atenção pra si, dando a impressão de que se veria um trabalho com uma cara mais popular e de fácil assimilação. Mas logo após o início, o filme parece querer ir por outro caminho e opta por planos mais longos e um ritmo mais cadenciado.

Mas estou me adiantando, antes devo explicar a trama. O filme conta a história de Bianca (Manuela Martelli) e Tomas (Luigi Ciardo), dois jovens irmãos que perdem os pais em um acidente de carro, e tem que agora viver juntos e conseguir meios para se sustentarem. Ela começa a trabalhar em um salão de beleza, e ele em uma academia de ginástica. Depois de pouco tempo, dois amigos de Tomas pedem para passar um tempo na casa com eles, e o que parecia uma visita temporária torna-se uma morada permanente. Certo dia, os dois rapazes, querendo encontrar uma forma de ganhar dinheiro, propõem a Bianca e Tomas roubar o cofre de Maciste (Rutger Hauer), um ex ator cego que vive sozinho em sua casa.

Bom, como dizia anteriormente, o filme começa sugerindo um tipo de linguagem e depois segue um outro caminho. Até aí nenhum problema, mas o fato é que a forma como Scherson desenvolve a trama torna tudo ou muito enfadonho, ou sem a densidade devida. O primeiro grande problema é que o conflito central da trama demora demais a acontecer, temos uns quarenta minutos de um limbo extremamente desinteressante, visto que neste momento o que vemos são dois garotos que perderam os pais, e isso não desempenha nenhum papel no filme. Eles não sofrem nada com a perda dos pais, o que obviamente não é um problema visto que trata-se de uma escolha da direção, mas esse suposto desprendimento é colocado não de uma maneira ignorada, mas inexpressiva. A ausência dos pais não interfere em nada pra mais ou pra menos.

E quando o filme finalmente apresenta o conflito principal, parece que uma coisa estranha está no ar o tempo inteiro. Parece-me que aquele clima “descompromissado” do início permanece no filme através das atuações, da fotografia e da direção durante todo o filme, sendo que o roteiro, baseado na obra de Roberto Bolaño, vai por um caminho denso desenvolvendo uma história traiçoeira e cheia de subtextos que os outros elementos do longa não acompanham, o que faz com que tudo o que é colocado na tela seja absolutamente inverossímil.

É como se Scherson não se decidisse sobre o que ela quer mostrar, e que tipo de sensações ela quer causar na plateia, e o que é visto acaba sendo uma salada de coisas conflitantes sem peso nenhum. Não emociona, não é engraçado, nem causa expectativa.

Como resultado disso, tudo o que se segue torna-se irrelevante, pois as situações vão se sucedendo com tamanha falta de densidade e verdade, que já não importa mais o que quer que aconteça. O que causa um certo pesar, pois apesar dos problemas, o filme demonstra ter uma boa história de fundo, e um elenco realmente interessado no trabalho.

NOTA: 5,5