Para compensar a ausência de Que Horas Ela Volta? na maior noite de Hollywood, o Oscar surpreendeu e acabou indicando o brasileiro O Menino e o Mundo para a estatueta de Melhor Animação do ano. Ainda que dificilmente o filme leve o prêmio, já que calhou deste ser o ano em que a Pixar voltou a acertar em cheio, com o triunfo de Divertida Mente, o longa de Alê Abreu já carrega consigo o mérito de ter chegado longe na disputa e, principalmente, ter jogado os holofotes sobre um circuito que, embora esteja crescendo, ainda passa batido e é largamente desvalorizado no cinema nacional: o mercado de animações.

Não que animação seja exatamente uma novidade no Brasil: o primeiro longa-metragem animado tupiniquim, Sinfonia Amazônica, foi produzido em 1951, por Anelio Lantini. Depois disso, outro marco seria Presente de Natal (1971), de Álvaro Henrique Gonçalves, a primeira animação em cores do país. Já nos anos 80, começando por A Princesa e o Robô (1983), os personagens da Turma da Mônica movimentaram a década com uma série de longas animados, até o início dos anos 90, e retornando ao mercado nos anos 2000, com a série Cinegibi. A computação gráfica entrou no jogo em 1996, com Cassiopéia, de Clóvis Vieira, o primeiro filme totalmente produzido em CGI – título disputado com Toy Story, que, embora tenha sido lançado um ano antes, usou moldes físicos posteriormente digitalizados na produção.

Nessa trajetória que se desenha já há alguns anos, O Menino e o Mundo desponta como a grande conquista mais recente do circuito brasileiro de animações e, por isso, aproveitamos a onda e listamos hoje cinco outras animações brasileiras que você também precisa conhecer:

1. “Garoto Cósmico” (2007), de Alê Abreu

Antes de ganhar sua indicação merecida ao careca dourado, Alê Abreu produziu seu primeiro longa animado ainda em 2007: Garoto Cósmico acompanha três crianças que vivem em um mundo futurista em que todas as ações são programadas, e todos vivem guiados por uma espécie de “deus-máquina” onipresente. Um novo mundo se abre aos olhos do trio, porém, quando eles se perdem no espaço e encontram um novo universo dentro de um circo, comandado por Giramundos (dublado pelo saudoso Raul Cortez). Assim como em O Menino, Alê Abreu mistura momentos de poesia e ternura com traços mais duros, em uma animação com toques psicodélicos à la Yellow Submarine e um tom didático que lembra o melhor da TV Cultura para crianças, com programas como o Castelo Rá-Tim-Bum.

2. “Uma História de Amor e Fúria” (2012), de Luiz Bolognesi

A proposta de Luiz Bolognesi é ousada: recontar a história do Brasil, em quatro grandes fases (colonização, escravidão, ditadura militar e um futuro distópico em que há uma guerra pela água), e a partir de um ponto de vista diferente dos “vencedores” dos livros de História. Para isso, Bolognesi acompanha a saga de um herói imortal em busca de Janaína, a mulher por quem é apaixonado há 600 anos. Apesar de equívocos técnicos e problemas de roteiro, Uma História de Amor e Fúria se destaca pela audácia do realizador.

3. “Morte e Vida Severina em Desenho Animado” (2010), de Afonso Serpa

As páginas do clássico literário de João Cabral de Melo Neto ganham vida na animação de Afonso Serpa, produzida pela TV Escola, numa espécie de adaptação da adaptação: em 3D, o desenho usa os traços da versão em quadrinhos do cartunista Miguel Falcão para o livro de 1956, mas mantendo a aspereza do texto original de Melo Neto. O resultado é um filme fiel à obra literária, com uma bela trilha sonora assinada por Lucas Santtana e Marcelo Jeneci e o talento de Gero Camilo atuando como o protagonista Severino.

4. “Boi Aruá” (1984), de Francisco Liberato

O título mais antigo da lista é um passeio único pela cultura popular brasileira: Boi Aruá viaja para o sertão nordestino do Brasil para contar o mito de um fazendeiro orgulhoso, cujo poder é desafiado sete vezes pelo misterioso Boi Aruá, até o momento do derradeiro confronto, quando o tirano compreende sua própria dimensão humana. A animação de Chico Liberato nos ganha não só pelo pioneirismo, mas pela qualidade ainda visível até hoje, num desenho com traços recheados de claras referências ao imaginário nordestino e à literatura de cordel, além de uma bela canção-tema de Elomar Figueira de Mello.

5. “As Aventuras do Avião Vermelho” (2014), de Frederico Pinto e José Maria

Outra adaptação da literatura brasileira, As Aventuras do Avião Vermelho atualiza e recontextualiza a obra infanto-juvenil de mesmo nome do escritor Érico Veríssimo, publicada em 1936. Combinando técnicas tradicionais de animação em 2D com movimentação espacial digital em 3D, o filme acompanha as aventuras de Fernandinho, garoto órfão de mãe, a bordo do Avião Vermelho e ao lado de seus brinquedos favoritos, descobrindo lugares inusitados e o universo que se esconde por trás dos livros.

Menções honrosas:

“Até Que a Sbórnia nos Separe” (2015), de Ennio Torresan Jr. e Otto Guerra; “Rocky & Hudson” (1994), de Otto Guerra; “O Grilo Feliz” (2009), de Walbercy Ribas; “Woody & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll” (2006), de Otto Guerra; “Belowars” (2007), de Paulo Munhoz.