A definição de “anódino”, segundo o dicionário online Priberam, é esta:

anódino

adj.

1. Que acalma a dor. = ANTÁLGICO

2. [Figurado]  Inofensivo, sem importância.

3. Paliativo.

Por aí se vê que é uma coisa indiferente, incapaz de despertar qualquer comoção, de provocar sequer rejeição ou repulsa. O adjetivo é especialmente adequado para a safra atual de comédias românticas – à exceção do ótimo O Lado Bom da Vida, nenhum filme do gênero nos últimos tempos (e houve vários) me fez pensar em outra palavra mais exata: todos são bonitinhos, bem-feitinhos, com histórias parecidas, pretensamente adultas e espirituosas. Em suma: anódinos.

E, já que se trata de um filme anódino, nada melhor do que escalar o galã supremo da anodinia: Gerard Butler – que, como mostrou recentemente em Invasão à Casa Branca, até num tiroteio consegue ser anódino – junto com um elenco de ex-estrelas e semiestrelas igualmente anódinas (prometo dar um tempo nessa palavra por aqui): Uma Thurman, Catherine Zeta-Jones, Jessica Biel, Judy Greer e Dennis Quaid.

O roteiro já mete medo: Gerard vive George Dryer, um antes famoso jogador de futebol, que, após uma contusão, se aposenta e consegue (vejam só) perder suas propriedades na Europa e seus carrões num espaço de poucos anos. Agora vivendo numa casinha modesta e afastado da esposa (Biel) e do filho (Noah Lomax), Dryer decide recuperar o tempo perdido e se reaproximar dos dois. A maneira escolhida por ele não poderia ser mais… bonitinha (arrá!): virando treinador do time de futebol do filho (no que talvez seja o aspecto mais interessante do filme, o esporte da trama é o nosso futebol, tão un-american) e despertando, com isso, o fogo nas mães da vizinhança.

A reação exagerada e caricata delas (o trio Judy Greer, Uma Thurman e Catherine Zeta-Jones), claramente machista, é apenas a cereja no bolo dessas obras que se pretendem, como eu disse lá em cima, adultas e espirituosas. É outro traço frequente dessas comédias a toque de caixa – o correspondente feminino seria Quatro Amigas e um Casamento, outra produção modesta e com uma visão igualmente infantilizada da guerra dos sexos. Um Bom Partido, porém, é tão (não deu pra segurar) anódino que até mesmo essa parte potencialmente ofensiva é leve e facilmente esquecível, ao contrário daquele outro filme. Nesse contexto, a (relativa) maior maturidade de um O Que Esperar Quando se Está Esperando chega a ser um alívio. E olha que o filme é pouco mais do que… não, não vou usar aquela palavra de novo.

Um Bom Partido é dirigido pelo italiano Gabriele Muccino, dos sucessos À Procura da Felicidade (2006) e Sete Vidas (2009). Não chego a considerá-lo um dos grandes do ofício, mas ele sabe conduzir suas histórias com fluência e delicadeza. Talvez só mesmo por ele algumas cenas constrangedoras (como a da personagem de Thurman tentando seduzir Dryer em sua casa) e personagens ruins (Barb, vivida por Greer) passem tão rápida e suavemente pela trama. Também funcionam a favor do filme a charmosa trilha sonora (as canções, já que a parte instrumental é exagerada) e o visível divertimento de Quaid no papel de um empresário fanfarrão. Tudo tão… vocês sabem o quê.

Nota: 5,0