Os cinéfilos geralmente partem do prazer de ir ao cinema para se familiarizarem com conteúdos mais teóricos sobre o assunto, que permitam expressar melhor suas ideias sobre os filmes.

Assim termos como plano, profundidade de campo, enquadramento ou movimentos de câmera começam a ser estudados por esses espectadores para eles poderem compreender o conteúdo e as técnicas envolvidas no fazer cinema, o que também pode ser muito divertido. É por conta disso que hoje o Cine SET fala um pouco sobre alguns elementos básicos da linguagem cinematográfica em nível de visual.

O enquadramento e os planos

O enquadramento se refere ao posicionamento da câmera ao filmar, delimitando o que aparecerá na tela. Os diferentes tipos de enquadramento relacionam-se aos planos. Grosso modo, o plano é um trecho do filme rodado ininterruptamente e que geralmente dura alguns poucos segundos, podendo ser de vários tipos. O close é o plano que mostra apenas um detalhe de uma imagem em destaque (por exemplo, os olhos do protagonista do filme). Às vezes é chamado de “plano detalhe”.

Os planos médios, por sua vez, mostram um sujeito em sua unidade. Ele eventualmente ganha sub-denominações, dependendo de como apresenta essa unidade. O “plano americano”, por exemplo, enquadra um personagem dos joelhos pra cima, enquanto que o “meio primeiro plano” enquadra da cintura para cima e “primeiro plano” enquadra do peito pra cima.

Há também os planos gerais, que mostram o indivíduo em um ambiente, no qual eles se inter-relacionam visualmente e que também ganham algumas sub divisões, tais como “plano geral aberto” (que mostram o espaço de uma só vez) ou “plano geral fechado” (quando mostram a ação em um espaço um pouco mais específico).

Um plano pode durar um curtíssimo espaço de tempo, como nos filmes de aventura ou ação, ou compor o filme inteiro, como nos filmes “Festim Diabólico”, de Alfred Hitchcock, ou “A Arca Russa”, de Aleksandr Sokurov. Neste caso, chama-se o feito de plano-sequência. A maioria dos filmes em plano-sequencia são feitos, na verdade, com 4 ou 5 planos, que parecem contínuos graças à ilusão da montagem, mas não deixam de ser impressionantes pela dificuldade de coordenar a ação em um grande período de tempo.

Movimentos de câmera, distância focal e profundidade de campo

Além da questão do enquadramento, os movimentos de câmera são cruciais para contextualizar a trama, destacar detalhes ou criar uma atmosfera para o filme, garantindo sua fluidez.

Os movimentos de câmera mais comuns são aqueles comuns ao ser humano, como o panorâmico (corresponde à ação de virar a cabeça), o travelling (correspondente à locomoção de um corpo inteiro) e o zoom (correspondente à aproximação dos olhos em relação a um objeto). Já entre os ângulos de câmera mais comuns estão o “plongée” (ver o personagem de cima pra baixo), o “contra-plongée” (ver o personagem de baixo pra cima), câmera normal (câmera na altura do indivíduo) e os perfis.

Há certa confusão entre os movimentos de câmera e a questão da distância focal e da profundidade de campo, uma vez que esses elementos trabalham todos em conjunto. A distância focal se relaciona à amplitude do campo visual, ou seja, o que consegue ser abarcado pelas lentes. Há lentes como as objetivas grande-angulares, que captam objetos próximos como se fossem muito grandes, ao passo que objetos mais afastados ficam menores; ou lentes como as teleobjetivas, que dão a impressão de visão mais fechada e com menos tridimensionalidade. Entre esses dois extremos estão as objetivas padrão.

A profundidade de campo, por sua vez, tenta reproduzir, em maior ou menor grau, a qualidade do olho humano que permite ver nitidamente. Não sendo tão apuradas quanto o olho, as câmeras enfrentam desafios para uma maior ou menor profundidade de campo (a luz, por exemplo, ajuda a expressar uma maior profundidade). Ela é comumente usada para destacar um determinado elemento, tal como quando o personagem principal é mostrado de maneira nítida em primeiro plano, enquanto que outros personagens, mais ao fundo, apresentam-se fora de foco.

Leituras interessantes sobre cinema

Nem mesmo esses termos básicos podem ser discutidos em sua totalidade numa postagem pequena como esta. O processo de analisar um filme em seus elementos é extremamente complexo, e por isso o Cine Set recomenda algumas leituras básicas para os internautas interessados em saber mais sobre como os filmes são pensados e realizados:

– O que é cinema, de Jean-Claude Bernardet

– Lendo as imagens do cinema, de Laurent Jullier e Michel Marie

Como ver um filme, de Ana Maria Bahiana.

– Dicionário teórico e crítico de cinema, de Michel Marie e Jacques Aumont

– Pré-cinemas & pós-cinemas, de Arlindo Machado