Amantes do cinema de diferentes gerações vêm acompanhando, ao longo de décadas, as incríveis proezas do agente secreto mais famoso do mundo: James Bond, o 007.

A série de filmes projeta uma imagem romântica, violenta, tecnológica e até cínica sobre o mundo da espionagem.
Essa, no entanto, é uma imagem da qual o SIS (sigla de Secret Intelligence Service, ou Serviço Secreto de Inteligência), órgão mais conhecido como MI6, quer se afastar hoje em dia.

E para isso, pela primeira vez, o serviço decidiu usar as mesmas telas de cinema frequentadas por Bond.

‘Esta mulher poderia’

O MI6 acaba de lançar em cinemas britânicos uma campanha com anúncios cujo objetivo é recrutar candidatos para trabalhar como espiões.

Uma mulher jovem de etnia indefinida é vista na tela em uma série de situações corriqueiras. Ela demonstra inteligência emocional e habilidade para lidar com pessoas.

“Esta mulher não trabalha para o MI6. Mas poderia”, diz a peça publicitária.

A julgar pelo anúncio, portanto, pessoas de olhos azuis, brancos e do sexo masculino que querem “licença para matar” não devem perder seu tempo com a candidatura.

“Existe por aí uma noção de que queremos um Daniel Craig (ator que interpretou James Bond no cinema) ou um Daniel Craig bombado”, disse ao jornal britânico The Guardian a chefe do setor de recrutamento do MI6, identificada apenas pelo nome de Sarah.

“Mas ele não seria contratado pelo MI6”, afirmou.

A equipe de recrutamento do órgão há muito se preocupa com os efeitos negativos da imagem de James Bond, difundida primeiro pelos romances do escritor inglês Ian Fleming (1908-1964) e, mais tarde, pela maior franquia de cinema de todos os tempos. Foram 26 filmes produzidos em 54 anos.

O objetivo do anúncio do MI6 é afastar o público de um estereótipo enganoso. Em nota à imprensa, o órgão afirmou que o anúncio tenta “atrair pessoas que se excluiriam de uma carreira no MI6 baseadas em concepções errôneas”.

A estratégia é recrutar pessoas de diferentes setores da sociedade britânica, com ênfase em mulheres e minorias étnicas, que continuam subrepresentadas no serviço secreto, explicou ao Guardian o chefe de recursos humanos do MI6, identificado somente como Mark.

Grupo de elite?

Outra novidade na política de recrutamento é a volta do tradicional “tapinha no ombro”, um método de busca ativa por talentos usado há décadas, principalmente nas Universidades de Oxford e Cambridge.

O método pode ser o mesmo, mas os locais serão diferentes. O recrutamento se dará em “diversas organizações”, disse Mark, sem entrar em detalhes.

A revelação de que estudantes de universidades britânicas com notas acima de um certo patamar (o equivalente a notas entre 50 e 59 em uma escala de 0 a 100) se qualificariam para trabalhar no MI6 motivou críticas. O argumento é que a reputação de órgão de elite do serviço, integrado pelas melhores cabeças do país, ficaria manchada por esses critérios.

Mark disse, no entanto, que experiência profissional em outros setores às vezes é tão importante quanto um bom diploma.

Outra tática na nova estratégia de recrutamento do MI6 é convidar o público a fazer testes online para avaliar a habilidade de influenciar outros e a sociabilidade da pessoa.

Anúncios que não incluem o logotipo do MI6 convidam o internauta a fazer uma série de testes ou jogos. Somente os que são bem sucedidos descobrem, após jogar, que possuem as habilidades necessárias para uma carreira no serviço de inteligência.

Entre as aptidões avaliadas estão a capacidade de detectar emoções e de influenciar o outro. O teste, por exemplo, convida o participante a escrever um SMS para persuadir um amigo a ir a uma festa surpresa.

O anúncio do MI6 ficará em cartaz durante um mês em cinemas em Londres e nas regiões sudoeste e noroeste da Inglaterra.

da BBC Brasil