No futuro apocalíptico imaginado pelo diretor Ridley Scott em “Blade Runner: O Caçador de Androides” (1982), o dia 8 de janeiro de 2016 marca a data de criação do replicante Roy Batty, célebre vilão interpretado por Rutger Hauer neste clássico da ficção científica.

Apesar de se passar em uma Los Angeles futurista, o filme está firmemente escrito conforme as convenções do cinema noir, as quais não definem claramente heróis e vilões, ou seja, Roy tanto pode ser um vilão quanto um herói trágico, um robô lutando para sobreviver em um mundo que quer eliminá-lo.

Essa ambiguidade é um dos pontos altos do filme de Scott, que até hoje o considera seu mais completo e pessoal e continuou a mexer nele, com uma obsessão digna de George Lucas, até o lançamento da chamada “Versão Final”, lançada em 2007, 25 anos após sua estreia original.

O ponto alto mais memorável, no entanto, é o próprio look do filme, que bebe de fontes como o filme “Metrópolis” (192), de Fritz Lang, e a seminal revista em quadrinhos francesa Métal Hurlant para criar um amálgama de ideias de um futuro distópico. A atmosfera sombria, feita para lembrar “Hong Kong num dia muito ruim” (palavras de Scott), se tornou tão influente que podemos dizer que, se você assistiu qualquer ficção científica feita após “Blade Runner”, você viu ecos da produção.

A arquitetura industrial, os carros voadores, a tecnologia “retrofit” (ou seja, atualizada a partir de equipamentos velhos), enfim, vários dos elementos que associamos a um futuro que saiu pela culatra ganharam um tom surreal com este filme, misturando o design frio dos prédios com luzes néon saídas diretamente dos quadrinhos.

Quando se trata de lembrar de uma cena do filme, no entanto, quem aparece na mente da maioria dos cinéfilos é Roy, que monologa sobre a existência para seu algoz Rick Deckard (Harrison Ford): “Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque ardendo no ombro de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer”.

Em memória do replicante, o Cine Set relembra cinco dos robôs mais memoráveis do cinema. Confira na lista a seguir:


Gort – O Dia em que a Terra Parou (1951)

Antes de Robby, o Robô, de C-3PO e do Exterminador, existiu Gort. Ele tinha um design simples, mas graças à sua superforça, ao laser que saía do seu visor e ao seu icônico comando – a clássica frase “Klaatu, barata nikto” – ele foi em grande parte responsável pelo sucesso da marcante ficção do diretor Robert Wise, uma das primeiras a levar o gênero a sério. Com Gort não se brinca: muitos veem o filme como um libelo pacifista, mas é possível interpretá-lo de outro jeito, como uma propaganda da intimidação pela força das superpotências. E a presença de Gort apenas dá força à essa interpretação.


HAL 9000 – “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968)

A inteligência artificial HAL 9000, concebida pelo cineasta Stanley Kubrick e pelo escritor Arthur C. Clarke para sua famosa colaboração “2001: Uma Odisseia no Espaço”, partilha do questionamento de sua própria existência de Roy e o que ele descobre também o faz relativizar a importância da vida humana – o que, claro, o torna demasiado humano por tabela e um perigo para quem estiver por perto.


Robô Mordomo – “O Dorminhoco” (1973)

Robôs zoeiros sempre chamam a atenção, e um dos melhores foi este, saído da imaginação de ninguém menos que Woody Allen, numa das suas primeiras e mais engraçadas comédias. Dorminhoco é uma paródia das convenções da ficção-científica e dá a Woody a chance de se esbaldar no seu humor visual e verbal. Numa das melhores cenas, ele se disfarça de robô mordomo, mas não consegue ser tão eficiente quanto seus colegas mecânicos. Por algum motivo, ele parece mais interessado na patroa, Diane Keaton, e no seu aparelho chamado orgasmatron.


Ash – “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979)

Ridley Scott não trouxe apenas um androide inesquecível ao cinema. Antes de “Blade Runner”, ele criou Ash, um dos tripulantes da Nostromo, nave em que boa parte da ação de “Alien – O Oitavo Passageiro” acontece. Interpretado friamente por Ian Holm, Ash é o ápice do robô calculista que, desprovido de emoção, faz de tudo para cumprir sua missão, à revelia dos humanos ao redor.


T-1000 – “O Exterminador do Futuro 2 – Julgamento Final” (1992)

Lembro quando assisti Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final no finado Cine Cantiflas localizado no centro da cidade, fiquei impactado. Não foi apenas em razão dos revolucionários (e ótimos) efeitos especiais que o filme de Cameron oferecia. O responsável por parte deste impacto atendia pelo nome de T-1000 (Robert Patrick), o vilão robótico implacável na perseguição aos Connors e ao próprio T-800 de Schwarzenegger. O robô feito de metal líquido era tão assustador que gerava arrepios, uma figura quase imortal (e indestrutível) que em alguns momentos temi pelo destino dos heróis. Não é a toa que até hoje, nenhum outro filme da franquia chegou perto da perfeição na elaboração do vilão como aconteceu nesta continuação .


David – “A.I: Inteligência Artificial” (2000)

Se A.I: Inteligência Artificial é um filme indeciso entre dois diretores, no caso Kubrick e Spielberg, seu protagonista David não oscila naquilo que é: Caracteriza a complexidade dos personagens do primeiro e o enorme carisma dos personagens do segundo. Haley Joel Osment constrói um robô tão cativante que é díficil o público não se envolver na sua jornada “pinoquiana” de virar humano, para assim, receber o amor da sua mãe. Um desejo tão natural e singelo por parte deste personagem artificial que nós leva acreditar que no fundo ele é o verdadeiro humano dentro do filme.