Arrecadando US$ 26,8 milhões nas bilheterias americanas durante o seu primeiro final de semana em cartaz, “O Mistério do Relógio na Parede” mostrou o peso de Cate Blanchett e Jack Black como protagonistas do longa. Os rostos conhecidos, entretanto, não são suficientes para manter o interesse do espectador até o fim da trama.

A história acompanha o órfão Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro), que se muda para a casa do tio Jonathan Barnavelt (Jack Black), após ter perdido os pais em um acidente de carro. Além de Jonathan, o menino é recepcionado por Florence Zimmerman (Cate Blanchett), amiga de seu tio. Lewis então descobre que ambos são feiticeiros e passa a se interessar também pelo ofício. A partir deste primeiro momento a história se divide entre o cotidiano de Lewis e a ameaça trazida pelo antigo parceiro de Jonathan, o feiticeiro Isaac Izard (Kyle MacLachlan).

Com essa proposta, o filme se apoia em alguns clichês para construir sua narrativa. O roteiro propõe uma história já conhecida (quase um Harry Potter sem Harry Potter) e adiciona efeitos “mágicos” em seu visual para instigar o espectador. Em meio a estes aspectos do roteiro, o bom trabalho de Eli Roth como produtor em diversos longas consegue compensar as ausências do roteiro.

Apesar de não possuir grandes méritos, um grande ponto positivo do roteiro é a química entre o trio de protagonistas. Os personagens são construídos de forma simples e eficaz, apresentando todos como “órfãos” para destacar a convivência e relações do trio. Os veteranos Jack Black e Cate Blanchett não possuem dificuldades neste quesito, principalmente por não se apresentarem como figuras paternas para Lewis como era esperado.

Com as narrativas e até mesmo cenas de terror, o filme se direciona perfeitamente para o público adulto, deixando com o humor a lembrança de seu público-alvo. Esse tom mais leve se mostra ineficiente com piadas que soam bobas até mesmo para crianças e, além de não serem eficazes, muda o ritmo do filme diversas vezes, seja em meio a tramas sérias ou cenas contemplativas.

A produção do filme colabora muito no sentido da fantasia, dando destaque positivo para os cenários e figurinos. Por isso, o longa possui muitos atrativos visuais, principalmente quando o cenário muda para a escola de Lewis, onde a cenografia carregada de terror deixa espaço para tons mais claros e personagens menos densos.

Mesmo com dificuldades, a trama do filme se encaminha bem até o terceiro ato e consegue segurar a atenção do espectador para os minutos finais.  Entretanto, quando o clímax finalmente é apresentado, a história desanda totalmente. A construção do vilão Isaac Izard é confusa, situação atenuada pelo visual adotado para o vilão. Da mesma forma, os plots twists do final não conseguem acompanhar a grandiosidade criada para o vilão, apresentando uma narrativa boba novamente. Com ajuda desses fatores, a trama no final se torna confusa, variando entre um o terror mais denso e simbólico e um terror comédia estilo ‘Todo Mundo em Pânico” com péssimos efeitos visuais.

“O Mistério do Relógio na Parede” é, definitivamente, um filme interessante para o público adulto, pois apresenta simbologias e uma construção consistente no início de sua trama. Entretanto, como entretenimento infantil o longa não possui qualidades consideráveis, dialogando de forma superficial com seu público-alvo, sem apresentar características que consigam manter um bom desfecho e, até mesmo, uma boa justificativa para o título do filme.