Avaliar um filme voltado ao público infantil é uma faca de dois gumes, pois quase sempre há dois tipos de espectador envolvidos: as crianças e os adultos que as levam para o cinema. Em casos excepcionais, os dois grupos conseguem se divertir com o filme, tal como na franquia Shrek, em que os diferentes níveis da trama cativaram pais e filhos com o equilíbrio entre inocência e malícia. “Turbo” não se encaixa nessa categoria, mas consegue ser engraçadinho para a garotada e suportável para os pais.

A animação acompanha as aventuras de Turbo, um caracol que sonha em ser piloto de corridas, o que causa constrangimento a sua comunidade. Após um acidente numa pista de corrida, seu DNA é modificado e ele passa a ser super veloz, podendo competir com pilotos de Indianápolis, inclusive com o herói de Turbo, Guy.

A premissa absurda é perdoável num filme de animação voltado ao público infantil; nem tão perdoável é o festival de frases de efeito para a garotada com o intuito de fazer o público “acreditar em seus sonhos”, uma vez que Turbo só realiza o seu por conta de uma completa modificação fisiológica.

Outro problema é o “elenco” de apoio, pouco carismático. O irmão de Turbo, Chet, poderia ser um contraponto interessante por ser mais conservador, mas em boa parte do filme os irmãos só brigam sem chegar a lugar nenhum. Os outros caracóis não ajudam muito nesse sentido, eventualmente servindo como tentativa de alívio cômico, mas sem a graça de um Gato de Botas em “Shrek” ou de uma Dory em “Procurando Nemo”.

Como de praxe nos filmes de animação de grandes estúdios (“Turbo” é da Dreamworks), a dublagem é feita por astros de Hollywood. No áudio original, há as vozes de Ryan Reynolds, Paul Giamatti, Samuel L. Jackson e outros, e a mixagem de som obedece a padrões muito além do que a dublagem nacional oferece com os “globais” Bruno Garcia e Ísis Valverde.

Com uma animação e 3D bem cuidados, “Turbo” é visualmente bem feito, estando longe daquelas animações da Barbie que passam na “Sessão da Tarde”. Ainda assim, todo o recurso da Dreamworks não foi o suficiente para criar seres visualmente mais expressivos, a exemplo dos robôs de “Wall-e”, e em especial, a robô Eva, que mal tinha traços visuais, mas transmitia personalidade forte através dos poucos movimentos de “olho” e “boca”, além do gestual de seu “corpo”. Talvez caracóis não fossem a melhor opção de animal lento que sonha em correr. Quem sabe uma preguiça?

No fim das contas, importa que o filme agrade ao seu público-alvo: as crianças. Sem grandes exigências quanto à qualidade do roteiro ou verossimilhança, elas curtirão o filme, embora não seja o tipo de produção que marcará a infância de ninguém. Falta a “Turbo” personagens realmente interessantes, ainda que não sejam os principais, a exemplo dos Minions de “Meu malvado favorito” ou o esquilo Scrat de “A Era do Gelo”, pois recursos para ter uma ótima equipe de criação, isso a Dreamworks tem, como já provou com vários de seus filmes anteriores.

 Nota: 5,0