Em tempos de mudança, Hollywood sabe como ninguém dar tiros no próprio pé. Numa época em que os estúdios precisam mais do que nunca se adaptar às inovações tecnológicas que permitem, ao mesmo tempo, serviços de vídeo sob demanda e a pirataria na web, a necessidade de as grandes produções se converterem em lucro impede ousadias que poderiam transformar filmes medianos em clássicos. É justamente isso que acontece com “Oz – Mágico e Poderoso” (2013).

O filme é inspirado na obra de L. Frank Baum e apresenta referências bem veladas ao clássico “O mágico de Oz” (1939). Nele se conta como o mágico de parque de diversões Oscar Diggs (James Franco) chega na terra encantada de Oz em um balão após fugir de uma briga. Lá ele conhece Theodora (Mila Kunis), que explica a profecia de que um mágico salvaria a terra de Oz da maldade da bruxa má, Glinda (Michelle Williams), e se tornaria rei. Oz, o mágico, só se preocupa consigo mesmo e com a possibilidade de obter as riquezas do reino, e parte para a missão tendo como companheiros o macaco alado Finley (com voz de Zach Braff) e a Boneca de Porcelana (com voz de Joey King).

Depois de algumas reviravoltas, explica-se que a bruxa má, na verdade, é Theodora, auxiliada por sua irmã, Evanora (Rachel Weiss), e que Glinda é a verdadeira protetora das terras. A bondade dela se alia à esperteza do trapaceiro Oz para tentar derrotar as irmãs, tornando a trama uma lição de moral típica da Disney, com seus encantos e clichês. E são estes últimos que mais atrapalham o filme.

Muito provavelmente, foi a pressão da Disney para criar um produto “família” que minou grande parte da criatividade da direção de Sam Raimi em “Oz – Mágico e Poderoso”. Apesar do roteiro simpático, o filme se arrasta em vários momentos, e a edição “quadrada”, nada típica de Raimi, torna esses momentos ainda mais enfadonhos, especialmente no primeiro terço do filme. Além disso, o 3D é utilizado de maneira totalmente não criativa, uma vez que vários elementos do mundo mágico simplesmente saltam da tela para a cara do espectador sem isso ter nenhum significado para a atmosfera ou andamento da trama.

Outro problema é a atuação um tanto quanto preguiçosa de Franco na primeira metade do filme. Seu Oz não consegue ter carisma o suficiente, e passa a impressão de que o ator tentou emular, sem sucesso, os trejeitos de um Johnny Depp em “A fantástica fábrica de chocolate” (2005) ou “Piratas do Caribe” (2003). Somente quando Oz começa a mudar seu jeito egoísta e enganador que Franco parece encontrar o tom certo da atuação, o que é uma pena, uma vez que o primeiro segmento do filme, em belíssimo preto e branco, é essencial para a apresentação e criação de empatia com o personagem.

O mesmo se pode dizer de Mila Kunis, que soa caricata mesmo em um mundo mágico. Por sorte, o foco entre os vilões acaba recaindo sobre Rachel Weiss, que se entrega ao universo da personagem com muito mais dedicação. Michelle Williams é outra que encontra o tom certo para sua personagem. Ela é uma Glinda perfeita, boazinha sem ser “mala” e nem burra; em tempos de crianças cada vez precoces, um personagem “bom” que não pareça chato é um verdadeiro achado para o espectador infantil!

Mesmo com esses solavancos, “Oz – Mágico e Poderoso” ainda consegue se reerguer na sua terceira metade. Com um andamento muito mais ágil, a manjada batalha entre bem e mal consegue ser menos clichê graças à engenhosidade com que Oz arquiteta a derrota das bruxas más sem machucar ninguém. De quebra, há um momento a la “A Invenção de Hugo Cabret” (2011), o que torna o filme simpático, apesar de suas falhas.

Com tais características, o Oz de Sam Raimi (ou seria o Oz da Disney?) consegue ser um filme infantil digerível para crianças e adultos. Estes últimos ainda têm o bônus de caçar referências veladas ao filme “O Mágico de Oz” (que não poderia ser diretamente citado por conta de questões de direitos autorais sobre o filme, que é da Warner). Porém, no geral, “Oz – Mágico e Poderoso” ficou muito longe de marcar uma geração de jovens espectadores do cinema como seu “parente” de 1939.

Nota: 7,0