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Bélgica
“Marina”

Mais do que tratar sobre o início da carreira do cantor e acordeonista belgo-italiano Rocco Granata, “Marina” expõe as cicatrizes abertas da Segunda Guerra Mundial e o ódio acumulado durante o conflito atingindo pessoas com o intuito de ter uma vida normal. Não à toa que o grande destaque da obra está no ator Luigi Lo Cascio, intérprete do pai do protagonista.

Ao sair da Itália com a esperança de ganhar muito dinheiro em uma mina de carvão na Bélgica, o chefe da família Granata acaba sendo vítima, ao lado de conterrâneos, de condições sub-humanas de trabalho. Tudo isso dentro de um sistema frágil e exploratório, levando a consequências de danos irreversíveis à saúde, sendo a bela cena do choro compulsivo do pai de Rocco a síntese desse panorama. Em uma Europa em reconstrução do pós-guerra, seria uma forma dos vencedores de castigarem os derrotados.

Com esse rico subtexto, os dramas pessoais e a trajetória de Rocco até o sucesso pouco chamam a atenção. Se o ator Matteo Simoni convence ao emprestar uma rebeldia e carisma importante para a composição do protagonista, os coadjuvantes decepcionam pela falta de profundidade, se dividindo em um pobre maniqueísmo.

Mesmo sem ser brilhante, “Marina” mantém um bom ano do cinema belga que já trouxe o belo e triste “Alabama Monroe”.

NOTA: 7,0

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Bósnia-Herzegovina – “Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho”

Saúde pública vergonhosa, pobreza extrema, falta de emprego, poluição.

A realidade pode ser parecida com a brasileira, mas, na verdade, se trata do drama enfrentado por Nazif Mujic na Bósnia. No filme, ele resolve se interpretar para mostrar os dramas reais vividos pela família durante um aborto espontâneo sofrido pela esposa e a dificuldade para retirar o feto do corpo dela.

O docudrama (mistura de documentário com ficção) mostra como o país saído recentemente de uma guerra étnica continua longe de oferecer condições dignas para seus cidadãos. Com uma câmera sempre próxima ao protagonista (às vezes, se chocando literalmente com Nazif), o diretor Danis Tavonic mergulha no universo da família, fazendo o público de testemunha de um mundo incapaz de ser aceito por uma sociedade que se diz tão avançada como a nossa.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014, “Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho” expõe como o mundo convive com os mesmos problemas cada vez mais sem soluções aparentes. Seja no Brasil ou na Bósnia.

NOTA:8,5

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Croácia – “Os Filhos do Padre”

Definir “Os Filhos do Padre” em uma palavra não é difícil: cínico.

A história de um padre que começa a furar preservativos para aumentar a taxa de natalidade da cidade onde mora é um golpe certeiro contra a Igreja Católica. Durante os 90 minutos de projeção, o diretor Vinko Bresan ataca os segredos e hipocrisias de membros do clero, os quais se utilizam da fé e confiança das pessoas para causar mudanças arbitrárias nos rumos da vida de uma população.

Percebe-se no decorrer da trama que nada será esquecido seja a riqueza do Vaticano com barcos de luxo até a conivência com a pedofilia em um momento triste da trama. Além disso, o longa ainda aborda com sutileza como o catolicismo busca tratar o sexo como algo vergonhoso, sendo um assunto tabu para a sociedade e uma tola doutrina de repressão dos próprios desejos dos padres.

A abordagem dos homens da cidade ao único vendedor de preservativos e o interesse do sacerdote Don Fabijan (Kresimir Mikic, excelente com uma atuação entre a inocência e a desfaçatez) pela vida sexual das pessoas exemplificam bem estes momentos. Se quiser conhecer o cinema da Croácia, “Os Filhos do Padre” é uma opção ideal.

Desde que você não seja religioso, claro.

NOTA:8,0

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França – “O Palácio Francês”

“O Palácio Francês” dificilmente seria feito no Brasil. Não, engraçadinho. Não é por causa do nome puro e simples.

A crítica política ao governo francês feita pelo diretor Bertrand Tavernier teria complicações para arranjar patrocinadores e uma vida complicada para passar na Ancine. Satirizando as lideranças e o desgoverno do país, o filme brinca ao mostrar o ministro de Relações Exteriores sem capacidade de decisão em meio a crises diplomáticas graves. Esse tom jocoso diverte pelas boas tiradas (são hilárias as cenas sobre as voláteis linhas de pensamento que devem guiar o discurso dele) e, ao mesmo tempo, assusta por imaginar que aquele mundo não seja tão ficcional como se pensa.

O ator Thierry Lhermitte cria uma figura memorável capaz de falar alucinadamente sem dizer nada em um ritmo de andar veloz para passar a impressão de agilidade. Já Niels Arestrup faz o contraponto perfeito ao interpretar o chefe de gabinete do Ministério com um tom de voz mais pausado e representar a lucidez em um ambiente caótico.

Com um edição ágil capaz de transmitir quão perturbador é aquele ambiente, “O Palácio Francês” peca por insistir em tornar protagonista o responsável pelos discursos do ministro e os desafios dele em escrevê-los. Os dramas de Arthur Vlaminck (Raphaël Personnaz) se tornam desinteressantes em relação ao universo do gabinete, o que enfraquece muitos trechos do filme. Isso faz com que a duração de 113 minutos incomode por ser longa sem necessidade.

NOTA:6,5

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Paraguai – “7 Caixas”

Por mais que se evite, não há como fugir do óbvio: “7 Caixas” é o “Cidade de Deus” do Paraguai.

Desde a base da história (jovem envolvido dentro de um conflito muito maior que ele) passando pela grande quantidade de personagens, a ambientação no submundo do nossos hermanos até a edição com muitos cortes e a ideia de câmera na mão dos diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schemboni lembram bastante o sucesso de Fernando Meirelles. Não que o fato seja ruim: se é para se inspirar, que seja para fazer de uma produção marcante da região.

Se o desenvolvimento dos personagens acaba pecando (o drama do filho doente sem remédio vivido pelo rival do protagonista se perde), “7 Caixas” funciona como um bom suspense capaz de manter o interesse com o que ocorre na tela. Boas sequências de ação ajudam nesse quesito. O elenco, apesar de caricato e resvalando no amador, não compromete.

Apesar da vontade de querer passar uma mensagem social sobre como o pobre acaba sendo sempre retratado na mídia somente quando acontece um fato violento, esta obra paraguaia entrega uma diversão competente. Se fosse mais enxuto, poderia ser melhor.

NOTA:6,0