Semana passada, numa conversa, um colega jornalista me disse que ficou espantado com a notícia que demos no Cine Set sobre o Gary Oldman despontando como favorito ao Oscar. Ele perguntou: “Não tá cedo, não, pra começar a falar de Oscar?”.

Respondi que não…

Oscar é uma corrida, uma cujos participantes se encaminham para a linha de largada mais cedo do que muita gente imagina. E os festivais (Sundance, Cannes, Toronto, Telluride, Veneza…), números de bilheteria e impactos culturais de determinados lançamentos nos ajudam a prever quem pode estar nessa largada.

Portanto, vamos agora ao exercício de especulação (mas com fundamento, claro). Quais nomes já estão na disputa para as estatuetas douradas de 2018?


MELHOR ATOR

Bem, começando pelo já mencionado Gary Oldman: sua performance em Darkest Hour, no qual interpreta o primeiro ministro inglês Winston Churchill na época da Segunda Guerra, toca em praticamente todos os pontos de pressão do Oscar (é britânico, de época, biográfico, baseado em fatos reais e sobre uma história importante). Já dá para ver pelo trailer que Oldman, irreconhecível debaixo da maquiagem, é uma força em frente à tela. Imagine vendo o filme completo… Ele nunca ganhou, só foi indicado uma vez há alguns anos por O Espião que Sabia Demais (2011), portanto vai estar lá concorrendo na cerimônia, isso já é certo.

Só não dá para chamá-lo de favorito instantâneo porque em dezembro vai estrear um filme chamado Phantom Thread, dirigido por um tal de Paul Thomas Anderson e estrelado por um ator que talvez você já tenha ouvido falar, um certo Daniel Day-Lewis… Brincadeiras à parte, Day-Lewis é uma lenda, um dos maiores atores de cinema de todos os tempos, já ganhou três Oscars e anunciou que este será seu último trabalho. Só por tudo isso, uma das cinco vagas já é dele, e os demais indicados já sairão na desvantagem.

Outros nomes que têm crescido para disputar na categoria, por enquanto, são os de Matt Damon por Pequena Grande Vida (o trailer, recém-lançado, é divertidíssimo), Joaquin Phoenix pelo seu desempenho (premiado em Cannes) em You Were Never Really Here, e o de James Franco por The Disaster Artist, inspirado pelos bastidores do mega-cult The Room, um dos piores filmes dos últimos tempos, e no qual Franco interpreta o diretor dele, Tommy Wiseau.

Outras atuações chamaram bastante a atenção no ano, como as de James McAvoy em Fragmentado, Andy Serkis em Planeta dos Macacos: A Guerra e Charlie Hunnam em Z: A Cidade Perdida. Mas, por causa da aversão da Academia a gêneros e da ínfima bilheteria (de Z), não acredito em indicações para eles. Não estou dizendo que é impossível, mas eu ficaria bastante surpreso se algum deles conseguisse uma indicação.


MELHOR ATRIZ

A disputa na categoria de atriz tem o equivalente feminino do Daniel Day-Lewis: Meryl Streep vai voltar, sob a direção de Steven Spielberg, no drama de época The Post, sobre jornalistas contra o governo e, claro, ela parece ter vaga sempre cativa no Oscar.

Mas há outras candidatas com bastante força. Nicole Kidman ressurgiu com um 2017 glorioso na TV com Big Little Lies e no cinema com O Estranho que Nós Amamos – por este último, seu nome é certo dentre as indicadas. Emma Stone também estará de novo no Oscar com certeza e pode fazer o bicampeonato após La La Land com Battle of the Sexes, baseado numa história real e no qual a atriz interpreta uma tenista que disputa uma partida contra o personagem misógino de Steve Carell. O filme, ambientado na década de 1970, é dirigido pelo casal de Pequena Miss Sunshine (2006).

Jessica Chastain também está no páreo, dependendo de como seu filme Molly’s Game será recebido. Saoirse Ronan é outra muito bem cotada pelo trabalho no drama de amadurecimento Lady Bird. Sally Hawkins por Maudie e a veterana Debra Winger por The Lovers, ambos dramas, também podem surpreender – no caso da última, a Academia sempre aprecia um retorno. Já Jennifer Lawrence, que antes parecia bem forte por mãe!, ao que parece viu sua indicação evaporar em meio à polêmica do filme, o maior título “ame ou odeie” dos últimos tempos. E não podemos descartar completamente Gal Gadot por Mulher Maravilha: o mais bem sucedido filme de super-herói do ano deve emplacar no Oscar em várias categorias. A de Melhor Atriz é meio improvável, mas não de todo impossível.


MELHOR ATOR E ATRIZ COADJUVANTE

Dentre os atores, de cara já se destacam os nomes de Mark Rylance em Dunkirk e Armie Hammer em Call Me By My Name. O primeiro tem um papel de destaque num longa de sucesso mundial (e já ganhou o Oscar por Ponte dos Espiões), o segundo chamou muita atenção em Sundance com a história de amor entre dois homens e a considerável diferença de idade entre eles. Willem Dafoe foi bastante elogiado em Cannes pelo filme The Florida Project e é outro com ótimas chances; e Ben Mendelsohn, que vive o rei George VI em Darkest Hour, também parece possuir bastante força para emplacar uma indicação. De minha parte, eu adoraria ver Patrick Stewart conseguir a sua primeira em 50 e poucos anos de carreira pela sensível interpretação em Logan. O estúdio Fox vai fazer campanha, mas acho difícil, afinal as atenções da Academia para filmes de super-heróis serão monopolizadas por Mulher Maravilha.

Já a respeito das atrizes, Kirsten Dunst pode emplacar aqui com a sua atuação em O Estranho que Nós Amamos. Julianne Moore e o diretor Todd Haynes sempre impressionaram quando se reuniram, e a participação da atriz em Wonderstruck – recebido de forma meio morna em Cannes – deve ser reconhecida. Kristin Scott Thomas deve conseguir uma indicação como a esposa de Churchill em Darkest Hour, e Michelle Pfeiffer parece enfim reenergizar sua adormecida carreira com uma atuação forte em mãe!


MELHOR DIRETOR

Em 2018 poderemos ter bastante representatividade nesta categoria do Oscar. Dentre as mulheres, Sofia Coppola por O Estranho que Nós Amamos, Kathryn Bigelow por Detroit em Rebelião, Patty Jenkins por Mulher Maravilha e até a atriz Greta Gerwig, estreando como diretora com Lady Bird, têm chances de indicações na categoria. Também tem boas chances de ser indicado o cineasta negro Jordan Peele, responsável pelo sucesso mais surpreendente do ano, Corra!, cuja repercussão não poderá ser ignorada pela Academia. No mínimo a de roteiro original ele já tem.

Outros nomes fortes nessa briga de cachorros grandes são Christopher Nolan por Dunkirk – uma das vagas já é dele, em minha opinião – Steven Spielberg por The Post, Alexander Payne por Pequena Grande Vida, Joe Wright por Darkest Hour, Paul Thomas Anderson por Phantom Thread, Luca Guadagino por Call Me By My Name e Guillermo Del Toro, premiado em Veneza, por sua nova fantasia, “A Forma da Água”.


MELHOR FILME

Alguns títulos já começam a se encaminhar para a disputa de Melhor Filme. Dunkirk, por exemplo, já tem vaga certa, assim como Darkest Hour – curiosamente, dois filmes com temas muito próximos. A repercussão de A Forma da Água, de Guillermo del Toro, também está sendo muito positiva, provavelmente deve estar entre os indicados. Os serviços de streaming tentarão emplacar duas produções independentes: A Amazon produziu a dramédia Doentes de Amor, que impressionou a plateia de Sundance; já a Netflix tentará vencer a resistência da Academia com Mudbound, que aborda a vida no pós-Segunda Guerra e o tema do racismo. Mudbound deve ser lançado na Netflix no final do ano.

Já dentre os grandes estúdios, a Paramount tentará garantir uma indicação para Pequena Grande Vida, de Alexander Payne, e a Universal tentará fazer com que Corra! vença a birra da Academia com terror. Ambos têm chances muito boas. E a Warner Bros. tentará de tudo para colocar Mulher Maravilha entre os indicados, e pelo impacto do filme, é provável que consigam.

Outros nomes com fortes chances de estarem entre os 10, 9, 8 ou seja lá quantos indicados forem, são Lady Bird; Battle of the Sexes, sucesso em Telluride; e Call Me By Your Name. Outro com boas chances é o recente vencedor do Festival de Toronto, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, nova “dramédia” do criativo cineasta Martin McDonagh, de “Sete Psicopatas e um Shih Tuz” (2011), com Frances McDormand e Sam Rockwell no elenco. E, claro, nunca podemos descartar os projetos de Steven Spielberg (The Post) e Paul Thomas Anderson (Phantom Thread).

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Vamos prestar atenção em todos esses filmes, pessoal, pois eles prometem… E a corrida já começou.