Um grupo de amigos decide continuar brincando de manja-pega mesmo depois de já terem se tornado adultos, casados, profissionais respeitados, etc. Para que seja possível se organizarem, a brincadeira passa a acontecer durante um mês do ano, e nesses trinta dias vale utilizar-se de disfarces e/ou planejar detalhadamente situações para “pegar” o parceiro, o que muitas vezes faz com que a brincadeira ganhe tons de obsessão. Essa é a premissa de “Te Peguei!”, que curiosamente é baseado numa história real.

Claro que é muito verdadeira a regra da crítica cinematográfica que diz que não importa sobre o que é o filme, mas como ele é sobre o que quer dizer. Mas ainda assim, é difícil demais não ir com os dois pés atrás num filme com uma premissa tão… “e o que eu tenho a ver com isso?”. Não que um filme precise ter temática relevante como obrigação, ou que ele não possa ser concebido e desenvolvido para ser entretenimento. Mas é que há tantos exemplos de obras que conseguem estes resultados sem serem tão artificiais ou desinteressantes, que isso faz com que assistir a “Te Peguei!” se torne um exercício constante do relevar deficiências, de não levar a sério a precária construção narrativa nem os personagens desinteressantes.

Se o filme não é interessante como premissa, como linguagem a situação não se modifica. A direção de Jeff Tomsic busca imprimir energia através de efeitos de montagem que brincam com o jogo entre cortes rápidos e câmera lenta (e somada a narração em off nas cenas com Jeremy Renner, ganha um efeito idêntico ao de Sherlock Holmes”, de Guy Ritchie, beirando o plágio), mas sem uma capacidade cômica que tire as coisas do lugar de um jeito realmente inesperado. Trata-se de uma anarquia comportada, com fotografia e montagem publicitárias, e direção não-criativa.

A construção dramatúrgica de “Te Peguei!” é repleta de facilidades, e não consegue legitimar esse inusitado dispositivo. Por mais que se queira acreditar na intensidade e disposição das personagens durante as situações da trama, o roteiro parece ser incapaz de esconder a besteira que é essa história. Passa distante de uma atividade lúdica de pessoas com espírito de brincadeira (que acredito que deva ser, de fato, o que acontece com o grupo original), transformando-se em cinema preguiçoso, naquele que pensa que construir uma estrutura minimamente elaborada soa como incompatibilidade de formato para uma comédia “para a família”. As personagens femininas, principalmente a da repórter, que é praticamente abandonada depois, beiram o constrangimento. Em outras palavras, trata-se de um filme inofensivo, algo grave para qualquer obra de arte, mesmo que com fins comerciais muitíssimo bem definidos.

É interessante constatar o quanto este filme é esquecível mesmo com atores  carismáticos. Jon Hamm, Jeremy Renner, Hanniball Buress, Isla Fisher, Ed Helms, colocam as suas já conhecidas máscaras de comédia trabalhando num perceptível piloto automático com momentos mais ou menos engraçados (mais pra menos). Todos estão ali, no entanto, dando vida a personagens com tão pouca densidade que fica até difícil saber como poderiam dar a mais.

Quem possui amigos de longa data compreende que, muitas vezes, as relações entre adultos pode assemelhar-se às relações da infância e adolescência. Isso é amplo e legítimo, lindo, longe de ser algo superficial. Mas é necessário, assim como tudo na arte, um olhar sensível sobre o tema para que se tenha uma obra que valha a pena ser produzida e assistida. Se não o que deveria ser leve e divertido transforma-se em perda de tempo.