É bastante comum nas redes sociais, principalmente agora no finalzinho do ano, vermos posts e mais posts dizendo quão trágico 2016 foi, de como ele não vai deixar saudade pra ninguém, de que foi um ano pra se esquecer, etc.. Aqui e ali, porém, surgem comentários constrangidos dizendo que, mesmo com muitas coisas ruins, esse foi um ano em que boas coisas aconteceram, que nos surpreenderam, que apontam coisas muito positivas para o futuro.

Acredito que ambas são verdadeiras para falarmos do que foi 2016 para o audiovisual amazonense.

É claro que ainda continuamos numa condição muito complicada, de constante descrédito perante o poder público. Em momentos de “crise”, que supostamente estamos passando no momento, passamos mais um ano sem editais públicos vindos da Secretaria de Estado. Quer dizer, até foi lançado um edital esse ano, mas ele não segue nenhum padrão de datas e divulgação de resultados, está emperrado na secretaria por até não sei quanto tempo, e ninguém parece capaz de esclarecer para a sociedade o que acontece de fato. Torcer pra que haja a divulgação dos selecionados ano que vem, mas realmente não há como saber.

Já o edital da Manauscult saiu, embora cercado por controvérsias, com uma análise pouco transparente e democrática, fazendo com que fosse necessário o lançamento de outro edital com apenas uma vaga, para curta-metragem documentário, retificando falhas no edital anterior. Evoluímos muito na esfera municipal nos últimos anos em relação a editais, é preciso dizer, mas ainda é possível crescer de uma maneira que seja boa para todos, afinal de contas em 2016, já chegando em 2017, de maneira inacreditável ainda não temos Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Enquanto o pensamento de que o olhar para cultura for o último da administração pública, e que as prioridades são outras, a desinformação e ignorância continuarão deturpando a nossa compreensão de sociedade e do papel do Estado. O Amazonas Film Festival, por exemplo, não faz falta por conta dos jantares dançantes e do serviço do hotel, mas por possibilitar a vinda de grandes nomes da indústria cinematográfica do mundo inteiro pra cá, e por dar aos nossos filmes uma visibilidade incomparável. Achar que investimento em cultura significa festa e luxo é o pensamento arcaico de quem está preso a uma ideia muito equivocada de sociedade.

Mas como já disse, 2016 também foi um ano de evolução para o audiovisual amazonense. Mais produtoras amazonenses foram aprovadas no Prodav 08, edital do Fundo Setorial do Audiovisual voltado para a produção de filmes e séries destinadas às TVs Públicas, e o Amazonas foi, pelo segundo ano consecutivo, o estado que mais aprovou projetos neste processo seletivo. Neste ano também foram produzidos os projetos selecionados em 2015, e a partir do ano que vem poderemos acompanhar os resultados desses projetos.

Crítica: When I Get Home, de Aldemar Matias

Os realizadores audiovisuais amazonenses de maior destaque também tiveram um ano importante. Sérgio Andrade, acompanhado de Fábio Baldo, teve o seu segundo longa, Antes o Tempo Não Acabava estreando em Berlim, e ganhou prêmios em festivais nacionais e internacionais. Já Aldemar Matias, com os seus dois últimos filmes, When I Get Home e O Inimigo, também teve uma importante circulação em festivais internacionais em 2016, ganhando prêmios em festivais na França, Inglaterra e Espanha.

Além disso, os resilientes diretores amazonenses tiveram um ano bastante produtivo, com diversos novos filmes sendo lançados, dando mais uma vez a prova de que o que falta para a nossa produção deslanchar é formação e investimento, pois gente interessada e produtiva existe, e em bom número.

Boa parte dessa produção foi vista durante a II Mostra do Cinema Amazonense, sem dúvida o acontecimento que o audiovisual amazonense mais tem a comemorar neste ano. Expandindo o papel realizado pela primeira mostra, neste ano o festival contou com a presença importante do crítico de cinema Edu Fernandes, e mostrou que essa iniciativa é o que temos de mais forte como classe cinematográfica, é o máximo que o nosso movimento conseguiu organizar até hoje, e que teve em 2016 uma edição que indica perspectivas bastante otimistas para o futuro, haja vista a sala de cinema do Cinépolis lotadíssima para assistir a Antes o Tempo Não Acabava, filme amazonense, realizado por parte de profissionais amazonenses.

Antes o Tempo Não AcabavaE o que esperar em 2017?

Acredito que essa pergunta já foi mais difícil de ser respondida, pois o que foi plantado nos últimos anos já assegurou perspectivas interessantes para o ano vindouro.

Sérgio Andrade já possui um projeto selecionado em outro edital federal, A Terra Negra dos Kawa, e ano que vem Antes o Tempo Não Acabava vai ser lançado em circuito comercial no Brasil.

Finalmente poderemos assistir ao resultado dos projetos selecionados no Prodav 08/2014. A expectativa é que tenhamos diversos produtos de boa qualidade sendo lançados por produtoras locais, além de outros produtos que estarão sendo produzidos na cidade, pelo Prodav 08/2015, com perspectiva de lançamento para 2018.

Ainda em 2016 os realizadores amazonenses ganharam o retorno de um possível grande aliado. A TV Ufam retomou as suas atividades, e sem dúvida pode ser um parceiro muito importante para os realizadores exibirem os seus trabalhos, e ser um verdadeiro ponto de encontro entre o público e os cineastas locais a partir do ano que vem.

Mostra do Cinema AmazonenseCada vez mais a Mostra parece ser um caminho sem volta, e para 2017 é necessário que ela aconteça expandindo-se, e estreitando ainda mais o diálogo entre os realizadores, para que entendamos que todos ganham se mais gente conseguir ganhar bons editais, participarem de festivais importantes, pois quanto mais qualidade tivermos em nossos trabalhos, mais sairemos enriquecidos das trocas e parcerias com os nossos colegas.

Usando o clichê de especular as boas perspectivas para o ano seguinte, acredito que saímos fortalecidos de 2016, demonstramos força e criatividade pra enfrentar as adversidades de sempre, e ainda conseguimos realizar bons projetos para desenvolver em 2017 e 2018. Ainda é difícil dizer se estamos chegando perto dos estados mais prolíficos na produção audiovisual brasileira, mas certamente estamos trabalhando para isso e, pelo menos, por enquanto, o futuro parece estar do nosso lado.