Antes de os super-heróis se tornarem os ícones do cinema americano, havia os pistoleiros nas cidades empoeiradas do Velho Oeste, fazendo movimentos miraculosos com suas armas de fogo – ou, no caso dos mais exóticos, facas. Antes de Os Vingadores (2012), havia a trupe com habilidades especiais de Sete Homens e um Destino (1960).
Não à toa um dos maiores clássicos do western hollywoodiano retorna em uma nova encarnação aos cinemas nesta semana, em um remake dirigido por Antoine Fuqua e protagonizado por nomes como Denzel Washington, Chris Pratt e Ethan Hawke, entre outros. Mas o que faz do filme original de John Sturges uma obra tão lembrada e referenciada? O que o difere de outros faroestes da época? Para responder, o Cine Set lista seis motivos que ajudaram a tornar o filme um clássico – e um ponto negativo que, observado hoje em dia, pode incomodar bastante.
1. Um bom remake
Na verdade, antes de qualquer Sete Homens e um Destino, seja o de 1960 ou o de 2016, havia Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa. O filme de Sturges é um remake do cultuado longa japonês, que contava a história de sete samurais contratados para defender um vilarejo alvo de bandidos. Na versão americana, o roteiro de William Roberts acertou em manter a essência da história, mas transportando-a para o familiar universo dos westerns: sete pistoleiros se reúnem para defender os fazendeiros de um vilarejo mexicano constantemente atacado pelo ladrão Calvera e suas dezenas de capangas. Pode-se até dizer que o jogo já estava ganho desde o início, graças à excelência do filme original de Kurosawa, mas isso não seria nada se direção e roteiro não acertassem no tom, fazendo de Sete Homens e um Destino uma releitura fiel e ao mesmo tempo com vida própria.
2. O elenco
Eis a prova de que um elenco bem afinado pode fazer maravilhas: Sete Homens e um Destino reuniu num mesmo filme uma lista de atores que se consolidariam como estrelas, e mesmo aqueles com papeis menores conseguiram brincar e domar seus personagens com destreza. Steve McQueen, por exemplo, é charmoso e tão simpático que dói como Vin Tanner, Horst Buchholz tem em si todo o espírito jovem, inconsequente e orgulhoso de Chico e até mesmo Robert Vaughn, um dos mais subutilizados, consegue encher seu personagem de sutilezas. Fechando o grupo dos sete pistoleiros, estão Yul Brynner, o líder do grupo, Charles Bronson, Brad Dexter e James Coburn. Do lado dos bandidos, Eli Wallach tem um de seus primeiros papeis de destaque como o perigoso Calvera e faz valer cada segundo em cena.
3. É um blockbuster divertido
Nem tudo é tiro, porrada e bomba no longa: há uma série de tiradas engraçadas e frases memoráveis, como as anedotas contadas por Vin Tanner no decorrer da história. A leveza e agilidade fazem de Sete Homens e um Destino um daqueles blockbusters simples, mas eficientes e bem feitos.
4. A “desconstrução” dos caubóis
Em meio a essa leveza e ação, o filme encontra ainda espaço para levantar questões interessantes sobre as ideias de masculinidade e heroísmo dos pistoleiros. Os personagens de Charles Bronson e Robert Vaughn são os que melhor representam essa discussão, sobre até que ponto vale a pena viver a vida como eles, sem amarras, indo de um lugar para o outro. Mesmo que o próprio longa tente se contradizer a mostrar o grupo como verdadeiros heróis, os personagens fazem questão de verbalizar ao final: “só os fazendeiros venceram”.
5. A trilha sonora
Comerciais de cigarros Marlboro, episódios de faroeste de Os Simpsons, shows de bandas de rock e até James Bond: o tema principal composto por Elmer Bernstein é memorável e se tornou uma daquelas trilhas icônicas sempre referenciadas pela cultura pop mundo afora – e, aliás, funciona muito bem no filme, que sabe utiliza a música a seu favor, sem nunca se tornar dependente dela.
6. O legado
Em sua crítica para Os Sete Samurais, Roger Ebert sugere que o longa de Kurosawa talvez seja o responsável por inaugurar a estrutura de muitos filmes de roubo e de heróis de ação em que uma equipe deve ser reunida para cumprir uma missão – e Sete Homens e um Destino é o descendente direto imediato da ideia. O sucesso do longa gerou três sequências, inspirou uma série de TV e sua trama foi a inspiração para obras no cinema, TV e literatura – até Stephen King entrou no meio com A Torre Negra: Lobos de Calla.
Um problema: os “salvadores brancos”
Com o olhar “problematizador” dos dias de hoje, há apenas um problema que incomoda – e bastante – em Sete Homens e um Destino: no fim das contas, ainda é um retrato do homem branco como o salvador de outra raça. Embora abra a história com a perspectiva dos moradores mexicanos, uma vez que o grupo de pistoleiros está reunido, são os seus olhos que conduzem a trama, enquanto eles ajudam mexicanos sem rosto e sem nome a usarem armas e construírem armadilhas. Em certo momento, até mesmo um dos mexicanos se torna uma espécie de “vilão”, assumindo a faceta de covarde entre os fazendeiros. (O romance desnecessário e repentino entre uma das filhas dos líderes do vilarejo e um dos pistoleiros também não é lá um ponto positivo, mas ainda é menor.)
Claro que, dado o contexto da época, soa até injusto culpar Sete Homens e um Destino, mas, considerando a desconstrução que o filme tenta fazer de seus próprios heróis, é uma bola fora que não pode ser deixada de lado. Aparentemente, o vindouro remake do remake tenta “consertar” pelo menos a ideia de representatividade, colocando entre os sete pistoleiros um índio, um asiático e um negro (Denzel Washington) como líder. Se vai funcionar, ainda não sabemos. De qualquer forma, a imagem do Sete Homens e um Destino não está maculada: temos aqui um faroeste divertido, competente e influente que, assim, garantiu seu lugar no rol de clássicos do cinema.
Não concordo com a parte critica, pra mim, isso não é um problema. O ultimo remake desconstruiu o que havia de mais belo no roteiro do primeiro filme: O fato de não haver nenhum motivo racional ou lógico para que os sete homens ajudassem os mexicanos, justamente por eles serem todos brancos e não terem nenhuma afinidade com o povo que eles tentaram salvar dos bandidos. Apesar de não ter negros no filme, ele enfoca o racismo de uma forma bem interessante, quando eles tentam ajudar a enterrar um índio na primeira cena. Lhe pergunto: Onde, no segundo filme, apensar de colocar um negro como ator principal, enfoca o racismo? Em nenhum ponto! O diretor ficou sem saber o que fazer na questão da motivação dos pistoleiros, enquanto o primeiro brinca com isso o filme todo, o outro busca motivações superficiais. O ponto máximo disso, no primeiro remake é um cara que acredita que existe ouro envolvido, porque não entende essa motivação. Na primeira cena isso se torna evidente: dois homens queriam enterrar um índío, dois homens brancos bem situados, porque ele era querido pela família, e os moradores não queriam que um índio fosse enterrado ali junto com brancos…contrataram um bando para proteger o portão do cemitério…O racismo contra os índios sempre foi mais forte do que contra os negros, e no segundo filme, é um índio lutando contra outro… isso não tem nada haver com coitadismo, e sim, com o tema da motivação: colocar um índio defendendo-se do outro é mais fácil que um branco protegendo um índio…E no caso o Denzel, motivação foi vingança, nada haver com o tema do racismo…Não existe racismo que não seja de branco contra negro, índio ou mexicano…o enfoque do racismo é o branco, não o negro…Não é o negro que erra, ele não deve mostrar sua qualidade para ser aceito pela sua cor, deve ser aceito nesse ponto ( no tocante a cor ) de qualquer forma, errando ou acertando…A critica que o mexicano traiu os caras, não se fundamenta…ninguém o julgou porque era mexicano…O próprio vilão, de forma muito interessante, justifica suas ações e é um cara até certo ponto justo, ( onde se permite um saqueador, é claro, ele não é totalmente mau, não é satanizado ) porque deixa os pistoleiros irem embora sem feri-los. E só mata aquele fazendeiro porque esse tenta mata-lo, não é um vilão idiota como no segundo filme, que mata sem motivo…O vilão do segundo filme é branco, mas sua canastrice e superinterpretação dá nojo… O segundo filme tenta consertar um erro que não existe e acaba errando mais ainda, de forma “politicamente correta”, se torna um filme previsível, com personagens padronizados, e não coloca questão ideológica nenhuma sobre o modo de vida dos pistoleiros ( algo indispensável nos tempos atuais, diate o panorama violente que vivemos )
Marcos, concordo totalmente com você. Para mim, olhando todos os aspectos que você mencionou, o remake falhou. O filme de 1960 é um clássico grandioso, inesquecível, feito nos moldes de todo pensamento e cultura da época. Esse lado social que se aflorou nos últimos anos, vem prejudicando a arte. Nada mais é que colocar “cotas” e arte não é isso. Sete Homens e Um Destino 1960 é atemporal com estrutura e envergadura de “ETERNO”.