Com dezenas de produções recentes pegando carona em histórias de fantasia, o gênero começa a mostrar sinais de declínio criativo em Hollywood. Mas atenção: em meio a fracassos evidentes como Jack – Caçador de Gigantes e Oz – Mágico e Poderoso, cuidado para não deixar passar uma produção tão cuidadosa e bem-realizada quanto este Reino Escondido.

Dirigido por Chris Wedge (de A Era do Gelo e Robôs), o filme não é, absolutamente, original, mas é divertido, movimentado e tem um visual deslumbrante, como é típico nos trabalhos da produtora americana Blue Sky (também responsável por Rio, do brasileiro Carlos Saldanha).

aria Catarina (Amanda Bynes no original, com ótima dublagem de Luisa Palomanes), ou M. C., é uma típica garota da cidade, que, após a morte da mãe, tenta se reaproximar do pai, o prof. Bomba (Jason Sudeikis, com uma dublagem um pouco exagerada de Murilo Benício), um pesquisador amável e atrapalhado, mas cuja obsessão pelas minúsculas criaturinhas que vivem na floresta ao redor de sua casa o afastaram de tudo e de todos. Infelizmente, para M. C., nada mudou: Bomba ainda vive ocupado tentando capturar, ou pelo menos filmar, um desses seres, em quem ninguém acredita. Mas ela descobre que seu pai não pirou de vez: por acidente, Catarina é transportada ao reino escondido do título, onde vivem as criaturinhas, chamadas de Homens-Folha. E é justamente a ela que a rainha da natureza, Tara (Beyoncé/Miriam Ficher), à morte, confia um botão de flor, que deverá ser cultivado para dar origem a uma nova rainha, e, assim garantir a continuidade da natureza. Do lado oposto, os Boggans, seres maléficos liderados por Mandrake (Christoph Waltz/Mauro Ramos), tentam destruir os Homens-Folha e impor a morte e a decomposição no mundo.

O mote é infantil, mas no bom sentido: uma trama de aventura correta, muito bem conduzida, e que deve proporcionar uma sessão agradável para as crianças e seus pais. Os personagens são caracterizados em poucas cenas, para dar logo lugar às perseguições agitadas e ao virtuosismo dos efeitos 3-D (as sequências aéreas são um espetáculo à parte). Tem final feliz, trilha sonora grandiosa, mocinhos bons e vilões maus, alívios cômicos, enfim, o pacote completo. Mas também muito charme e criatividade na elaboração dos cenários e personagens, uma protagonista cativante e bem desenvolvida, e um firme apego à aventura tradicional, sem ironias, referências a filmes famosos ou neuroses contemporâneas.

Não é muito, claro. Os desenhos da Pixar e de Hayao Myiazaki já nos mostraram, e diversas vezes, que dá pra fazer um filme infantil com alta elaboração artística e reflexões profundas, sem que eles sejam, por isso, menos acessíveis ou divertidos. Reino Escondido antes pertence à estirpe de Kung-Fu Panda e Shrek, de aventuras descomplicadas e diretas, sem alçar voos maiores. Mas seriam estes filmes inferiores por causa disso? Por mim, sempre vai haver espaço para um capa-e-espada agitado, divertido e sem firulas. Se você estiver nesse clima, vá sem medo.

P.S.: Nesse mesmo estilo, embora com um pouco mais de personalidade, vai o também subestimado A Origem dos Guardiões, que merecia ser bem mais visto do que realmente foi. Se você gostou deste aqui, é uma ótima pedida.

Nota: 7,5