A princípio, “Os 33” parece mais um daqueles dramas baseados em catástrofes reais que miram diretamente no âmago sentimental do espectador. No final das contas, ele é isso mesmo: o extremo respeito aos seus personagens e à tradição do cinema narrativo impede que ele transcenda o lugar-comum rumo a algo que valha a revisita posterior.

Claro, nem todo filme busca essa transcendência, fato plenamente aceito em se tratando de filmes de gênero, mas não tanto quando o assunto é drama – vida injusta. Por conta disso, é válido dizer que, se levarmos em consideração seus modestos propósitos, “Os 33” é, de certa forma, um sucesso.

Maior parte desse feito vem de atuações que, ainda que não representem o ponto alto da carreira de nenhum membro do elenco, seguram a onda de um roteiro preocupado demais em estabelecer pontos narrativos através de clichês em busca da tão sonhada audiência internacional, a nova luz do fim do túnel das produções de médio porte.

Antonio Banderas está ótimo como o líder dos mineiros presos sob a terra após um desmoronamento e Rodrigo Santoro convence como o idealista ministro das minas chileno. O real destaque vem na forma de Juliette Binoche, mostrando aqui a qualidade comumente associada a Meryl Streep de trazer credibilidade aos papeis mais pedestres.

Como irmã de um dos soterrados, o filme sua personagem como a porta-voz das famílias dos mineiros e, enquanto isso renderia uma atuação de uma nota só na mão de atrizes de segundo ou terceiro calibre, Binoche traz todo o seu arsenal para torná-la humana. Seu interação com o personagem de Santoro é um dos pontos altos do longa.

A diretora mexicana Patricia Riggen, que vem de projetos pequenos voltados para o público latino-americano e telefilmes, não imprime sua marca no tempo de projeção, mas, pelo menos, não deixa a injeção de capital americano transformar seus protagonistas em estereótipos.

A fotografia de Checco Varese, no entanto, é de tirar o chapéu: tomadas aéreas belíssimas e elaborados planos-sequência marcam o longa. De fato, a fotografia pode até ser culpada de chamar demais a atenção para si mesma na primeira meia hora de filme, mas isso é relevável se considerarmos como isso tira “Os 33” da zona de conforto.

De resto, no entanto, o projeto peca pelo excesso de formalismo e polidez, resultando em uma obra morna que falha em destacar a dramaticidade do grande feito que foi a sobrevivência e resgate dos mineiros chilenos. Nesse sentido, até o tão criticado jornalismo da grande mídia teve mais sucesso.