Jason Reitman se preparou para dar o passo mais ousado da carreira em “Refém da Paixão”. O humor ácido de “Obrigado por Fumar” e “Juno” seguido das comédias dramáticas “Amor Sem Escalas” e “Jovens Adultos” apontavam para um caminho com tons mais sérios a ser seguido pelo jovem cineasta. Com Kate Winslet e Josh Brolin no elenco, a expectativa para o novo filme era o salto definitivo nessa transição. O resultado, infelizmente, se mostra equivocado justo pela condução do diretor.

Adaptação do romance “Labor Day” escrito por Joyce Maynard, o filme traz a Síndrome de Estocolmo como ponto central da trama. Separada do marido e em depressão após um grande trauma, Adele (Kate Winslet) vive com o filho adolescente Henry (Gattlin Graffith) em uma pacata cidade americana no fim da década de 80. Ambos são feitos reféns dentro da própria casa por Frank (Josh Brolin), sujeito condenado por assassinato e fugitivo da cadeia local. O convívio ao longo dos dias de cárcere cria uma ligação entre aquelas pessoas ao ponto do sequestro se tornar a esperança para uma nova vida a todos os envolvidos.

Em teoria, “Refém da Paixão” deveria ser um drama psicológico tenso e melancólico. Afinal de contas, temos um sequestro em andamento com pessoas com dramas mal resolvidos. A instabilidade de Adele visível no medo de sair de casa e no tremor das mãos a cada pequeno contratempo contrasta com a segurança trazida pelo desconhecido Frank, o qual tenta resgatar a chance de ter uma vida normal. Pode-se perceber que ali ambos podem ser a cura para os traumas carregados do passado. Já o filho adolescente representa um dilema típico do Complexo de Édipo: o jovem carrega grande estima pela mãe e se sente obrigado a cuidar dela, enquanto nutre certo desprezo pela figura paterna. O surgimento do fugitivo pode ser visto, ao mesmo tempo, como uma chance de se libertar daquele ambiente e a ameaça ao predomínio do carinho materno.

O tom adotado por Reitman ao desenvolver a história acaba jogando fora todo esse potencial da trama. Se a narrativa possui cadência sem atropelar os fatos, a pieguice desmonta “Refém da Paixão”. Trechos como o preparo da torta e o encadeamento de cenas mostrando as formas como o sequestrador ajuda no cotidiano da família são carregadas de artificialidade para uma obra que pretende ser mais próxima da realidade. Isso sem contar a onipresença da trilha sonora. As inserções dos flashbacks entram sempre na hora errada, causando mais confusão do que impacto no público. Fica a impressão constante de se fazer um jogo de suspense desnecessário com pistas sendo soltas a todos os momentos como em um suspense barato. Quando chegam as revelações, o longa já te expulsou do filme e nem mesmo o talento de Kate Winslet (atuação abaixo do nível da atriz pela falta de suavidade) e Josh Brolin (cada vez mais parecido com Tommy Lee Jones, pelo lado positivo e negativo) salvam o resultado final.

Sorte Reitman ter os acertos do passado para encarar “Refém da Paixão” como um mero tropeço. Voltar as raízes do humor elegante com dramas pessoais pode ser uma alternativa. Se quiser prosseguir nos dramas, terá que conter os excessos e definir melhor uma linha a ser seguida na narrativa. Nada que um cineasta talentoso não possa resolver.

NOTA:6,0