2017 foi um ano de importantes realizações para o audiovisual amazonense. Tivemos o lançamento em circuito comercial de um longa-metragem produzido aqui, Antes o Tempo Não Acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, a inauguração de um novo cinema de rua (fora dos shoppings centers) com o novo Casarão de Ideias, a, de longe, mais bem sucedida edição da Mostra do Cinema Amazonense, que encheu o Café Teatro em todos os 4 dias de programação, diversas produtoras locais movimentaram o mercado da cidade com a realização de séries e um novo longa, além de novos curtas  que representam o desejo dos profissionais locais de se manterem ativos, aprendendo na prática.


SÉRIES DO AMAZONAS A CAMINHO

Iniciativas muito importantes, que têm como característica o fato de indicar novas perspectivas para Manaus a partir do ano que vem. A começar pelas séries contempladas no edital Prodav 08/2015, que estiveram em produção durante praticamente todo o ano de 2017, e que certamente representaram uma fonte rica de experiência para todos. O Amazonas teve 6 produções contempladas – o estado brasileiro que mais aprovou nas duas edições da linha – que poderão ser vistas a partir do segundo bimestre de 2018 em todas as TVs públicas brasileiras.

Importante lembrar que essas séries serão exibidas nas TVs públicas em um primeiro momento. Depois de seis meses de exclusividade, as produtoras podem negociar os produtos com quaisquer emissoras, e plataformas online. Levando em consideração que essas produções já passaram por uma análise temática e estilística durante o processo de seleção, é possível dizer que os produtos possuem capacidade de gerar interesse em outras praças, e pensar a veiculação deles em canais de TV por assinatura, ou meios online, não é um sonho impossível. Isso seria para meados do segundo semestre.

As séries de ficção realizadas foram Boto, da Artrupe, e Transviar, da Eparrêi Filmes, ambas de 13 episódios de 26 minutos; duas séries de documentário, Pasito Palante, da Formiga de Fogo Filmes, 5 episódios de 26 minutos, e Amazônia Legal, da Amazônia Video Produções, 13 episódios de 26 minutos; uma série de animação, Lupita no Planeta de Gente Grande, da J. O. de Queiroga, 13 episódios de 7 minutos; e um telefilme, Travessia, também da Eparrêi.

NOVO LONGA DE SÉRGIO ANDRADE E FESTIVAIS

Como disse anteriormente, neste ano tivemos o lançamento em circuito comercial de Antes o Tempo Não Acabava, mas essa não é a única notícia envolvendo Sérgio Andrade em 2017. As gravações de A Terra Negra dos Kawa, terceiro longa do diretor, foram realizadas entre agosto e setembro. Não se sabe muito sobre o enredo da trama, mas com o alcance que os dois filmes anteriores do cineasta tiveram, sem dúvida a expectativa é de que novamente tenhamos uma obra amazonense em festivais nacionais e internacionais de destaque.

Pegando carona no crescimento da terceira edição da Mostra do Cinema Amazonense, ao que tudo indica poderemos ter uma quarta edição maior, mais ambiciosa. Nitidamente ganhando tamanho e representatividade, a Mostra apresentou um sensível aumento de público, e iniciou uma profícua parceria com a Manauscult, que tende a ser benéfica no longo prazo. Se ela passar a ser um festival em que a classe de fato participe, opine, chame para si a responsabilidade, não apenas no Facebook, tudo leva a crer que ocupará papel de destaque para o cinema amazonense.

Além da Mostra, Manaus terá outro festival de cinema. A Artrupe vai realizar o Olhar do Norte, de 25 a 29 de janeiro. Ele contará com duas mostras competitivas, Amazonas e Região Norte, e duas mostras paralelas, Amazonas Clássico (com curtas amazonenses de destaque nos últimos anos) e Brasil, que irá trazer curtas brasileiros participantes dos mais importantes festivais nacionais recentes.

Para o ano que vem também existe uma sinalização dos órgãos municipais e estaduais de cultura que haverá maiores investimentos para a produção audiovisual, ambos em parceria com a Ancine. Com a Manauscult o diálogo já existe há alguns anos, embora 2017 não tenha sido um ano bom, pois não tivemos chamada pública para o audiovisual. Já existe uma sinalização de que em breve será lançado o novo edital. Esperamos que saia o quanto antes, e com valores que possibilitem que o mercado amazonense ainda se mantenha aquecido, como neste ano.

UEA - Curso de Produção AudiovisualCURSO DA UEA EM ALERTA

Na Secretaria do Estado, o secretário Denilson Novo, que substituiu Robério Braga, reuniu-se com todos os segmentos artísticos, e se disse entusiasta do audiovisual. Em conversas com a classe, ficou estabelecido que é interesse da SEC estabelecer uma relação mais próxima com as parcerias oferecidas pela Ancine, num modelo que já beneficiou muitos estados, e que o Amazonas segue de fora, aproveitando muito pouco. Por se tratar de um artista que há pouco estava na mesma situação que os demais, quero crer que a SEC vai se mobilizar mais nesse sentido, entendendo que estreitar essas parcerias com os órgãos federais é um caminho proveitoso, e pouco explorado na administração de Robério Braga.

Outra questão controversa é o possível término do curso de audiovisual da UEA. Para este ano que entra, não haverá vestibular, e os alunos da última turma recentemente desenvolveram os seus trabalhos de conclusão de curso. Então, infelizmente não teremos a continuidade dessa empreitada por algum tempo. Uma situação muito séria, principalmente tendo em vista que estes alunos já estavam conseguindo adquirir algum espaço no cenário local, além de que o curso claramente possibilitava uma chance de especialização na área que nenhuma outra instituição em Manaus oferece no mesmo nível.

Chega a ser surpreendente que o curso esteja chegando ao fim, mesmo com este viés de crescimento que a produção amazonense vem apresentando, indicando que há demanda na cidade para esse tipo de especialização. Sem dúvida, é um ponto que merece toda a atenção da classe, e que precisa haver cobrança no poder público para que as conquistas alcançadas não sejam perdidas.

Como muita coisa foi produzida em 2017, certamente a responsabilidade para o ano que vem é ainda maior. Se as coisas correrem conforme o previsto, teremos produções amazonenses voando alto, e nossos profissionais com uma oportunidade de crescimento poucas vezes vista no passado recente, mesmo com todas as precariedades que persistem na nossa cidade, e com as incógnitas que um ano eleitoral reserva. Que sigamos fortes e resilientes.