A essa altura, dizer que Tim Burton é um diretor visionário é lugar-comum: criador de personagens que marcaram as vidas do público, o estadunidense alcançou fama mesmo fora da cinefilia. No Brasil, a passagem de sua exposição itinerante pelo Museu da Imagem e Som, em São Paulo, gerou imensa procura, bem como sua farra no Carnaval do Rio de Janeiro, em que foi uma celebridade calorosamente tietada.

Burton fez de suas fantasias dark, com espetaculares músicas e direção de arte, sua marca registrada, aplicando seu visual a diversos gêneros, de ação a drama, de comédia a suspense. Como qualquer pessoa há tanto tempo na indústria, no entanto, seu trabalho passou por altos e baixos e, com a estreia de seu novo longa, “O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares”, o Cine Set separa cinco filmes que melhor utilizam o estilo do gótico mais famoso e um para você evitar se possível.

5 – O Estranho Mundo de Jack

Ao leitor mais atento: tudo bem, Burton não dirigiu “O Estranho Mundo de Jack” (quem o comandou foi Henry Salick), mas com seu roteiro e produção, é um dos filmes mais Burtonianos que você vai encontrar por aí. Sem abrir mão de suas esquisitices, o diretor criou um musical  infantil para a Disney que virou, sem querer, um novo clássico para o estúdio. Emoção, sustos e músicas antológicas colocam esse filme no mais alto patamar da animação noventista.

4 – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

Burton sempre foi um cara sombrio. Ponto. O encantamento de seus filmes sempre tem um pano de fundo mórbido. Ponto. Porém, com uma década dirigindo longas, ele ainda não havia dirigido um real suspense. Entra “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”. Nele, Johnny Depp vive um detetive meio biruta que vai parar numa cidade dos EUA do século XVIII para investigar assassinatos estranhos. Lá, o supernatural começa a agir e o sangue começa a correr. Filmaço.


3 – Batman: O Retorno

Os dois filmes da franquia Batman que Burton dirigiu foram marcos na história dos super-heróis no cinema. No entanto, “Retorno” foi a ocasião em que o diretor deixou seus impulsos mais macabros encontrarem o Cavaleiro das Trevas. Gotham é, mais do que nunca, uma cidade aterrorizante. Os vilões, inescrupulosos de todo jeito possível (e, inclusive, detêm mais o foco da trama que o herói). O filme transpira sexo e coloca Batman decididamente no campo do cinema noir. Em resumo, “O Prisioneiro de Azkaban” da franquia.


2 – Edward Mãos de Tesoura

Para muitos, a mais completa realização de Burton até hoje. A fantasia de subúrbio criada pelo diretor marca o início de sua longeva parceria com Johnny Depp, que encarna o personagem-título, um robô cheio de cicatrizes, com tesouras no lugar das mãos. Edward é, admitidamente, um alter ego de Burton, e sua inadequação ao mundo toca na sua própria quando jovem, bem como na de qualquer outra pessoa, criança ou adulta, que se sinta diferente. Um clássico da Sessão da Tarde que pede lencinhos de papel no final.


1 – Os Fantasmas Se Divertem

O maior talento de Burton é, potencialmente, a sua habilidade de misturar as lições de vida mais animadoras possíveis com os contextos mais mórbidos. Poucas vezes ela foi tão bem usada quanto em “Os Fantasmas Se Divertem”, uma comédia rasgada sobre um ser sobrenatural (Michael Keaton) contratado para afastar os novos moradores do lar de um casal recém-falecido (Geena Davis e Alec Baldwin). Outro clássico da Sessão da Tarde que bate, inclusive, muitas obras posteriores do diretor.


Pior: Alice no País das Maravilhas

Verdade, o remake insosso de “Planeta dos Macacos” comandado por Burton poderia estar aqui, mas, por pura frustração, vai “Alice” mesmo. A combinação de elementos sombrios e fantásticos do diretor o tornavam o cineasta ideal para adaptar o clássico de Carroll (como, inclusive, apontei neste videocast aqui). No entanto, um roteiro hediondo que transformou Alice numa heroína de armadura e o clímax em uma batalha campal (entre outras coisas) destruiu o que poderia ser a joia real de sua filmografia.