Os cinéfilos da Rússia terão um problemão na noite do dia 22 de fevereiro: nenhuma emissora do país vai transmitir a cerimônia de premiação do Oscar 2015. O país europeu é um dos cotados para vencer a categoria de Melhor Filme Estrangeiro e é justo por causa disso o empecilho.

“Leviatã” é o representante da Rússia na disputa do Oscar 2015. O longa dirigido por Andrey Zvyagintsev, porém, faz duras críticas ao governo de Vladimir Putin pelos altos índices de corrupção e violência no país, causando mal estar entre os realizadores e as autoridades. Temor das autoridades locais é de possíveis protestos contra o líder do país em plena cerimônia da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Responsável pela transmissão na Rússia, o Channel One informou que o Oscar 2015 será transmitido em versão compacta no dia 23 de fevereiro. Esta não é a primeira polêmica envolvendo o canal com a cerimônia da Academia de Hollywood: no ano passado, a emissora cortou partes do politizado discurso sobre a Venezuela e Ucrânia de Jared Leto ao receber a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante. O Channel One se defendeu afirmando não ter havido censura e que a decisão foi apenas uma escolha pelos direitos do contrato estabelecerem 90 minutos de duração da transmissão no total.

Briga política

Os críticos de Vladimir Putin dizem que a história de “Leviatã” reflete a vida na Rússia nos últimos 15 anos, desde que o ex-espião da KGB chegou ao poder, com seus representantes públicos corruptos se enriquecendo ilícita e impunemente. O Ministério da Cultura russo foi um dos financiadores do filme, mas agora alega que o longa prejudica a imagem da Rússia somente para conseguir aclamação internacional.

Os atritos entre realizadores e o governo russo provocaram o adiamento da estreia do filme no país. Isso porque uma lei no país proíbe palavrões em um longa-metragem com financiamento público. Com isso, “Leviatã” chegou às salas de exibição da Rússia com trechos silenciosos quando os personagens falam algum impropério.

O ministro russo da Cultura, Vladimir Medinski, autor da lei que proíbe os palavrões, atacou o diretor Zviaguintsev e sua visão da Rússia em uma entrevista ao jornal Izvestia no dia da indicação do filme ao Oscar. “Do que ele gosta? Das estatuetas douradas e dos tapetes vermelhos, isto está claro”, disse, antes de completar que “em sua carreira para o sucesso internacional, o filme é oportunista de forma desproporcional”.

Revoltado com a censura, o diretor Andrey Zvyagintsev sugeriu aos russos que fizessem download do filme para assistir a versão planejada por toda a equipe de “Leviatã”. “Depois de assistir ao filme nos cinemas, as pessoas poderiam baixá-lo para sentir um pouco o tom dos diálogos originais. Sugiro que quem não tenha chance de vê-lo em tela grande, pois ele pode não chegar a cidades pequenas, simplesmente o baixe e assista”.