Mortes inesperadas no mundo do cinema fazem com que certos filmes sem importância ganhem dimensão muito maior que mereciam. O misto de saudosismo e tristeza domina o público e até ajuda produções irregulares a obter impressões mais satisfatórias do que em condições naturais. Para citar dois casos recentes, o confuso “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus” com Heath Ledger e o fraco “Uma Nova Chance de Amar” com Robin Williams foram mais vistos depois da tragédia envolvendo os protagonistas.

O mesmo acontece agora com “O Último Concerto”, produção protagonizada pelo excelente Philip Seymour Hoffman, morto em fevereiro deste ano. Apesar de contar com nomes fortes como Christopher Walken e Catherine Keener, drama dirigido pelo estreante Yaron Zilberman nada mais é que uma obra competente sem grande brilho.

Produção acompanha a desestabilização de um famoso grupo de cordas após a descoberta que o violoncelista Peter Mitchell (Walken) está com Mal de Parkinson. Isso inicia uma disputa entre os dois violinistas: Daniel Lerner (Mark Ivanir) quer continuar sendo o responsável por ditar o ritmo, enquanto Robert Gelbart (Hoffman) pretende deixar de ser o número 2 e intercalar com o companheiro a liderança do conjunto. No meio de tudo isso está Juliette Gelbart (Keener) precisando conciliar o problema profissional com uma crise no casamento.

Toda a aparência de solidez apresentada pelo grupo mostra-se tão tênue quanto os acordes mais delicados das composições tocadas, sendo o mais leve abalo capaz de revelar as mágoas e desejos represados pelo comodismo do dia a dia. Nenhum personagem mostra melhor isso do que Robert: sempre rebaixado a uma condição de segundo plano tanto no aspecto profissional quanto pessoal, ele enxerga a chance de virar o jogo e tomar as rédeas da própria vida na possibilidade de mudança no grupo. A recusa, entretanto, acaba sendo uma forma dele se afundar ainda mais na insegurança. Outro personagem interessante de “O Último Concerto” é Peter. Fragilizado pela morte recente da esposa, ele agora enfrenta o prazo para a perda da capacidade motora e, consequentemente, deixar de fazer o que mais ama. Olhar para o mundo e saber que, em breve, não estará mais ali de forma sã faz com que ele, pelo menos, busque no tempo que resta deixar o seu maior legado vivo. Para variar, Hoffman e Walken acertam no tom e compõem figuras densas na medida para envolver o público.

Pena que a outra ponta da história não consiga ter a mesma força e faça o filme perder o nível. Lerner até começa interessante com o tom misterioso e introvertido, contraponto perfeito para o duelo com o explosivo Robert. O problema é quando ele se envolve com a filha do amigo (Imogen Poots), relacionamento esse que não convence pela imaturidade da garota, apesar de toda a beleza dela. Isso rende cenas patéticas como a fuga do quarto pela janela ou do beijo roubado digno de novela global, ampliado pela atuação em modo sonâmbulo de Mark Ivanir. Com tanta coisa na trama, os dramas de Juliette ficam sem o desenvolvimento necessário, pois, ela é a personagem que amarra todas as pontas da história. Se o casamento turbulento com Robert chega a ser bem explorado, a discussão com a filha e o romance do passado com Lerner ficam sem o devido espaço para se compreender a dimensão exata, restando cenas apressadas. Essa confusão atrapalha o trabalho de Catherine Keener, fazendo o possível para entregar um bom trabalho.

Com uma bela trilha sonora de música clássica e uma direção pouco inspirada de Zilberman, “O Último Concerto” acaba na lista dos filmes esquecíveis. Será exibido na TV e você ficará perguntando se já viu. Somente se lembrará que foi uma obra póstuma de um dos melhores atores de Hollywood dos últimos anos.

NOTA: 6,0