Verdade seja dita: todo gênero cinematográfico possui seus clichês. Porém, é o filão dos filmes românticos aquele que mais faz uso desses artifícios nada originais (ironicamente, junto com os filmes de ação). São poucas as produções desse gênero que se constroem com a criatividade de um “Amor à flor da pele”, “As pontes de Madison”, “Brokeback Mountain” ou, para dar bons exemplos em que o romance se mescla com a comédia, “Annie Hall” ou “Sideways – Entre umas e outras”.

Não se pode dizer que “Questão de tempo” tenha entrado no seleto grupo de filmes românticos (ou comédias românticas) originais e inspiradoras; afinal de contas, nos últimos anos, a junção de elementos cômicos com questões de relacionamento e uma pitada de ficção científica já foi utilizada em “Te amarei para sempre” e “Sem segurança nenhuma”. Porém, comparado às dezenas de produções descartáveis que chegam aos cinemas ano após ano, o filme consegue até ser uma opção divertida e com desenvolvimento mais bem elaborado.

Na trama de “Questão de tempo”, Tim (Domhnall Gleeson) é informado pelo pai (o divertido Bill Nighy) que a família dele tem um poder inusitado: a capacidade de viajar no tempo. Uma vez que a capacidade só se aplica a própria linha temporal do jovem, Tim decide modificar diversos trechos de sua vida para que possa tomar as melhores decisões em relação a encontrar um amor ou zelar pelo bem dos familiares. Como se poderia esperar (caso contrário, não haveria trama), as viagens no tempo trazem complicadas consequências.

Em vários momentos, “Questão de tempo” se aproxima da linha tênue entre ser tocante e ser piegas. O saldo geral, no entanto, é positivo, em grande parte graças à direção de Richard Curtis, que já fez outras comédias românticas dignas como “Simplesmente amor”, além de ser o roteirista dos agradáveis “Um lugar chamado Nothing Hill” e “O diário de Bridget Jones”.

O elenco também traz alívio só de não ter uma Cameron Diaz como protagonista feminina, ou um Richard Gere como galã principal. O magrelo Domhnall Gleeson assume o posto e foge completamente do estilo “gato de Malhação” que normalmente se vê nesse tipo de filme. A questão da aparência, aliada a uma composição de personagem um pouco mais complexa, dão ao público a chance de uma empatia maior com Tim. A talentosa e bela Rachel McAdams completa o casal principal também contribuindo com esses ares de realismo, pois sua Mary está longe de ter uma personalidade plana e um look da moda, tal como vemos nas comédias estreladas por Jennifer Aniston ou Drew Barrymore, por exemplo.

Após a onda de blockbusters com ares épicos no final do ano, “Questão de tempo” oferece um escape a toda a grandeza dessas produções sem nem por isso ser medíocre. Ainda que de maneira simplificada, o filme oferece alguma reflexão sobre as escolhas da vida e o desejo de segundas chances sem se descambar para a apelação e trazendo momentos divertidos, com destaque ainda para o charmoso coadjuvante Bill Nighy, mostrando que nem tudo precisa ser tão rigorosamente quadrado quando o assunto é comédia romântica.

Nota: 7,5