Na ficção a ressurreição é possível, embora nem sempre resulte numa boa ferramenta narrativa.  A ressurreição mais aguardada dos últimos tempos veio da telinha: Sabe, pessoal, AQUELE personagem da série da HBO Game of Thrones foi um dos que realizou a proverbial “volta dos que realmente se foram”, provocando quase um abalo sísmico na internet.

Pois bem, em homenagem a ele (vocês sabem de quem eu estou falando, né?), vamos relembrar alguns personagens que morreram e depois ressuscitaram no cinema. Algumas ressurreições foram até bem fundamentadas, outras nos fizeram desejar que o falecido continuasse morto. E em alguns casos os personagens não morreram de verdade, embora num primeiro momento COM CERTEZA parecesse que sim, eles tinham partido para melhor. Desnecessário dizer que aqui vão alguns SPOILERS, certo? Então, acompanhem-me num passeio pelo cemitério e vamos escavar alguns caixões.


Gandalf (Trilogia O Senhor dos Anéis)

O mago cinzento vivido por Ian McKellen conquistou o público no primeiro filme da trilogia, A Sociedade do Anel (2001), e até rendeu uma indicação para o Oscar ao seu intérprete (merecida). Por isso mesmo, foi um choque vê-lo cair no abismo ao lutar contra o Balrog – sua fala “Fujam, seus tolos” virou clássica, quando eu me for quero dizer isso também. No entanto, no filme seguinte, As Duas Torres (2002), ele voltou, repaginado, com uma manicure bem feita e um manto branco impecável. E mais poderoso. Voltar da morte fez bem a Gandalf.

Michael Myers (Halloween H20: Vinte Anos Depois/Ressurreição)

Não queria colocar um vilão de filme de terror nessa lista porque é óbvio que eles vão ressuscitar, não é mesmo? Mas esse caso é especial, por representar um grande insulto para com o público. No final de Vinte Anos Depois (1998), que trouxe de volta a estrela do Halloween original, Jamie Lee Curtis, para um último duelo contra Michael, seu irmão, ela decapitou (repito: DECAPITOU) o vilão. Tudo bem! Aplausos! Uhu! Seria um fim adequado para a franquia. Mas aí aconteceu algo meio inesperado: o filme fez sucesso além das expectativas e, claro, os produtores fizeram mais um, o pior de todos, intitulado (preparem-se) Ressurreição (2002). No começo do filme, lá está o Michael Myers de novo, com a cabeça no lugar, matando a personagem de Curtis. E a explicação que eles arranjaram – quem morreu no anterior com a máscara de Michael foi outro cara, um paramédico! – é uma das mais estúpidas da história dos filmes de terror, e olha que concorrência não falta.


Juan Ramirez (Highlander/Highlander 2: A Ressurreição)

Sean Connery arrasa como Juan Sanchez Villa Lobos Ramirez, o mestre do guerreiro imortal Connor McLeod na cultuada fantasia Highlander (1986). Ele é tão bom, e tem química tão legal com o astro Christopher Lambert que o espectador nem se importa com o fato dele ser o espanhol (opa, egípcio) mais escocês de todos os tempos. Mas, aviso de spoiler, Ramirez morre. Lambert praticamente exigiu que o personagem voltasse na sequência, Highlander 2: A Ressurreição (1991), por isso lá está Connery de novo, mesmo que seu retorno não faça nenhum sentido. Considerando-se que o segundo Highlander é uma das piores e mais infames sequências já feitas, a presença de Connery é até o menor dos seus problemas.


Agente Coulson (Universo Marvel)

Por toda a Fase 1 dos filmes Marvel, o agente Phil Coulson (Clark Gregg) foi uma figura simpática e carismática, às vezes até ocupando o nosso lugar, reagindo como nós reagiríamos ao encontrar aqueles seres superpoderosos. Mas a alegria dele durou pouco: Em Os Vingadores (2012), ele é morto por Loki (Tom Hiddleston). Sua morte serve para unir os heróis no terceiro ato, mas, um ano depois, lá estava Coulson de volta, comandando a série de TV Marvel’s Agents of SHIELD – essa ressurreição migrou da tela grande para a pequena, e Coulson está lá desde então. Pareceu uma brincadeira de mau gosto com o público, mas a série se mantém, então, acho que todos superaram esse incidente.


Letty (Franquia Velozes e Furiosos)

A personagem durona vivida por Michelle Rodriguez na franquia de ação morreu no quarto filme, de 2009… Certo? Bem, ela foi até enterrada! Mas… Não. É um caso igual ao do agente Coulson, fomos enganados. O sexto filme, de 2013, teve como um dos pontos centrais da trama o reencontro de Dom (Vin Diesel), Brian (Paul Walker) e o resto da gangue com Letty, agora do lado de uma quadrilha “do mal” e sofrendo de amnésia (não perguntem). Ah, relaxem. Os filmes Velozes e Furiosos já mostraram coisas mais absurdas que isso.


Ellen Ripley (Franquia Alien)

A maior heroína da ficção-científica, a tenente Ellen Ripley vivida pela icônica Sigourney Weaver morreu ao final de Alien 3 (1992), sacrificando-se pela humanidade para impedir que a terrível Companhia tivesse acesso a outro monstro alienígena. Na teoria, tudo bem, só que na prática ninguém gostou desse final, ou do terceiro longa da franquia – hoje ele tem seus defensores.  Por causa da insatisfação, resolveram tentar de novo. O quarto capítulo, Alien: A Ressurreição (1997), traz Ripley de volta (mais ou menos) pelo milagre da clonagem e a coloca para lutar contra os terríveis alienígenas mais uma vez. Ninguém gostou muito de A Ressurreição também – embora eu o considere até um pouco melhor que o anterior, como já defendi aqui na coluna Advogado de Defesa. Mesmo assim, a volta de Ripley é provavelmente a mais famosa da história do cinema.


Gage Creed (Cemitério Maldito)

Baseado (em minha opinião) no mais assustador livro de Stephen King, o filme Cemitério Maldito (1989) é centrado na maldição que recai sobre aqueles que são sepultados no terreno indígena capaz de trazer os mortos de volta. Louis (Dale Midkiff), o pai da família Creed, se vê na posição de poder trazer de volta o filho morto, o pequeno Gage (Miko Hughes). Mas aprende que “às vezes, a morte é melhor”. Uma história sobre luto e, embora não provoque tanto impacto quanto o livro, resultou num filme ainda cultuado hoje em dia.


Professor Charles Xavier (Franquia X-Men)

O criticado X-Men: O Confronto Final (2006) pode ter seus problemas, mas ninguém pode acusá-lo de ser covarde. O filme tem a ousadia de matar personagens importantes e de realmente parecer um encerramento. No meio da trama, o professor Xavier (Patrick Stewart) é desintegrado pela Fênix (Famke Janssen), e os heróis ficam sem rumo. A cena pós-créditos sugere que Xavier conseguiu transferir sua inteligência para outro corpo… O que ninguém explica direito é como, em Dias de um Futuro Esquecido (2014), esse novo corpo está igual ao velho corpo de Stewart. Um exemplo de “aceita que dói menos” da parte dos roteiristas.


Eric Draven (O Corvo)

Essa ressurreição adquiriu tons sombrios na vida real porque o ator Brandon Lee, que interpretou o roqueiro Eric Draven, revivido para vingar a sua morte e da sua namorada, morreu num bizarro acidente durante a filmagem. É muito difícil descolar totalmente a morte de Lee da experiência de se ver o filme, mas o estiloso e sombrio thriller de Alex Proyas permanece uma ótima adaptação de quadrinhos, numa época em que elas eram raras.

Sr. Spock (Franquia Jornada nas Estrelas)

Uma das mais famosas ressurreições aconteceu na franquia Jornada nas Estrelas. No segundo filme, o clássico A Ira de Khan (1982), o Sr. Spock (Leonard Nimoy) se sacrifica para salvar a nave Enterprise do conflito contra o vilão Khan (Ricardo Montalban). Mas, alguns minutos antes, Spock sussurra algo para o seu amigo Dr. McCoy (DeForest Kelley), aplica-lhe um toque mental e pronto: surge uma chance de vida. No filme seguinte, À Procura de Spock (1984), é a vez da tripulação da Enterprise se sacrificar, especialmente o Almirante Kirk (William Shatner) para ter de volta o amigo. Claro, aquela morte foi provocada pela vontade de Nimoy de largar o papel de Spock, e no terceiro longa há algumas conveniências de roteiro para fazer tudo funcionar. Mesmo assim, aquela cena final, com Spock reencontrando seus companheiros que passaram pelo inferno para salvá-lo, e reconhecendo seu amigo Kirk –“Seu nome é Jim, não é?”… Poxa, se essa cena não emociona você, então você é um Vulcano de sangue verde sem coração.


Menções honrosas:

O ET: Por algum tempo, ele morre, mas a plantinha volta a florescer e uma legião de espectadores volta à infância e chora.

Harry Potter: Como o ET, ele morre por alguns minutos em As Relíquias da Morte Parte 2 (2011). Mas depois retorna para o embate contra Voldemort, porque herói não tem moleza.

A Laura do famoso filme noir de 1944 de Otto Preminger: A vítima de assassinato mais famosa do cinema noir, a personagem de Gene Tierney reaparece no meio do filme. Ela morreu de verdade? Ela voltou de verdade? Até hoje cinéfilos debatem.