Quando se fala em Tetê Espíndola, o grande público tende a lembrar da voz aguda que cantava sobre um amor “escrito nas estrelas” em programas de auditório nos anos 1980 e que marcou a infância de muita gente ao aparecer cantarolando junto com a Turma da Mônica nas telas de cinema. Logo, é natural que o mais desavisado pense que um documentário sobre a cantora vá tratar mais dos ditos dramas da fama, aquela releitura eterna de “O Que Terá Acontecido a Fulano de Tal”. O documentário em curta-metragem “Tetê”, de Clara Lazarim, felizmente, foge a essa regra e tem muito êxito ao buscar os laços que unem Tetês de diferentes épocas: a música e a natureza.

Dito isso, é interessante que o filme resolva brincar com essa dicotomia entre a Tetê artista-popular-que-aparecia-nos-programas-de-tevê e a Tetê pesquisadora e amante do canto dos pássaros. Em uma montagem espertíssima, o documentário se encarrega de apresentar o seu objeto primeiro pela imagem que o público tem da artista.

Ao introduzir Tetê primeiro por descrições de vários animadores de programas de auditório e depois com o seu maior instrumento – a sua inconfundível voz -, Clara já dá pistas de que aquele será um documentário pronto para uma geração que ainda precisa descobrir essa grande artista.

A Tetê do passado e a do presente parecem conversar entre si, seja sobre o canto dos pássaros ou sobre a craviola que casa com sua voz. As imagens de arquivo mostram uma artista eloquente e que sempre teve personalidade: da singela explicação sobre a voz aguda até o momento em que reconhece que não faz um trabalho que caiba no esquema das grandes gravadoras, que tanto ditaram o mercado fonográfico até serem atropeladas pela internet.

O documentário de Clara Lazarim é uma declaração de amor à voz de Tetê. Não apenas a voz literal, tão inconfundível até hoje, mas também a voz de uma mulher que está em constante descoberta artística e que não cessa a criação.

A performance final do grande hit da carreira da cantora é um testemunho dessa inquietude: o mesmo filme que abre com a apoteose dos programas de auditório agora encerra com uma apresentação intimista de um grande hit, emoldurado por uma voz que não teme o improviso. Dona de uma sensibilidade ímpar, Tetê Espíndola continua relevante, e o curta dirigido por Lazarim é daqueles trabalhos que merecem aplausos por celebrar a plumagem de uma artista tão única.