Setembro foi escolhido como mês de prevenção do suicídio. Essa decisão foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a International Association for Suicide Prevention (Iaps) devido aos preocupantes resultados do Relatório Global para Prevenção do Suicídio, que ano após ano revela um número crescente de pessoas que tiram suas próprias vidas. De acordo com a OMS, 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas.

Conforme o aumento de incidências de suicídio, eleva-se também o tabu em torno do assunto, principalmente entre familiares e o governo, como instituição pública, que pouco aborda a questão de maneira aberta e eficaz. Segundo o relatório, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, os casos possuem maior ocorrência com pessoas a partir dos 70 anos, principalmente no Brasil, que ocupa a 8ª posição, nas Américas, em número de suicídios.

Segundo especialistas, uma das maiores causas para tentativas de suicídio é a depressão. Ao falarmos de suicídio dentro do cinema, essa também é uma das principais abordagens, como procura destacar os filmes que escolhemos retratar para falar do tema:

  1. Virgens Suicidas (1999) de Sofia Coppola

O primeiro filme de Sofia Coppola, como em todas as suas outras obras, retrata uma juventude que anseia por liberdade. Isto está presente não apenas na saga das cinco irmãs Lisbon e toda luta que travam para se libertar da pressão de ser adolescente num mundo tumultuado por calcinhas e religião, mas nos garotos que as observam e anseiam por sua libertação, também.

Todas sofrem com o isolamento e superproteção impostas pela mãe que lhes proíbe qualquer tipo de contato social com rapazes. Esta intervenção social só atiça as garotas a procurarem meios de fugir às rígidas regras fixadas pela mãe.

Para a caçula da família, Cecília (Hanna Hall) essa libertação ocorre por meio da tentativa de suicídio, até conseguir concretizar o ato, quando questionada o porquê de sua escolha a resposta seca e firme da guria denota a consciência de uma geração – “Você nunca foi uma menina de treze anos”.

Juntando todas as circunstâncias que regem o lar Lisbon, a sensibilidade que Sofia Coppola impele e a vida que se esvai pouco a pouco até o momento em que sai por completo do corpo das irmãs, o filme mostra o suicídio durante a adolescência e como ele pode estar ligado ao ideal de liberdade da juventude. Algo que seria também trabalhado anos a frente no francês/turco Cinco Graças (2015) de Deniz Gamze Ergüven.

  1. As Horas (2002) de Stephen Daldry

O filme que premiou a australiana Nicole Kidman nas principais competições cinematográficas, já tem em sua primeira cena a tentativa de Virginia Woolf (Nicole Kidman) de se suicidar, junto a narrativa da última carta da escritora dedicada a seu esposo Leonard Woolf (Stephen Dillane). O filme destaca a angustia da autora e outras duas mulheres influenciadas pela obra Mrs.Dalloway durante um dia e suas motivações ao suicídio.

Há um diálogo entre Virginia Woolf e Leonard Woolf, na estação de metrô, que descreve o estado de angustia e desespero das pessoas prestes a cometerem suicídio. Outro personagem que também faz essa descrição é o de Ed Harris, o qual se aplica um pouco da psicanálise freudiana quanto à construção da personagem e suas escolhas.

A melancolia presente em todo o longa é carregada pela música de Phillip Glass que leva o expectador a mergulhar na sentimentalidade e sensibilidade das personagens. Mesmo quando a pausa compõe o espaço sonoro, é apenas uma preparação para o clímax de angústia que mergulha o expectador na próxima cena e que faz compreender a motivação da escolha das personagens.

  1. Gosto de Cereja (1997) de Abbas Kiarostami

O cinema iraniano é conceitualmente mais moroso que o hollywoodiano e o europeu. Kiarostami aplica essa característica com exatidão para descrever a angustia de seu protagonista em encontrar pelas vias iranianas alguém que possa certificar-se que realmente morreu.

Escolher a morte, sendo comandada por si mesmo é uma decisão difícil e requer verdadeira resignação, ainda mais se analisarmos o conceito fundamentalista por trás da religião propagada no país de Kiarostami.

O filme procura trazer uma definição de suicídio dentro dos parâmetros religiosos, uma justificativa, embora nem mesmo aceita por ele, a escolha de Badii (Homayoun Ershadi), que até o último instante luta internamente pelo que sente ser melhor para si.

  1. A Pequena Loja de Suicídios (2012) de Patrice Leconte

O filme belga carrega a leveza de um musical produzido por meio de uma animação. Mas não se engane, nem toda comédia musical são números, piruetas e acordes agudos. Na primeira sequência já se tem um pássaro que sobrevoa a cidade e por cada prédio que passa, assiste um tipo diferente de suicídio: enforcamento, atirar-se de um prédio, ingerir veneno.

É um universo em que a tristeza e depressão predominam. O índice de suicídios é alto e para coibi-los, o governo instaurou uma lei em que é proibido matar-se em público, por isso a família Tuvache sobrevive a gerações ofertando soluções caseiras para a morte.

Um dos grandes destaques da animação são as cores neutras e frias que evocam o ambiente e a situação em que se encontram os personagens nesse mundo caótico, com exceção da Loja especializada em vender produtos para suicídio. Há cores por todo lado e as mais variadas formas de morte a mão. Com o decorrer do filme, percebe-se certa predominância do verde sobre as outras cores, o que é irônico, já que universalmente, essa cor simboliza a esperança.

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  1. A Ponte (2006) de Eric Steel

O documentário mostra um ponto turístico norte-americano, a ponte Golden Gate em São Francisco, que se tornou conhecida mundialmente pelo elevado número de pessoas que a procuram para se suicidarem. É uma análise tênue do que separa a vida e a morte, além de ser um alerta para o governo acerca de providências como uma barreira que iniba a escolha do local.

A equipe de produção esteve durante o ano de 2004 filmando a ponte e todos os suicídios e tentativas ocorridas nela. A partir dai, procurou-se testemunhas oculares das mortes, familiares e amigos dos suicidas para entrevista-los e ouvir as histórias por trás do ato. É interessante notar a investigação feita pelo diretor das causas e consequências do ato de suicídio e o quanto isso afeta os familiares.

A Ponte procura quebrar os paradigmas já impostos que transformaram o tema em tabu. Explorando a coragem e libertação que acompanham o ato daqueles que não enxergam na vida uma razão de existir e por isso optam pela morte. Apresentando respostas racionais ao questionamento do que leva as pessoas a interromperem suas vidas.

Curta-Metragem brasileiro sobre suicídio

O curta de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, “Cortes”, selecionado para competir no Festival “Star Film Fest” na Croácia de Roberto Leite, é um filme brasileiro que também traz a voga a temática através de Jade (Camila Schneider), uma jovem viúva que se sente solitária e deprimida desde a infância, vendo no auto flagelo um alívio para sua dor. A interpretação e a fotografia fria mergulham o expectador na sensibilidade da personagem e no seu processo de despedida.

Vale a pena conferir.

A produção amazonense também destacou o assunto recentemente com o curta “Todas as Minhas Anotações”, dirigido por Andrew de Souza.

“O suicídio é um assunto complexo. Normalmente, não existe uma razão única que faz alguém decidir se matar”, diz Ruth Sunderland, diretora do ramo britânico da ONG Samaritanos, que se especializa na prevenção de suicídios. Precisamos falar sobre o que causa o suicídio. Precisamos falar sobre suicídio, de forma aberta e reflexiva como trata o cinema.