“Sueño Florianópolis” é o típico filme simpático: bons atores, uma questão social relevante como base de uma trama leve com pitadas de comédia, romance e drama, cenário lindo, tom nostálgico. Tudo o que pesa a favor também joga contra quando já nos deparamos com a mesma história diversas vezes.

Dirigido por Ana Katz (“Minha Amiga do Parque”), o filme se passa nos anos 1990. Praticamente separados, Lucrecia (Mercedes Morán) e Pedro (Gustavo Garzón) ao lado dos filhos em uma viagem para o litoral de Santa Catarina. Enquanto ele ainda alimenta esperanças de reatar o casamento, ela busca o recomeço e encontra no proprietário da casa onde estão de férias, Marco (Marco Ricca), a chance de uma nova aventura amorosa.

O grande mérito de “Sueño Florianópolis” é sair da zona de conforto e optar por expandir as possibilidades da história. A primeira impressão é que iremos assistir uma comédia romântica de um casal experimentando outras relações para entender que, no final das contas, nasceram um para o outro. A rivalidade Brasil e Argentina seria um pano de fundo na garantia do humor, o que não deixa de acontecer com o apelido de Sunga dado por Pedro a Marco pelo hábito constante do brasileiro em andar com a roupa de banho.

O roteiro do casal Ana e Daniel Katz, entretanto, foca no fim do ciclo de uma etapa da vida e a possibilidade de recomeço quando menos se espera. Observar como Pedro e, especialmente, Lucrecia redescobrem a sexualidade e o poder de sedução mesmo aos 50 anos é comovente por ser algo tão tabu em uma sociedade careta e conservadora como a atual. Pelo meio do caminho, “Sueño Florianópolis” aproveita para dar cutucadas na classe média argentina tão cheia de empáfia e soberba, mas, que acaba sem gasolina no meio da estrada e se vê em uma casa longe do luxo europeu.

Inevitável, porém, pensar que o tema central de “Sueño Florianópolis” já fora tão bem trabalhado e melhor representado nos cinemas no ótimo “Gloria”. A dramédia chilena estrelada de maneira excepcional por Paulina García possui muito mais camadas e uma história mais bem construída do que a coprodução Brasil-Argentina.

Apesar de contar com Mercedes Morán e Marco Ricca inspirados, o filme é extremamente previsível (basta olhar para a filha de Lucrecia para adivinhar o que virá) e conta com tanta gente em cena que não consegue dar conta de todos eles (o que faz, sente, come a moça que divide a casa com Marco). A própria analogia da água do mar no fim do filme utilizada para sinalizar a chegada de um novo ciclo recai já foi vista centenas de vezes recentemente nos cinemas.

Mesmo um pouquinho longo na parte final (106 minutos, ao todo), “Sueño Florianópolis” diverte com personagens agradáveis e a leveza com que fala de um assunto delicado. Mas, trazer algo novo, isso não faz nenhum pouco.