“O Irlandês” será, sem dúvida, um dos grandes favoritos ao Oscar 2020.
A produção pode passar das 10 indicações sendo nomeada nas principais: Melhor Filme, Direção com Martin Scorsese, Ator Coadjuvante com Al Pacino e Joe Pesci, Roteiro Adaptado, Montagem, Direção de Arte, Figurino e muito mais.
Porém, uma dúvida paira no ar em relação a “O Irlandês”: Robert De Niro vai ser indicado ou não?
O que era certeza até o início de dezembro desmoronou depois das exclusões dele nas listas do Globo de Ouro e do SAG 2020. Por isso, esse videocast vai colocar aqui o que pode ajudar e atrapalhar o Robert De Niro rumo ao Oscar.
A corrida pelas vagas à categoria de Melhor Ator é a mais disputada desde 2014 quando nomes como Tom Hanks, por “Capitão Phillips”, Robert Redford, de “Até o Fim”, Joaquin Phoenix, por “Ela” e Oscar Isaac, por “Inside Llewyn Davis” ficaram de fora. Naquele ano, o prêmio ficou com o Matthew McConaughey, por “Clube de Compras Dallas” após uma briga pesada com Chiwetel Ejiofor, de “12 Anos de Escravidão” e Leonardo DiCaprio, por “O Lobo de Wall Street”.
Neste ano, tem muito ator para apenas 5 vagas, sendo que três parecem já garantidas para: Joaquin Phoenix, de “Coringa”, Adam Driver, por “Histórias de um Casamento” e o Leonardo DiCaprio, de “Era uma vez em Hollywood”.
Esse trio está em obras muito fortes da temporada de premiações e que certamente serão indicadas a Melhor Filme. Com isso, sobram duas vagas para, pelo menos, sete candidatos.
Por “Ford Vs Ferrari”, Christian Bale apareceu nas listas do SAG e do Globo de Ouro. Vale destacar que ele é a principal aposta a Disney na categoria, então, todo o investimento de campanha vai ser dedicado a ele. Fora que o Bale tem quatro indicações em oito anos, o que o coloca sempre no radar da Academia.
Já o Antonio Banderas, por “Dor e Glória” apareceu somente no Globo de Ouro e é um nome que vem forte desde o Festival de Cannes. Além disso, o ator espanhol vive uma das grandes fases da carreira, faz um papel dificílimo e pode contar com uma Academia mais diversa, que está abraçando mais produções estrangeiras, para conquistar a primeira indicação ao Oscar.
Indicados ao Globo de Ouro, Adam Sandler, de “Uncut Gems”, e Eddie Murphy, de “Meu Nome é Dolemite”, são atores com muita resistência dentro da Academia devido ao vasto currículo de porcarias. Joga contra o Murphy o fato do investimento da Netflix estar mais em “O Irlandês” e “Histórias de um Casamento”, enquanto o Sandler está sofrendo com as esnobadas consecutivas enfrentadas pela A24 nesta temporada. Porém, ambos podem entrar na narrativa de recuperação da carreira como ocorreu recentemente com o Ben Affleck e o Michael Keaton.
O Jonathan Pryce, indicado ao Globo de Ouro, está em um filme que depende muito dos atores e da química entre eles para funcionar em comparação aos demais e fora que “Os Dois Papas” pode aparecer em Melhor Filme também. Por fim, Taron Egerton, indicado ao Globo de Ouro e ao SAG por “Rocketman“, encarna um tipo de personagem amado pela Academia, as atuações de grandes personalidades. Vencedores da década de 2010 na categoria, o Rami Malek, de “Bohemian Rhapsody”, Gary Oldman, de “O Destino de uma Nação”, Eddie Redmayne, de “A Teoria de Tudo”, Daniel Day-Lewis, por “Lincoln” e Colin Firth, de “O Discurso do Rei”, sabem muito disso.
E aí que entra o Robert De Niro. Ele não ter sido indicado ao Globo de Ouro foi mais chocante do que a exclusão dele no SAG. Isso porque no prêmio do Sindicato dos Atores, ele vai receber um prêmio honorário pelo conjunto da obra. Logo, os votantes podem ter preferido abrir uma oportunidade para outro ator. E exceto por 2017, na última década, sempre teve, pelo menos, uma mudança da lista do Oscar para o SAG.
Quanto ao Globo de Ouro, eu acho que foi mais chocante pelo fato de você ter ali uma divisão entre atores de comédia e de drama, o que abre mais possibilidades de indicações. Por outro lado, os votantes do Globo de Ouro não são os mesmos da Academia, logo, isso não chega a ter tanto peso assim.
Pode contribuir para essa queda de desempenho do De Niro o perfil do personagem, um tanto diferente das atuações que o Oscar costuma premiar.
O Frank Sheeran de “O Irlandês” é um sujeito introvertido, incapaz de expressar grandes emoções e muito frio, algo que combina muito bem com a profissional dele, a de um assassino impiedoso, capaz de matar a sangue frio os seus oponentes. Também é um cara que obedece ordens, está ali para mais para servir do que ter autonomia sobre suas ações, algo que se espera mais de um coadjuvante do que necessariamente de um protagonista.
Não é à toa, por exemplo, que muita gente acaba adorando a atuação do Al Pacino por ele ser a figura da impulsividade que toma as rédeas do negócio. Assim como o Joe Pesci, que se comporta como o que se espera de um coadjuvante que ele é de fato na história, sempre entrando de maneira muito cirúrgica na trama.
Esse perfil também é diferente daquele que consagrou a carreira do De Niro.
“Taxi Driver”, “Touro Indomável”, “O Franco-Atirador” e “Cabo do Medo”, filmes pelos quais ele foi indicado ao Oscar, são produções em que as atuações são de uma energia impressionante, que salta da tela. “O Poderoso Chefão 2” até é algo mais comedido, mas, trabalha em cima de uma persona imortalizada pelo Marlon Brando, a qual ele precisa, pelo menos, seguir uma essência, mas, dentro da lógica de um personagem ativo, tomando as rédeas das decisões por conta própria e de mais ninguém.
Se a gente for pegar em retrospecto, atuações na linha mais introspectiva, caladão que venceram o Oscar o Casey Affleck, de “Manchester à Beira-Mar” e F. Murray Abraham, de “Amadeus”.
Agora, dizer isso não significa, de modo algum, que a atuação do De Niro é fraca e nem que a construção do personagem no roteiro é ruim. Pelo contrário. Essa ideia casa bem com a proposta do Scorsese de refletir sobre a máfia e aos seus agentes. “O Irlandês” mostra que a luta de poder marcada por décadas de violência, assassinatos, traições, rivalidade e preconceitos culmina em melancolia, solidão, amargura e muitas culpas.
Seria incrível ver o De Niro de volta ao Oscar por um papel que faz jus à carreira maravilhosa, agora, se não reconhecerem, azar o da Academia.