Em tempos de fotos e vídeos íntimos que vazam na web seja pelas mãos de conhecidos ou de anônimos dispostos a disseminar o revenge porn, Sex Tape – Perdido na Nuvem parte de uma premissa semelhante para fazer graça com a situação de um casal que, de repente, vê sua intimidade exposta por acidente na rede. O resultado é uma comédia que evita ousar criativamente e tem o mérito de ser apenas simpática.

Parte disso se deve ao carisma de seus protagonistas: a história segue o casal Annie e Jay, vividos por Cameron Diaz e Jason Segel, que, depois de anos juntos, com filhos, trabalho e responsabilidades aos montes, veem sua vida sexual, antes tão ativa e ousada, ficar cada vez mais morna. Uma noite, na tentativa de apimentar novamente a relação, os dois decidem gravar seu próprio vídeo pornô, encenando todas as posições de um livro à lá Kama Sutra.

O problema é quando Jay se esquece de apagar o arquivo, que acaba sendo sincronizado com todos os iPads dados de presente a pessoas próximas do casal, inclusive um milionário em vias de fechar negócio com Annie. Os dois então partem em uma jornada de uma noite dispostos a recuperar todos os aparelhos a tempo de deletarem as cópias do arquivo, o que os leva a uma série de obstáculos absurdos e inesperados. (Afinal, se Jay soubesse que pode apagar o vídeo remotamente, não haveria filme.)

A química inesperada entre Cameron Diaz e Jason Segel, capazes de um bom humor até mesmo físico, é o que dá tempero a grande parte do filme, que depende quase inteiramente do casal em cena para garantir seus bons momentos. O problema em Sex Tape é insistir em estender suas melhores piadas à exaustão, até que elas não tenham mais graça. Gags como a que envolve a aparição surpresa do personagem de Jack Black começam bem, até que a repetição acaba cansando e desgastando o humor da cena. Ainda assim, há bons momentos, envolvendo personagens bizarros como o empresário vivido por Rob Lowe e a relação de amor e ódio de Jay com a tecnologia.

E se a classificação indicativa pode dar a entender de que se trata de um filme super picante para deixar seus hormônios à flor da pele, ledo engano: com exceção de algumas bundinhas de fora de Jason Segel e Cameron Diaz, a comédia segue a cara conservadora de outras produções do gênero do cinemão americano. Com esse tema em mãos, o filme poderia ousar e buscar novas maneiras de incluir o sexo com efeito cômico – algo que Kevin Smith faz também falando de pornografia em Pagando Bem, Que Mal Tem?, por exemplo –, mas no fim das contas a mensagem é mesmo moralista. A fala do personagem de Jack Black em certo momento, inclusive, deixa explícita a posição do filme como típica comédia norte-americana simplesmente feita para a família de comercial de margarina.

Se não ousa narrativamente, o filme se arrisca muito menos cinematograficamente: a direção convencional de Jake Kasdan tem a mesma cara que outros mil exemplares do gênero. Outro “vídeo-ensaio” feito por Tony Zhou, que já citei por aqui antes, fala justamente sobre esse problema, pegando como exemplo Edgar Wright, diretor de produções como Scott Pilgrim, Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso. Wright sabe bem como explorar as possibilidades da linguagem para fazer comédia visual, mas, infelizmente, ele é uma exceção num universo de diretores que pouco exploram o gênero, nesse sentido.

Esse é o caso de Sex Tape, que pouco se arrisca nos rumos que poderia tomar. Ainda assim, garante algumas risadas no percurso, mesmo que elas corram o risco de já terem sido esquecidas uma semana depois.